Por Evilazio de Oliveira
A redução das taxas de juros e programas especiais de financiamento para a compra ou troca de caminhões novos ou usados tem criado uma nova opção para o carreteiro autônomo, sobretudo no valor da prestação do financiamento. Ao fazer as contas, quase sempre é muito mais vantajoso e fácil de pagar a prestação do caminhão zero do que a prestação de um usado. No caminhão novo, além das vantagens da garantia, revisões, potência e conforto, há também a maior facilidade em agregar a uma transportadora, por exemplo. E, ao final do mês, saber o valor exato da mensalidade a ser paga. No caso de um caminhão usado, sempre há a possibilidade de imprevistos mecânicos, com despesas de oficina, reposição de peças e o prejuízo pelo tempo parado, sem rodar e, portanto sem faturar. Além das preocupações na avaliação do usado que vai entrar no negócio, nas exigências cadastrais para o financiamento, o carreteiro agora também precisa examinar se, efetivamente, a troca por outro usado será um bom negócio.
Itamar Zanetti, 50 anos e há 26 no setor de transportes, é diretor da Brasdiesel S.A., de Caxias do Sul/RS – a mais antiga concessionária Scania do País e com abrangência em 225 municípios gaúchos -, afirma que não tem condições de medir o grau de inadimplência dos compradores de caminhões novos ou usados, pois são informações que ficam com os bancos financiadores. Apenas “por ouvir dizer” estima que esse índice seja “muito baixo”, embora não arrisque a citar um número. Segundo ele, a Brasdiesel é uma empresa tradicional e com clientes fidelizados, o que garante uma boa negociação. Além disso, tudo depende de como é feito o cadastro para o financiamento, e que, no final, deverá resultar um bom negócio para ambos os lados. Destaca que atualmente existem muitas facilidades de financiamentos para caminhões novos e usados com até 10 anos, através do Procaminhoneiro ou do Finame, ou mesmo do consórcio. Segundo ele, tudo depende do que o cliente deseja para serem estudadas as melhores possibilidades de negócio.
Depois de ter trabalhado muitos anos como frentista em posto de serviço, onde se apaixonou por caminhões, Daniel Ceconi decidiu que queria ser estradeiro. Aprendeu a dirigir veículos pesados, tirou carteira e não conseguiu emprego por falta de experiência. Apostou alto e comprou financiado um caminhão ano 89, mas não deu certo, quebrou e voltou a trabalhar como frentista. Novas tentativas até que hoje, aos 34 anos de idade – e há cerca de 10 no trecho – assume um novo desafio comprando um pesado ano 2000. Deu um modelo 93 de entrada no negócio e assumiu 48 prestações de R$ 2.600,00. Por enquanto utiliza a carreta do caminhão antigo, mas já pensa em comprar um equipamento novo. Também tem planos de adquirir um rastreador moderno, item exigido por muitas empresas. Garante que o caminhão que acabara de comprar está muito bom e tem viajado para Estados do Norte e Nordeste. Já aconteceu de ficar 50 dias longe de casa, “com uma saudade danada da mulher e dos três filhos, de 12 e três anos e um bebê com apenas oito meses”. Acredita que é preciso trabalhar duro para garantir o sustento da família e também o pagamento das prestações do caminhão em dia. “Desta vez vai dar certo”, promete.
O carreteiro Ercildo José Cusin, 62 anos de idade e 42 de profissão, natural de Bento Gonçalves/RS é dono de caminhão 2010, baú, “em sociedade com o Banco”, conforme afirma sorrindo. Ele deu um modelo 99 no negócio e financiou o restante em 60 parcelas no valor aproximado de R$ 5,5 mil. Reconhece que não é fácil pagar as mensalidades, sendo preciso trabalhar muito e economizar de todas as maneiras. Viaja da região da Serra Gaúcha para o Nordeste transportando móveis e sabe que precisa sempre manter o seu equipamento atualizado, a começar pelo rastreador e do seguro total, obrigatório por causa do financiamento. O caminhão antigo que ele deu no negócio foi comprado em consórcio e pago com relativa facilidade. Agora ele se encontra apreensivo com a possibilidade de redução do horário de trabalho, por determinação da Lei 12.619, que regulamenta o horário de direção do motorista. Não sabe o que vai acontecer, “pois trabalhando menos evidentemente vai faturar menos e não sabe como irá honrar os compromissos”. Além disso, ele se preocupa também com o chamado “frete retorno” do Nordeste, que praticamente não existe, sendo a solução pegar o que aparece para não voltar vazio. Outra questão apontada por ele são os aumentos de preço do combustível, pneus e pedágios. “Mesmo assim, vamos em frente”, garante.
