Desde o primeiro dia que o posto da polícia rodoviária começou a operar naquele ponto da estrada a mesma cena se repetia uma vez a cada semana. Com o passar dos anos tornou-se um hábito entre os patrulheiros de plantão aguardar a chegada do caminhão japonês por que sabiam que levariam alguma fruta para casa. Banana e laranja, e maçã faziam a alegria dos botina-preta (como se diz no px) todas as vezes que o japonês parava seu Chevrolet Brasil em frente à guarita. Afinal, não havia mal nenhum em aceitar as frutas, principalmente porque não estavam fazendo nenhuma concessão em troca dos agrados.

Conforme a época do ano, o lote de frutas era mais generoso. Apareciam caixas de uva, caqui, manga e Kiuwi. Certa a vez um policial chegou a fazer uma encomenda, pois sua esposa, grávida, estava louca de vontade de comer jaca. Foi só comentar o assunto com seu Tanaka e na semana seguinte lá estava ele todo sorridente e cortês entregando a fruta para o futuro papai.

– Muito obrigado, o japonês, vou dizer que foi um presente do senhor.
– Precisa não, japonês gosta de ajudar pessoas. Também frutinhas a mais ou a menos não faz diferença pra japonês.

Tomara que sua esposa goste, assim seu filho não terá cara de jaca”, arriscou uma brincadeira o japa, já se desculpando dizendo que também tem uma filha, Andrea que, por coincidência, gosta muito de jaca.

– Todos os policiais gostavam muito do Japonês e o comentário quando ele ia embora, após a distribuição de frutas era o assunto da semana: puxa vida, este japonês é mesmo legal.

Porém, sempre alguém retrucava.
– Legal nada, esse japa compra estas frutas por um preço baixo nos produtores da região. É como ele sempre diz, uma frutinha a mais ou a menos não vai fazer diferença pra ele.

Com o passar do tempo, o Japa já era conhecido até em postos da polícia rodoviária de outras rodovias próximas, que para azar dos patrulheiros não era rota do japonês. Tinha policial querendo trocar plantão e até de local de trabalho, só para ficar no caminho do japonês.

Um belo dia, quando todos aguardavam sua chegada, como de costume, o japonês e seu velho Chevrolet não apareceram.
Surpresa geral. E para complicar, ninguém tinha visto o tal caminhão passar por ali naquela manhã. Como nada se sabia a seu respeito, o remédio era esperar até ele aparecer. Passaram- se alguns dias e nada do japones e as frutas.

Deve ter morrido, da última vez que ele esteve aqui parecia não estar bem, gorou um policial. Que nada, ele deve estar apenas doente. Quem sabe bateu ou capotou o caminhão. Logo ele aparece, vocês vão ver. Passaram-se dois meses sem ver o japones e seus presentes. Tinha até patrulheiro triste, mas a bem da verdade não pelas frutas, mas porque aquele homem sempre pareceu ser uma pessoa de bom coração e agora, vai saber se não estava com dificuldades. Talvez até precisasse de ajuda.

De repente, um patrulheiro novato entrou no posto e disse.
Acabou de passar um caminhão e o motorista era um japonês.

Ele quase parou, mas olhou e seguiu viagem.
– Pegue a viatura e vamos tentar alcançá-lo, pode ser o Tanaka. Alguns minutos depois lá estavam eles diante do japonês e seu caminhão novo. Uma verdadeira máquina.
– O que aconteceu seu senhor? Caminhão novo hein? Ficou rico, se esqueceu dos pobres e não parou mais lá no posto, brincou o policial.
– Esqueci não, é que agora japonês já tirou carteira de motorista.