Por Evilazio Oliveira
Em época de incertezas na área econômica e de previsões sombrias para o transporte rodoviário de cargas – em razão dos altos custos dos combustíveis, pedágios e demais insumos, além da acentuada redução no volume de cargas – pensar em comprar ou trocar de caminhão neste momento pode parecer uma insanidade. Isso porque os juros são altos, dificuldades para a aprovação de cadastro, além dos altos valores das mensalidades no caso da operação de compra do bruto se concretizar.
Com isso, o mercado de caminhões usados tenta reagir valorizando o seminovo, enquanto os caminhões mais antigos, aos poucos, parecem estar destinados ao ferro-velho. Ou vão rodar enquanto for possível, em tiros curtos ou em pequenos trechos no transporte da safra das lavouras para os silos.
Em Uruguaiana/RS, Natal Elias Posser, 59 anos e 23 anos na atividade de vendedor de caminhões e implementos rodoviários, salienta que hoje é praticamente inviável para o autônomo a compra de um caminhão novo ou mesmo a troca por um modelo mais atualizado. Lembra que além das dificuldades enfrentadas pelo profissional para a aprovação do cadastro de financiamento, as taxas de juros estão muito altas. Somadas à defasagem dos valores dos fretes e a alta dos combustíveis, o custo final fica bem acima das possibilidades da maioria dos estradeiros. “As prestações ficam altas e com as despesas crescentes e os valores dos fretes em baixa, ninguém é louco de se arriscar, pelo menos neste momento”, explica. Posser lembra que como vendedor de caminhões usados ele deveria ser mais otimista, mas vê o futuro com pessimismo, “a não ser que houvesse um programa sério para renovação de frotas que beneficiasse os autônomos e pequenos transportadores de forma uniforme”. Quanto aos caminhões mais velhos, acredita que vão rodar enquanto tiverem condições.
Haroldo Francisco Ferreira Dubois Jr, natural de São Gabriel/RS, tem 39 anos de idade e 12 de experiência na venda de veículos novos e usados. Segundo ele, o mercado de usados tem inchado em decorrência da renovação da frota por parte das grandes empresas, até alguns anos atrás, quando as taxas de financiamento ainda eram relativamente baixas. Mesmo assim, essas empresas continuariam adquirindo caminhões novos através de leasing ou negociações diretas com concessionárias, com a obtenção de algumas vantagens. Enquanto isso, caminhões usados ou seminovos, embora tenham obtido uma relativa valorização nos preços em razão das dificuldades do autônomo em comprar um veículos novo, também enfrentam dificuldades para serem negociados por falta de financiamento, taxas de juros altas e fretes baixos. A alternativa, segundo ele, é a utilização desses caminhões na lavoura, pois dificilmente serão aceitos pelas transportadores de grande porte para fazer viagens longas.
O diretor do Grupo Brasdiesel S.A., de Caxias do Sul/RS, Itamar Zanette, 52 anos de idade, lembra que com a redução de aproximadamente 30% no volume de vendas de caminhões no ano passado, e que ainda prossegue em 2015, houve uma compensação com o pós-venda, buscando o cliente para fazer as manutenções necessárias, mantendo a mecânica do caminhão sempre em dia. Esse tipo de serviço garantiu um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Segundo Zanette, a concessionária mantém o conceito de ter os caminhões usados sempre revisados e prontos para rodar, além de trabalhar com cartas de crédito de consórcio para quem optar pela compra de um usado. Salienta, que apesar da retração do mercado, o consórcio garante a entrega de 20 caminhões por mês. Destaca, também, a fidelidade da clientela, resultando sempre em negociações favoráveis para os dois lados.
Para o autônomo Ari Argenta, 57 anos de idade e 35 de profissão, natural de Flores da Cunha/RS, mesmo com redução de 50% no volume de cargas, ocorrida a partir de 2014, e das taxas de juros, ainda é possível negociar e trocar o caminhão por um modelo mais novo. Ele é proprietário de caminhões cegonhas – não diz quantos tem – e no final do ano passado tentou trocar dois deles por modelos novos, mas a concessionária não aceitou incluir o caminhão usado na compra de um novo, embora fosse da mesma marca representada pela revenda. Na segunda tentativa, teve mais sorte e conseguiu que o seu modelo 2007, com 950 mil quilômetros rodados, fosse aceito na negociação. O restante foi financiado pelo Finame, com taxa de 6%, que ele considerou adequada para a época.
O carreteiro Jones Tur, natural de Santo Ângelo/RS, tem 28 anos de idade e sete anos de estrada. Depois de trabalhar algum tempo como empregado, vendeu um caminhão herdado do pai, utilizou o valor para dar entrada num modelo 2004 com carreta sider. Mesmo assim, não foi fácil conseguir financiamento. Lembra que na condição de empregado nunca iria conseguir que o seu cadastro fosse aprovado pelas instituições financeiras. Por isso, recorreu a um financiamento como pessoa física e botando os bens da família como garantia do negócio. Hoje ele faz a rota São Paulo/SP e Santiago do Chile e, por enquanto, paga mensalidades de R$ 2.970,00 com relativa facilidade, apesar da drástica redução no volume de cargas e do aumento de todas as despesas, a começar pelo óleo diesel. Salienta que a aprovação do cadastro para o financiamento do caminhão e das altas taxas de juros, “são acessível somente para as grandes empresas”. Para quem é empregado ou autônomo, tudo é muito difícil, finaliza.