A carreira de Evandro Bardelino de Vargas Maciel, 41 anos de idade e dirigindo caminhões desde os 18 anos – como autônomo no setor de transportes sofreu uma interrupção trágica em julho deste ano, com a morte do seu irmão Volnei, em Juquiá/SP, na capotagem do caminhão que dirigia. Evandro se dedicava ao transporte de pequenos volumes na área urbana de municípios da Serra gaúcha e chegou a comprar um caminhão médio, zero quilômetro, financiado e pago sem dificuldades. Foi então que – segundo conta – houve a necessidade de um veículo maior ainda para o transporte interestadual e adquiriu, por meio de financiamento, um caminhão ano 2006 para operar com cargas expressas.
O veículo levava maçãs de Vacaria/RS para São Paulo e retornava com vidros. Ele vendeu o caminhão pequeno e o irmão Volnei foi para o trecho, já que ele, com um problema de saúde num dos joelhos não podia mais dirigir. Os prejuízos do acidente foram pagos pelo seguro e as mensalidades do financiamento continuam sendo quitadas, com sacrifício. Ainda abalado com a morte do irmão, Evandro sacode a cabeça e diz que ainda não sabe o que vai fazer. Por enquanto, trabalha como vendedor numa concessionária de caminhões.
Antônio Turella, 64 anos de idade e 40 de profissão, conta que já comprou uns 10 caminhões financiados e sempre pagou com tranquilidade. Em todos os negócios procurava dar uma boa entrada em dinheiro para diminuir o valor das mensalidades. Diz que prefere não incluir o caminhão usado nas transações por causa das baixas avaliações feitas nas revendas, por isso é mais vantajoso vender para particulares os veículos usados. O último veículo financiado, um semipesado 2008 está praticamente pago e Turella já se prepara para a compra de um outro da mesma marca zero quilômetro.
Diz também que vai trocar de revenda, porque está descontente com a atual. É que – conforme conta – trafegava vazio nas proximidades de Carlos Barbosa, numa região de serra, a uns 50 km/h quando caiu a barra de direção e ele tombou para o lado do barranco. Não se machucou, mas a avaliação dos danos na lataria ficou em R$ 18.900,00 e a franquia do seguro é de R$ 5.200,00. Como todas as revisões estavam em dia, acredita que não poderia ter ocorrido esse tipo de falha mecânica. Pretendia que a revenda assumisse parte do prejuízo pelo menos, mas não houve acerto. Por isso ele garante que vai comprar seu novo caminhão noutro local, com financiamento já aprovado pelo Procaminhoneiro e que vai pagar com facilidade, “a não ser que o governo não deixe”, enfatiza.
O carreteiro Abramo Maschio, conhecido no trecho como Camelo, é natural de Antônio Prado/RS, tem 55 anos de idade e 37 de profissão. Conta que comprou cinco caminhões, todos financiados, “até apaixonar-se por um (que ele define como a nave), ano 2011 modelo 2012”. Como a revenda não aceitou o seu veículo ano 1995 no negócio, ele financiou os R$ 260 mil “no peito”. R$ 200 mil pelo Procaminhoneiro e R$ 60 mil no Banco Sicredi, que somados ao valor do seguro total, as prestações ficaram em cerca de R$ 7 mil. “Difícil de pagar”, admite. E isso que está utilizando a caçamba basculante do caminhão antigo para o transporte de grãos, areia, calcário e o que puder carregar.
Quando falou com a reportagem de O Carreteiro, Abramo não tinha conseguido vender seu caminhão usado, o qual encontrava-se parado porque sairia muito caro deixá-lo em condições de rodar, além de precisar de um motorista de confiança. “Compradores que apareceram não têm condições de pagamento à vista e financiar é complicado”, explica. Segundo ele, ainda não tinha atrasado nenhuma prestação, “mas admitiu que a situação estava piorando e precisava conseguir dinheiro emprestado para honrar os compromissos”.
Durante a conversa, Abramo destacou que se a situação na profissão continuar inalterada não vale a pena trabalhar. Em sua opinião, vai ter muita gente largando na frente dos bancos os caminhões financiados. “Mas, como a esperança é a última que morre, continuo no trecho, trabalhando duro para vencer essa fase de dificuldades”, afirmou. Enfim, a vida na estrada não é fácil, todos sabem. E para investir na compra de um caminhão zero ou a troca por um modelo mais novo também não é uma tarefa fácil, garantem os estradeiros.