Por Evilazio de Oliveira

Com o aumento do tráfego de automóveis nas rodovias brasileiras no período de férias, a preocupação dos carreteiros também é maior, principalmente pela pressa, imprudência e ultrapassagens em locais impróprios feitas pelos denominados “motoristas de final de semana” ou condutores com pouca experiência de direção em estradas de trânsito intenso. Porém, com a esperada redução no número de caminhões trafegando nesse período em decorrência da falta de cargas, ou mesmo por causa das férias, e do acentuado aumento nos valores das multas de trânsito – além do bom senso –, é esperado um comportamento mais civilizado e descanso.

Na opinião do autônomo Leandro Lowe, a maioria dos motoristas de automóveis que viajam nos finais de semana, ou no período de férias, é “meio se noção”, fazendo ultrapassagens em locais perigosos. São impacientes, não respeitam os limites de velocidade e avaliam muito mal o porte e a velocidade do caminhão que pretendem ultrapassar. Acostumado a rodar pelos Estados do Rio Grande do Sul, Goiás, Brasília e Mato Grosso, Lowe tem 39 anos de idade e está há 10 na profissão. Já trabalhou com bitrem e sempre teve muita preocupação com os motoristas de carros de passeio pouco habituados às rodovias, e que acabam se envolvendo acidentes.

Para o carreteiro Leandro Lowe, a maioria dos motoristas de carros é impaciente e avalia mal o tamanho e a velocidade do caminhão que pretendem ultrapassar
Para o carreteiro Leandro Lowe, a maioria dos motoristas de carros é impaciente e avalia mal o tamanho e a velocidade do caminhão que pretendem ultrapassar

Ele diz que durante o período de férias há também redução de caminhões nas estradas e com o reforço do policiamento espera que o pessoal dirija com mais cuidado. Lembra que o aumento do valor das multas também deverá contribuir para uma direção mais consciente e segura, sem esquecer de citar que a imprudência nas estradas não é exclusividade dos motoristas de carros de passeio nos finais de semana ou nas férias. “Tem muito motorista profissional por aí fazendo loucuras que nem dá pra acreditar”, destaca.

O também autônomo Amilton Mello da Silva, natural de Tupanciretã/RS, 46 anos de idade e 22 de profissão, atua no transporte internacional viajando na rota São Paulo/SP – Buenos Aires/Argentina e afirma que normalmente os motoristas de carros pequenos não respeitam caminhões e os limites de velocidade. Além disso são impacientes nas ultrapassagens. “Para eles, os carreteiros estão sempre errados”, diz. Amilton comenta que esses motoristas precisam se conscientizar de que o caminhão é grande, pesado, precisa trafegar com velocidade controlada e não pode fazer manobras bruscas sob o risco de sofrer ou causar acidentes.

Os motoristas de automóveis de passeio precisam se conscientizar de que caminhão trafega com velocidade controlada, comenta Amilton Mello da Silva
Os motoristas de automóveis de passeio precisam se conscientizar de que caminhão trafega com velocidade controlada, comenta Amilton Mello da Silva

Ainda de acordo com o carreteiro, os veículos pequenos insistem nas ultrapassagens perigosas; saem dos postos de combustíveis ou restaurantes de beira de estrada e entram nas rodovias sem a preocupação da velocidade dos outros veículos que já estão na rodovia. “Enfim, uma série de imprudências, depois, o culpado é sempre o motorista de caminhão”, ressalta. Amilton Mello também concorda que durante as férias certamente haverá menos caminhões nas estradas. Principalmente porque nesta época há uma redução mais acentuada na atividade de transporte, ainda mais porque a oferta de carga foi muito pequena durante 2014. Apesar disso, ele nem sonha em tirar férias. “E as contas?”, questiona.

Natural de Campo Grande/MS, Ivan Aparecido Constantino vive em São Borja/RS e viaja também pelos Estados de São Paulo e Bahia. Aos 50 anos de idade e 20 de estrada, ele considera que os motoristas que pegam estradas nos finais de semana ou nas férias são um perigo constante, tanto para eles próprios quanto para os demais usuários das rodovias.

