Por Evilazio de Oliveira
Fotos: João Geraldo e Claiton Dornelles

No momento em que o transporte rodoviário de cargas enfrenta sérias dificuldades, decorrentes sobretudo da atual política econômica, acentuadas pelas crescentes denúncias de escândalos e falta de ética nos altos escalões do governo e de grandes empresas, para muitos brasileiros a declaração de imposto de renda pode parecer uma afronta. Não é diferente para o carreteiro, atividade em que muitos profissionais trabalham até sem carteira assinada e na base da comissão, precisando rodar muito para honrar os compromissos familiares, pagar a prestação, a escola dos filhos e voltar para o trecho. Com isso, poucos pensam na declaração de imposto de renda, a não ser em casos extremos em que seja preciso a apresentação de algum comprovante para uma eventual operação de crédito.

Muitas vezes o motorista não tem como comprovar seus rendimentos e o lançamento é feito de acordo com suas informações, diz o contador Jair Salinos
Muitas vezes o motorista não tem como comprovar seus rendimentos e o lançamento é feito de acordo com suas informações, diz o contador Jair Salinos

O contador Jair Salinos de Souza, 56 anos de idade e 30 de profissão, sócio proprietário do Escritório Salinos, em Uruguaiana/RS, lembra que o motorista autônomo tem uma boa vantagem, tributando apenas 10% do que recebe bruto do frete. Ele explica que o comprovante de declaração de Imposto de Renda é um documento hábil para a comprovação de rendimentos, geralmente utilizado para operações de crédito ou o financiamento de automóveis ou de imóveis.

Souza destaca, que se o carreteiro tiver dois caminhões ou mais, deve constituir uma empresa e a partir desse movimento fazer a declaração de acordo com o Simples, que também dá uma grande vantagem ao contribuinte. Tudo é uma questão de se informar adequadamente para os procedimentos legais e de acordo com a lei. “O autônomo não deve temer a fiscalização e fazer todas as perguntas que julgar pertinente ao assunto. Ou, então, procurar um contador que lhe dará todas as informações”, explica o contador, acrescentado que muitas ele não tem como comprovar os rendimentos do cliente e faz os lançamentos de acordo com as informações que recebe, mesmo assim faz a comunicação à Fazenda. “O procedimento ideal, afirma, é procurar um profissional da área para uma orientação correta e evitar eventuais aborrecimentos no futuro”.

Muitos motoristas não têm carteira profissional e se precisam de algum crédito usam o comprovante de Imposto de Renda, diz a analista Vera Schimitt
Muitos motoristas não têm carteira profissional e se precisam de algum crédito usam o comprovante de Imposto de Renda, diz a analista Vera Schimitt

A analista de crédito Vera Regina de Souza Schimitt tem 62 anos de idade, 36 anos de experiência no setor bancário e há seis atua como administradora de um cartão de importante rede de supermercados na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Ela destaca a necessidade dos trabalhadores autônomos fazerem a declaração do Imposto de Renda, pois, segundo ela, sempre que precisam de algum crédito e é solicitado um comprovante de renda, é utilizado o comprovante do IR. “Isso porque muitos não dispõem de carteira de trabalho assinada ou do contra cheque”. explica.

Vera Regina lembra que alguns motoristas até pretendem comprovar o rendimento com a carta-frete, mas não é aceito. Ela enfatiza que somente a declaração do IR, inclusive com a conferência do número do envio para a Receita, pode abrir caminho para que tenham seus créditos aprovados. “Mesmo assim, restam dúvidas, porque sabemos que os valores são fornecidos pelo contribuinte aos contadores ou, hoje com a facilidade de ser via internet, por eles mesmos, sem que se possa comprovar a veracidade dos dados.” E conclui: “Assim, acreditamos na palavra e, nem sempre é possível a liberação do crédito”, conclui.

O carreteiro Leonardo Rodrigues Rosa diz que nunca declarou Imposto de Renda, mas afirma que a partir de agora pretende deixar sua documentação em dia
O carreteiro Leonardo Rodrigues Rosa diz que nunca declarou Imposto de Renda, mas afirma que a partir de agora pretende deixar sua documentação em dia

O carreteiro Leonardo Rodrigues da Rosa tem 30 anos de idade, seis de estrada, natural de Itaqui/RS, trabalha com uma carreta sider no transporte internacional. Diz nunca ter feito a declaração do Imposto de Renda, até por comodidade, assume. Afirma que nunca precisou, pois sempre que foi necessário comprovar os rendimentos utilizou a carteira de trabalho ou os contra cheques. A partir de agora, no entanto, pretende fazer as declarações como isento e ficar com toda a documentação em dia.

Motorista de uma empresa multinacional, Carlos Felipe Schmitt diz que declara todos os anos de acordo com o salário que está em sua carteira de trabalho
Motorista de uma empresa multinacional, Carlos Felipe Schmitt diz que declara todos os anos de acordo com o salário que está em sua carteira de trabalho

Carlos Felipe Schmitt, 46 anos de idade e 18 de volante, natural de São Pedro do Sul/RS, também trabalha no transporte internacional, viajando nas rotas Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai. Diz estar feliz porque não foi atingido pela crise, apesar de uma acentuada redução no volume de cargas. Ele trabalha para uma empresa multinacional, tem carteira assinada, salário em dia em dia e todos os direitos, mas não ganha comissão.

Schmitt afirma que declara o Imposto de Renda como isento, considerando o salário que consta na carteira de trabalho. Lembra que, recentemente, ao comprar um carro novo obteve o financiamento através da comprovação de outros bens imóveis. Mas garante, sempre está com todas as suas obrigações, impostos e documentos atualizados e procura andar com tudo muito certo, porque os patrões são exigentes.

O cegonheiro Jober Rodrigues afirma que já declarou Imposto de Renda, mas há tempo não o faz e nem pretende fazê-lo, porque não vê necessidade
O cegonheiro Jober Rodrigues afirma que já declarou Imposto de Renda, mas há tempo não o faz e nem pretende fazê-lo, porque não vê necessidade

O cegonheiro Jober Marcelo Soares Rodrigues, natural de Rosário do Sul/RS, tem 38 anos de idade e 15 de direção, afirma que já declarou imposto de renda, mas há tempo não declara mais. E nem pretende declarar no futuro. “Não vê necessidade”, afirma, mesmo sabendo que está isento. “É muita burocracia, tudo muito complicado”, comenta. Rodrigues trabalha no transporte de veículos da montadora da GM em Gravataí/RS e Rosário/AR. Diz que nunca precisou do comprovante do IR para qualquer tipo de operação de crédito. Pois utiliza a carteira de trabalho ou o contra cheque.

Dono de um caminhão agregado, João Rigon garante que se encontra em dia com o Leão da Receita Federal, mas reclama que vê pouco retorno dos impostos pagos
Dono de um caminhão agregado, João Rigon garante que se encontra em dia com o Leão da Receita Federal, mas reclama que vê pouco retorno dos impostos pagos

O também gaúcho Alir João Rigon, natural de Santa Rosa/RS, 47 anos de idade e 16 de profissão, é dono de uma carreta e trabalha como agregado, viajando entre Brasil, Argentina e Chile. Garante que está sempre em dia com o Leão da Receita Federal, pois sempre declarou Imposto de Renda como autônomo. Diz que já utilizou o comprovante de entrega do IR como comprovante em operações de abertura de crédito. Rigon aproveita para reclamar do Governo que retribui muito pouco – às vezes quase nada – pela quantidade e valor dos impostos pagos pelo povo brasileiro.