Por Daniela Giopato
Nem mesmo a lista de dificuldades que envolvem a profissão encabeçada por estradas mal conservadas, falta de segurança, pedágio, diesel caro, manutenção, dias longe de casa e pesada carga horária, é suficiente para desanimar os jovens que lutam para se tornarem carreteiros. Trata-se do desejo de realizar um sonho que pode ter começado na infância com o pai, o tio, ou simplesmente a paixão pelo caminhão. O grande desafio dos aspirantes a estradeiro é conseguir o primeiro emprego, que hoje, segundo os que já conseguiram uma oportunidade, depende muito mais de uma indicação do que saber dirigir.
Leandro Bassanello, 26 anos, Guaratingueta/SP, conhece bem as barreiras na hora de conseguir uma oportunidade. “Deixei o serviço militar da Aeronáutica após quatro anos onde exerci atividade de motorista e fiquei desempregado durante quase dois anos”, lembra. O motivo era a falta de experiência registrada na carteira profissional. Leandro conta que investiu muito em cursos ligados ao setor de transportes, tais como MOPPE, Instrutor Teórico de Trânsito pelo Detran/SP, INDAX entre outros, e mesmo assim não conseguia nada, pois faltava o tal do registro. Seu primeiro emprego, garante, surgiu após falar pessoalmente com o jornalista e apresentador Pedro Trucão. “Ele disse que a Golden Cargo estava contratando motoristas, resolvi tentar e hoje, graças a Deus, estou empregado”, comemora.
As empresas de transporte, segundo Leandro, deveriam aproveitar os novos motoristas, que estão sem vícios, e treiná-los para que sejam profissionais responsáveis e assim as estradas ganhariam mais segurança. “Têm empresas que colocam em seus sites na internet que dão treinamentos e investem em novos profissionais. Mas, durante o período que fiquei parado percebi que isso não passa de uma mentira para iludir os novatos. Por isso que agradeço aos que estão me dando uma chance, está sendo muito bom para mim”.
Diferente do colega, Márcio Vinícius de Azevedo, 25 anos, de Caratinga/ SP, entrou sem querer na profissão. Com menos de um mês de estrada, o jovem subiu em um caminhão para ajudar um tio que havia sofrido acidente e ficou impossibilitado de dirigir. “Eu tive sorte, pois se fosse para fazer tudo sozinho, sem conhecer ninguém, com certeza ia ser muito difícil, porque hoje todas as empresas exigem experiência”, comenta. Márcio Vinicius destaca ainda ter percebido que é melhor iniciar como empregado e ter muito juízo, pois a profissão de motorista de caminhão não é fácil. “Exige atenção, cuidado, responsabilidade”, conclui.
O sonho de ser carreteiro do gaúcho de Gravataí, Marcos Possamai, 26 anos, falou mais alto que as dificuldades de começar e hoje ele comemora cinco anos de estrada. “Meu pai é motorista e não me incentivou a ser carreteiro, mas estava no sangue”, resumiu. Ele se considera uma pessoa de sorte por ter começado como autônomo graças à ajuda de parentes, porque também vê como grande problema conseguir o primeiro emprego, já que todos querem que se comprove experiência.
Marcos chama atenção que é importante os jovens se informarem sobre a profissão, se inteirar, fazer contato, para poder ter uma chance. “Tenho um colega que saiu de uma empresa e investiu todo o dinheiro da indenização no caminhão, mas não conhecia nada e perdeu tudo, porque não é tão simples como muita gente pensa”, aconselha.
Há apenas um ano na estrada, Fabrício Soares de Carvalho, 26 anos, já conhece a realidade da profissão. Trabalhava na área portuária e começou a viajar com o irmão e conseguiu vaga em uma empresa através de contatos. “Mesmo sendo empregado já deu para perceber que trabalhar com caminhão dá muita despesa, além da falta de segurança”, diz. Mesmo assim, Fabrício pensa em ter o seu próprio caminhão, mas por enquanto está na fase de juntar dinheiro. Como outros, ele sabe que muitos jovens sonham ser carreteiros, mesmo sabendo das dificuldades da profissão. “É difícil, as empresas dão cada vez menos oportunidades. O jeito é não desistir e correr atrás do que se quer”, opina.
Na opinião de Ivan Santos de Oliveira, 29 anos, de Osório, o maior problema para quem está começando é o tempo de carteira, inexistente, exigido pelas transportadoras. “Como o jovem vai conseguir experiência se ninguém abre as portas? As empresas exigem demais. Por isso, o ideal é ser indicado por algum colega”, dispara. Ele diz que começou com seu pai e um tio e o emprego foi conseguido através de contatos. Apesar de 10 anos de estrada Ivan tem apenas cinco registrados em carteira e comenta que hoje não se encontra muitos jovens autônomos, porque a maioria trabalha como empregado. “Quem, com 18 ou 19 anos tem dinheiro para comprar um caminhão? O jeito é batalhar por uma vaga em uma empresa”, conclui.
Mateus Rodrigues Atanazio, 25 anos e um ano e meio na profissão começou com o pai da namorada, que é autônomo e a oportunidade em uma empresa veio através de contatos de alguns colegas. “Sem indicação é quase impossível começar na profissão. O motorista pode ser o melhor do mundo e ter um ótimo currículo, mas basta alguém levar um conhecido, que pode nem ser tão bom assim, e pronto, o camarada perde a vaga. Posso dizer que 90% são por indicação”, opina.
Seus planos para o futuro incluem mudar a categoria da CNH, manter sempre o nome limpo, trabalhar para juntar dinheiro e comprar o próprio caminhão. “O profissional que quer dar certo tem de se atualizar, fazer cursos, pois o motorista precisa estar preparado para encarar todas as dificuldades e diferenças que encontra pelo País”, conclui.