Por João Geraldo

Quando se fala da frota brasileira de caminhões em atividade, os números se divergem. Vão de um milhão e duzentos mil a mais de um milhão e seiscentos mil, unidades. Qualquer que seja o número, o resultado é o grande contigente de veículos de carga para consumir pneus, sem contar as mais de 60 mil unidades produzidas anualmente no País, mais o crescente volume de implementos rodoviários despejados todo ano no mercado de transporte rodoviário de cargas.

Mesmo com cinco principais fabricantes instalados no mercado brasileiro, não existe folga na produção para atender tantos veículos novos e usados. “A atual produção de pneus de carga não consegue atender a demanda, principalmente de equipamento original de caminhões. Prova disso é o investimento no aumento da capacidade produtiva e a construção da fábrica na Bahia pela Continental Pneus”, diz Jair Delgato, supervisor técnico de vendas da empresa. A Pirelli, por exemplo, também está investindo na ampliação de sua unidade em Gravatai/RS.

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Maria Luiza Carvalho, gerente de marketing de pneus de carga para o Brasil da Michelin, lembra que o mercado de transportes está evoluindo nos processos de gestão e na tecnologia utilizada e o aquecimento da demanda tem obrigado os fabricantes do setor a investirem na capacidade produtiva, o que dentro de algum tempo normalizará o setor e limitará o lançamento de novas marcas.

Os motoristas de caminhão e os transportadores encaram o pneu como um alto custo do negócio de transporte. Por conta disso procuram obter o maior rendimento possível da carcaça. ” Em média, o pneu é o quinto item de custo de uma frota e chega a rodar cerca de 250 mil quilômetros com três reformas”, explica Antônio Subires, gerente de marketing da Goodyear.

Na sua opinião, o pneu tem preço justo pelo que oferece ao transportador e quanto ao rendimento pode variar conforme situação do terreno por onde roda. “As condições de nossas rodovias deixam a desejar em relação à qualidade dos produtos. Hoje existem trechos de estrada muito precários – como nos Estado do Mato Grosso, onde existem apenas pedacinhos de asfalto – e os carreteiros preferem trafegar fora da pista porque encontram melhores condições”, avalia.

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Fabricamos produtos de alta qualidade para atingirem grandes quilometragens, mas quando perdemos um pneu por causa de um buraco na estrada, todos estamos perdendo: fabricante, clientes e sociedade. Por isso o estado precário das rodovias brasileiras é uma preocupação pelo desgaste que causa aos pneus”, explica Maria Luiza. Ainda de acordo com ela, o preço de um pneu não deve ser analisado apenas pela questão pecuniária e sim pelo melhor rendimento quilométrico, o famoso custo x benefício.

Ernani Santos, gerente de produto da unidade de negócios Truck América Latina, da Pirelli, concorda sobre as condições precárias das estradas e acrescenta que a falta de infra-estrutura da malha rodoviária é o principal problema vivido hoje pelos fabricantes de pneus. “Segundo dados da NTC, Associação Nacional dos Transportes, apenas 10% das estradas são asfaltadas e grande parte delas está em condições ruins, sendo que uma fatia considerável está em péssima situação”, diz.

Para Raul Viana, diretor de assuntos corporativos da Bridgestone Firestone do Brasil, se for levado em conta o tempo, a vida útil e a performance oferecida pelos pneus atuais, pode se dizer que os preços são adequados ao produto, porque a evolução do setor automotivo brasileiro demandou também no desenvolvimento de novas tecnologias para a construção de pneus. “Vale dizer que as montadoras começaram a desenhar veículos para usar pneus radiais com muito mais tecnologia do que os pneus convencionais até então utilizados”, acrescenta.

Ernani Santos lembra que a evolução dos caminhões trouxe maior velocidade final, embora o limite seja abaixo de 100 km/hora. Diante destas modificações os pneus sofreram modificações técnicas para se tornarem mais seguros. “Os pneus evoluíram junto com os caminhões e a Pirelli é a principal parceira das montadoras nos novos desenvolvimentos e na busca de soluções que privilegiem a segurança dos usuários. A parceria entre o fabricante de pneu e a montadora é a garantia da alta performance que o produto terá no mercado”, diz.

O mercado de pneus evoluiu para o uso de radiais, principalmente como equipamento original nos caminhões novos. Atualmente, quase 100% dos pneus em uso são radiais, os quais possuem códigos de velocidade superiores aos dos antigos pneus diagonais. “Podem ser utilizados a 120km/hora ou, em alguns casos, a 130km/hora”, conclui Santos.

Jair Delgato lembra que o constante aumento nos preços de matérias primas, como o da borracha (natural e sintética) é outro grande problema vivido hoje pelos fabricantes do setor, além da maior oferta de produtos, a qual gera maior competitividade. Ele cita ainda que a evolução levou a empresa a lançar pneus com medidas modernas no Brasil, caso do pneu 315/70R22.5M (o M significa 130 km/hora). Trata-se de um produto com perfil mais baixo para caminhões com velocidades médias altas, percursos longos e de maior carga.

Viana diz que embora haja caminhões rodando com pneus diagonais, os ganhos em estabilidade, capacidade de frenagem e durabilidade (recapabilidade) proporcionados pelos radiais são expressivos. “Para dar uma idéia, um de nossos produtos, o Bridgestone R227, utilizado pelos caminhões da Fórmula Truck, atinge velocidade superior a 200 km/hora em situações extremas”, destaca. ” Apesar de os dados gravados nas laterais dos pneus serem definidos por entidades nacionais e internacionais que buscam padronizar e facilitar as informações, cabe ao usuário consultar cuidadosamente as informações fornecidas pelas montadoras”, conclui.

Ernani, da Pirelli, acredita que há carência de informações por parte dos usuários. Ele lembra que a empresa sinaliza na lateral de todos os pneus produzidos a velocidade máxima recomendável e a capacidade de carga que suportam. “Em cada folheto, catálogo ou mesmo nas visitas técnicas e palestras realizadas, nós salientamos a importância da verificação destas indicações nos pneus antes de realizar a compra”, conta.

Subires, da Goodyear aposta na melhoria das rodovias para ser ter uma maior longevidade dos pneus. Para ele, desta forma estaríamos também levando o desenvolvimento a outros centros com maior rapidez. E estes, por sua vez, teriam suas estradas melhoradas. Na verdade não haveria uma redução no consumo de pneus e sim uma redução nos custos operacionais do transportador, não só para os pneus mas para todo o desgaste do veículo. “Se o motorista faz uma viagem de Sinop/MT Paranaguá/PR em 16 horas, ele poderia fazer em 11 horas se as estradas fossem boas. Com isso ele faria um maior número de viagens”, exemplifica.

Seria importante para os carreteiros que eles acompanhassem seus custos na ponta do lápis para terem a oportunidade de verificar os benefícios dos pneus de maior durabilidade e resistência”, conclui Maria Luiza, da Michelin.

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Como Obter Melhor Desempenho

Acompanhar a quilometragem do pneu desde a 1ª vida (quando é instalado no caminhão)

Fazer rodízios, verificar alinhamento e balanceamento. A maior freqüência de danos se deve a falhas mecânicas dos veículos. É importante fazer o serviço com profissionais qualificados

Realizar ressulcagem com especialistas. Um pneu pode ganhar até 20% em quilometragem na 1ª vida com a ressulcagem. Porém, poucos fazem por medo. Mas nem todos os pneus podem ser ressulcados em função da utilização.

Fazer recapagem com profissionais habilitados.