Ivan Constantino acredita que os novos valores das multas deixarão os motoristas mais cuidadosos, porque vão sentir no bolso o custo das imprudências
Ivan Constantino acredita que os novos valores das multas deixarão os motoristas mais cuidadosos, porque vão sentir no bolso o custo das imprudências

Diz que essa situação já foi pior e acredita que agora, com o aumento dos valores das multas, as pessoas fiquem mais cuidadosas porque vão sentir no bolso o custo da imprudência que cometerem. Também critica a falta de preparo dos motoristas de carros pequenos para enfrentar o tráfego pesado nas estradas, uma tarefa que, evidentemente, cabe às autoescolas. O maior risco é nas ultrapassagens, afirma.

O carreteiro Nilton Krentkowsky, natural de Tenente Portela/RS, tem 60 anos de idade e 38 de profissão e viaja pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Segundo ele, janeiro é o pior mês para trabalhar. Lembra que em tempo de férias dobra o número de veículos pequenos nas estradas e dobra também o perigo, até mesmo para os motoristas profissionais. “Muitas pessoas são imprudentes, não têm noção do perigo e vão para a estrada fazer loucuras ao invés de saírem para aproveitar a vida e se divertirem de forma saudável”, opina. Acredita que com os novos valores das multas e uma fiscalização mais eficaz da Polícia Rodoviária as coisas melhorem um pouco. Porém, como este ano foi um dos piores para o transporte de cargas, ele pretende tirar férias e só voltar para o trecho depois do Carnaval, quando as coisas se acalmarem. “Afinal, é preciso aproveitar a vida”, finaliza.

Janeiro é o pior mês para trabalhar, porque dobra o volume de carros pequenos nas rodovias e também o perigo, diz o carreteiro Nilton Krentkowsky
Janeiro é o pior mês para trabalhar, porque dobra o volume de carros pequenos nas rodovias e também o perigo, diz o carreteiro Nilton Krentkowsky

Para o carreteiro Cleone da Silva Paiva, natural de Catalão/GO e vivendo em Uruguaiana/RS, o comportamento dos motoristas de carros pequenos nas rodovias, principalmente nos finais de semana ou nas férias é complicado. Acredita que essas pessoas queiram aproveitar ao máximo esses dias de folga, mas assim são imprudentes, apressadas, fazem ultrapassagens perigosas e não respeitam os limites de velocidade.

Cleone conta que ele próprio, quando sai em passeio com a esposa Gislaine e as duas filhas – uma com 13 e outra com cinco anos de idade – se sente inseguro ao dirigir o carro da família, que lhe parece tão frágil. Por ser muito cauteloso, dirigir devagar e com muito cuidado nas ultrapassagens, se torna alvo das brincadeiras da mulher e das filhas. “Tudo isso é porque sou acostumado a ver a estrada da cabine do caminhão. Vejo as loucuras que os outros fazem e não quero fazer igual”, justifica. Ao final, tudo é uma questão de bom senso, respeito à sinalização e educação no trânsito, afirma.

Acostumado a ver a estrada do alto da cabine do caminhão, Cleone Paiva diz que se sente fragilizado quando está na estrada ao volante do carro da família
Acostumado a ver a estrada do alto da cabine do caminhão, Cleone Paiva diz que se sente fragilizado quando está na estrada ao volante do carro da família

O chefe substituto da 13ª Delegacia da PRF (Polícia Rodoviária Federal), em Uruguaiana/RS, inspetor Raul da Silva, 36 anos de idade e oito como policial rodoviário, informa que nestas comemorações de final de ano e de férias o efetivo de homens e equipamentos nas BR-290 e BR-472 será o normal. Haverá apenas reforço na fiscalização nas aduanas e a utilização de radares móveis e etilômetros.

estrada

São 390 quilômetros de rodovias a serem fiscalizadas, nos municípios de Uruguaiana, Alegrete, Itaqui e Barra do Quaraí, locais onde o índice de acidente normalmente é baixo. Até mesmo a preocupação com a grande quantidade de turistas argentinos que anualmente ingressa no Brasil pela ponte internacional entre Paso de los Libres/AR e Uruguaiana/RS, está menor este ano, sobretudo pelas diferenças cambiais decorrentes da crise que atinge aos dois países e à elevação dos valores das multas aplicadas em território brasileiro, e que precisam ser pagas antes do regresso à Argentina. Os turistas argentinos, antes tão imprudentes e conhecidos por trafegarem em altas velocidades nas rodovias brasileiras, certamente agora estarão mais atentos, observa o policial.