Genésio desconhecia a região, mas não podia perder um frete tão bom como aquele, pois poderia pagar boa parte da dívida de seu caminhão. Ia rodar cerca de sete mil quilômetros, por isso seu velho truck passou por uma revisão completa. A carga era um conjunto de mobília antiga, herdada pelo empresário que encomendou o frete. Mas, antes de pegar a estrada, teria de passar na empresa, pois o contratante queria conhecê-lo e lhe fazer algumas recomendações.

Logo cedo Genésio estacionou o seu baú em frente a empresa e após receber a chave da casa e as instruções ficou ciente do tamanho de sua responsabilidade, principalmente porque percebeu que seu caminhão não transmitiu confiança ao homem, diga-se de passagem, um bocado estranho. Também não sabia ao certo qual seria a carga. Rodou por três dias seguidos e chegou ao endereço, uma casa antiga, com paredes espessas como um castelo.

O local era um vilarejo que se formou a partir da sede de uma fazenda com mais de 300 anos de fundação e ao entrar na casa sentiu um calafrio correr pelo corpo. Os sinais de que ninguém pisava ali há anos eram marcantes, assim como o silêncio sepulcral em seu interior . Carregou e iniciou a viagem de volta.

Tudo seguia bem, até que um pneu furado interrompeu a viagem em um local deserto. O último posto havia ficado para trás a cerca de duas horas. Enquanto fazia a troca, Genésio só pensava em sair logo dali, principalmente porque um único carrão preto do final dos anos 60, tinha passado enquanto ele fazia a troca dos pneus. Tratou de terminar logo o serviço e partiu.

Começou a andar mais rápido, em certos trechos chegava a abusar da velocidade e o pior aconteceu: saiu da estrada em uma curva, passou por uma cerca e foi parar no meio da pastagem. Por sorte foi apenas o susto e alguns danos na pintura da cabine provocados pelo arame farpado da cerca. Retornou à estrada e seguiu viagem, agora com o pé mais leve, porém assustado. Havia algo no ar.

Logo à frente um cavalo levou Genésio a uma manobra que o tirou da pista, caiu em um buraco e quase tombou o caminhão. Graças à sua habilidade conseguiu controlar o bruto e prosseguir viagem. Porém, o incidente quebrou uma lâmina do feixe de molas e tirou o eixo traseiro do lugar. Uma roda dianteira amassada por uma pedra também era uma ameaça e só lhe restava a fé em São Cristóvão para terminar bem aquela estranha viagem.

Sete dias depois de ter enfrentado mil e uma dificuldades com o caminhão quebrado, estradas interrompidas em razão de queda de barreiras e problemas com a polícia rodoviária, além de outros empecilhos, Genésio já estava próximo para entregar a carga. Num cruzamento, o farol estava verde para ele quando uma velhinha ao volante de um carrão preto, antigo, cruzou em sua frente. Ele subiu no freio, mas a batida foi inevitável e empurrou o automóvel e o prensou contra o muro.

Testemunhas diziam que o carro cruzara a via no farol vermelho, mas a situação piorou quando descobriram que não havia ninguém no interior do veículo. Depois de algumas horas, Genésio foi liberado pelos policiais, porém, com o compromisso de comparecer posteriormente na DP para prestar depoimento sobre o caso.

Quando chegou ao seu destino, o estranho empresário veio recebê-lo e quis logo ver a carga. Estava intacta. O homem se virou para Genésio e lhe disse. “Vou pagar o dobro pelo frete, você merece”. Com o dinheiro que recebeu, Genésio pôde dar entrada em um novo caminhão, porém, um mês depois, ficou sabendo, na DP, que o tal automóvel tinha placa da cidade onde ele foi buscar os móveis. O endereço também era o mesmo. E mais, a mulher cujo nome o veículo estava registrado havia morrido há mais de 10 anos.

Mais tarde descobriu também que ela era mãe do homem que contratou o frete. Os móveis eram da bisavó dela e nunca tinham saído daquela casa. E para concluir o empresário lhe disse: “Dê-se por feliz e satisfeito, porque outros carreteiros que contratei para buscar esta carga não tinham, sequer, conseguido carregar o caminhão, pois quando abriam a casa não havia nada dentro”. Genésio agradeceu e nunca mais acertou outro frete sem saber o que iria transportar em seu caminhão.