Por Luiz Aparecido da Silva
“Não tem mais que discutir, tem que duplicar…”. “Qualquer coisa, manda queimar as praças de pedágio, vamos tocar fogo nas coisas”. A declaração é de Luiz Antônio Pagot, diretor geral do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), em reunião com prefeitos e deputados na Amop (Associação dos Municípios do Oeste do Paraná), em Cascavel/PR, no final de maio. Ele discursava abordando o tema duplicação da BR 277, que corta o Paraná, de Foz do Iguaçu e Paranaguá, estrada importante para a economia do Estado e do País, pedagiada e com 10 praças de cobrança ao longo de todo o seu percurso.
As declarações de Pagot fizeram com que o movimento pela duplicação da BR-277 ganhasse força. Ela tem o apoio de motoristas de caminhão de todo o País que trafegam pela rodovia. No entanto, eles entendem que os carreteiros não devem colocar em prática a sugestão do diretor geral do DNIT. O carreteiro Valdecir José Horn, de Toledo/PR, diz que se os carreteiros invadirem ou tentarem colocar fogo nas praças de pedágios, como sugeriu Pagot, a polícia “baixa o cacete”. “O motorista de caminhão não tem apoio, para invadir as praças de pedágio. Mas uma declaração como essa, de uma autoridade, deve dar força pelo movimento da duplicação. O preço do pedágio é um absurdo. Ele não é compatível com a condição da estrada. Deve ser duplicada logo”, afirma Valdecir.
Para Jorge Arcanjo da Silva Neto, de Campinas/SP, o preço do pedágio é o vilão do frete, especialmente no Paraná e na BR-277. “O pedágio na BR-277 é muito caro para a condição da estrada. Não tem segurança, o risco de roubo de carga é muito grande. Pelo preço que pagamos teríamos que viajar em uma rodovia duplicada, com mais segurança, mais postos de atendimento”, desabafa Neto. Ele acrescenta que as praças de pedágio teriam que ter chuveiros e local para o carreteiro ou o motorista que trafega de automóveis descansarem. Além disso, pagar pelo eixo erguido é um “roubo”. “Isto só acontece no Paraná”, acentua.
Josemar Duarte, de Marechal Cândido Rondon/PR, roda pela BR-277 todas as semanas com seu bi-trem e diz que a duplicação tem de acontecer logo. Ele também frisa que nas condições atuais, a sinalização teria de ser melhor. “É muito pouco o que eles fazem na estrada. Você observa que as obras de conservação geralmente estão próximas às cidades. É uma forma de enganar a população, dizendo que estão fazendo alguma coisa. Mas o carreteiro está todo dia na estrada, por isso é difícil de enganá-lo”, acentua. Josemar diz ainda que a duplicação deve ser imediata em função do que se paga pelo pedágio. Ele, por exemplo, gasta R$ 800 de diesel com seu bi-trem até Paranaguá e mais R$ 408,00 com pedágio. “É uma relação que tira lucratividade do carreteiro e encarece o produto transportado”, conclui.
Quem mais sofre com a cobrança de pedágio é o carreteiro, cujo local de trabalho é a estrada. No caso da BR-277, ele paga as tarifas de pedágio e não recebe nada em contrapartida. Geová Pereira, presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens das regiões Oeste e Sudoeste do Paraná, com sede em Cascavel, apoia o diretor geral do DNIT, afirmando que ele fez aquelas declarações como cidadão da região (ele é de São Miguel do Iguaçu, próximo a Foz do Iguaçu), portanto, um profundo conhecedor da situação da BR-277. “O Pagot falou aquilo mais como um desabafo de alguém que vê o quanto o pedágio é prejudicial à economia da região, de alguém que já perdeu muitos amigos em acidentes nesta estrada. Entendi que naquele momento não era uma autoridade nacional falando e sim um cidadão da região Oeste”, afirma Geová.
O sindicalista reconhece que as declarações de Pagot reascenderam o movimento “BR-277, Duplicação Já” e seria importante que entrassem nas negociações junto com o governo, entidades da sociedade civil como sindicatos de caminhoneiros, associações comerciais, associações de viajantes e muitas outras que precisam da rodovia. Para ele, o momento é das autoridades e o governo do Paraná negociarem de forma mais dura com as concessionárias. “Estamos vivendo uma calamidade. Todas as vezes que procuramos as concessionárias, eles simplesmente dizem: vão reclamar para o governo”, lamenta.
Para o presidente do Sindicato dos Transportadores, pelo preço que se paga hoje, a estrada teria que ser duplicada e oferecer muitos outros serviços. Por isso, ele pergunta onde estão a sinalização ideal, os serviços de apoio, postos de atendimento a cada 100 quilômetros, banheiros adequados nas praças de pedágios, áreas de descanso com segurança; local apropriado para a colocação de veículos com carga perigosa; valas de contenção para filtrar produtos tóxicos da chuva e oriundos de acidentes; terceiras faixas em pontos mais críticos; socorro mecânico e médico; e telefones de emergências. “Se alguém quebra na estrada, eles guincham ao posto mais próximo e largam lá. Na verdade, teriam que levar à cidade mais próxima, a uma oficina especializada. Isto era o que o governo estadual nos propôs quando queria apoio para implantar o pedágio”, completa.