Por Daniel Rela
Inaugurado em abril de 2010, o trecho Sul do Rodoanel Mário Covas, importante ligação entre as rodovias Régis Bittencourt, Imigrantes e Anchieta, na região do ABC Paulista, tornou-se rota de todos os caminhões que chegam do Interior do Estado em direção ao Litoral Sul paulista e também daqueles que seguem do Porto de Santos para diferentes regiões do Estado. Com 61,4 km de extensão, o Rodoanel Sul recebe cerca de 22 mil caminhões por dia e desafogou o trânsito de avenidas importantes da cidade de São Paulo, porém já convive com problemas ligados à segurança. Essa “rota alternativa” é praticamente obrigatória por lei e também pela economia de tempo, no entanto, os carreteiros reclamam da insegurança e da inexistência de postos de serviços.
É o caso de Reinaldo Cordeiro, que transporta produtos químicos do Sul ao Centro-Oeste do País. Ele comenta que o trecho é idêntico ao de outros rodoanéis existentes no País, inclusive nos problemas. “O trânsito melhorou e o tempo de viagem está menor, mas não existe segurança durante a madrugada, e também nenhum local para tomar um café ou descansar. Isso complica um pouco”, reclama.
“Era terrível passar pela Avenida dos Bandeirantes, levava horas para atravessa-la. Agora dirijo com mais prazer, nesse lugar bonito”, comemora o experiente carreteiro de Vitorino/PR, Franquelino D´ella, de 73 anos de idade e 53 de boleia. Ele só reclama da ausência de banheiros no trecho e destaca que o cheiro de urina é muito forte em alguns pontos onde os motoristas costumam estacionar, na maioria das vezes para comer alguma coisa.
Outro motorista que ganhou tempo com o novo trajeto é o paulista Edson da Costa, que transporta produto químico e comemora a nova rotina. “Esse rodoanel melhorou muito a minha vida. Passo aqui quase todos os dias, fazendo a percurso de Jundiaí/SP à Mauá/SP em no máximo 2 horas. Antes, por causa do trânsito, demorava mais de quatro horas”, conta aliviado.
Além da baixa circulação de veículos no período noturno, motoristas apontam a fraca iluminação e a proximidade de favelas, como os principais fatores de risco para assaltos. “De Mauá/SP até a Avenida Jacu Pêssego é muito perigoso. Os ladrões jogam pedras e chegam a fazer barreiras com objetos grandes como sofás e pneus velhos”, diz Sidnei Gomes. O motorista de caminhão-guincho relata a presença esporádica da ROCAM (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas) em certos pontos. “Mas isso não evita a ação dos bandidos em outros dias”, diz.
De acordo com o diretor executivo do consórcio SP Mar, que administra o trecho desde março de 2011, Marcelo de Afonseca, várias medidas já foram tomadas para melhorar a segurança no trecho. “A Polícia Rodoviária Estadual identificou os pontos mais perigosos e mantém viaturas 24 horas por dia nestes locais. Também mantemos seis viaturas – três delas são guinchos – em constante movimento para auxiliar e dar segurança ao usuário”, garante. Na ocasião existiam no teecho apenas 10 câmeras de monitoramento, mas a informação de Afonseca era de que serão instaladas mais 32 unidades até março de 2012.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não soube informar sobre a ocorrência ou não de roubos de cargas nos rodoanel Mário Covas. Sobre a ausência de locais de parada, é importante destacar que por ser tecnicamente um trecho de interligação, o rodoanel não precisa atender todas as exigências técnicas de uma rodovia, como a existência de postos de serviços. Mesmo assim, a SPMar informou haver, nos quilômetros 41 e 68, dois postos de atendimento ao usuário, com bases da Polícia Rodoviária Estadual, sanitários, água e telefone público disponíveis 24 horas por dia. A partir de setembro, conforme está previsto, começa a cobrança de pedágio no trecho Sul, cabendo à Artesp – agência que regula as concessões – avaliar os serviços iniciais da concessionária e autorizar a tarifação, que deverá ser de R$ 2,40 por eixo. O tempo da concessão é de 35 anos.
O trecho Oeste, o primeiro a ser entregue ao tráfego, em 2002, embora seja mais curto (32 quilômetros e interliga as rodovias Raposo Tavares, Castelo Branco, Anhanguera, Bandeirantes, Régis Bittencourt e o trecho Sul), também apresenta problemas. Com fluxo diário superior a 240 mil veículos, dos quais 60 mil (25%) são caminhões, de acordo com a concessionária CCR ViaOeste, em 2010 foram registrados 968 acidentes, com 577 feridos e 15 mortes. Entre janeiro e março deste ano, as ocorrências apontam 248 acidentes, 155 feridos e cinco mortes. As vias são formadas por quatro faixas de circulação com limite de velocidade de 120 km/h para automóveis e motos e 90 km/h para veículos pesados. O crescimento da frota, a inauguração do trecho Sul e a restrição de caminhões na Marginal Pinheiros intensificaram o tráfego e o número de acidentes no trecho Oeste nos últimos dois anos. Não recebe muitas críticas dos carreteiros, mas quando alguém se manisfesta é em relação à insegurança. “Como em muitas estradas do nosso País, no rodoanel Oeste tem assalto a noite. Por isso, eu e meus colegas evitamos passar por lá de madrugada”, afirma o carreteiro Wille Toppe Júnior, de São José dos Pinhais/PR. Questionada, a concessionária diz oferecer total segurança aos usuários por meio do monitoramento eletrônico de câmeras com a presença de policiais no Centro de Controle Operacional, além de duas bases da Polícia Rodoviária Estadual. O contrato de concessão do trecho oeste determina o investimento de R$ 465 milhões para manutenção e melhorias durante os 30 anos de vigência. A taxa atual do pedágio no Rodoanel Oeste é de R$1,35 por eixo.