Por João Geraldo
Ser ambientalmente correta – ou pelo menos procurar demonstrar que está trabalhando para esse fim – tem sido uma grande preocupação de todo tipo de empresa nos últimos anos no Brasil. Esta necessidade de prestar conta à sociedade – e também de atender a legislação de meio ambiente – tem proporcionado melhoria da qualidade do ar, da água de rios e córregos, de áreas verdes e até mesmo do nível de ruído e a economia de recursos naturais e industriais. Um setor que tem investido bastante na política ambiental é o de pneus, que reúne os fabricantes, representado pela Anip – Associação Nacional dos Fabricantes de Pneumáticos, e o de reformas, que tem como entidade a ABR – Associação Brasileira do Segmento de Reformas de Pneus.
Devido ao tamanho da frota de caminhões e ônibus, e a importância do transporte rodoviário no Brasil, é grande a produção de pneus novos e o número de reformas feitas anualmente no País. Pelos números da Anip, em 2007 foram produzidos 57,3 milhões de unidades, dos quais 7,8 milhões destinados a caminhões e ônibus. Já o volume reformado para transporte é superior a 8,5 milhões de unidades por ano, segundo a ABR. As empresas do setor defendem que a própria atividade da reforma é uma atitude em favor do meio ambiente, pois além de reaproveitar a carcaça – que vai rodar no mínimo igual a um produto novo – emprega apenas 25% do material que seria utilizado na produção de um modelo novo.
Informações da Vipal – um dos grandes fabricantes de produtos para reforma e reparos de pneus – dão conta de que cada pneu reformado economiza em média 57 litros de petróleo comparado a um produto novo. Em relação ao consumo de energia elétrica há uma redução de 80%. Entre outras ações em prol do meio ambiente, a Vipal tem investido nos últimos anos na preservação do meio ambiente, sendo que uma das ações é o Programa Permanente de Economia de Água, que utiliza um sistema de coleta de água da chuva que possibilita a captação de 25% do total consumido na linha de produção. O volume de água utilizado antes do programa para o resfriamento e geração de vapor era – em teoria – suficiente para abastecer, diariamente, 17% da população de Nova Prata, cidade com cerca de 210 mil habitantes onde a Vipal está instalada.
Outra ação da Vipal é a disseminação da conscientização ambiental na comunidade, através de eventos e datas comemorativas e também do PEAC – Programa de Educação Ambiental Compartilhado, parceria pública-privada junto ao governo do Estado do Rio Grande do Sul. Além disso, a empresa gerencia o consumo de recursos, geração de resíduos sólidos, emissões atmosféricas e efluentes líquidos. Treinamentos para a conscientização dos funcionários, com o objetivo de “fazer meio ambiente” como uma atividade do dia-a-dia, fazem parte das ações ambientais da companhia, que em 1990 já registrava redução de 50% na geração de resíduos sólidos.
A Bandag, outra grande empresa do setor, possui indicadores de controles sobre o uso de recursos naturais, como consumo de água, de óleo combustível e de energia elétrica por tonelada de produto fabricado. Programas de redução de restos e sobras de materiais fazem parte da rotina da empresa, que monitora as fontes geradoras e dá como destino a reciclagem ou outro fim, conforme a legislação determina.
A empresa tem investido para minimizar a geração de resíduos em suas fábricas e defende que a maior contribuição para o meio ambiente está ligada ao fato de prolongar a vida dos pneus através de um correto gerenciamento e uso. O gerente de Inovação da Bandag, Hiroshi Matsumaga, explica que este é um modelo de negócio e operação adotado pela Bandag no mundo todo, desde a sua fundação, há 50 anos.
“O maior desafio sempre é a mudança de cultura por parte das pessoas. Ainda hoje existem muitos transportadores que não se beneficiam dos ganhos que podem ser proporcionados por um correto programa de gerenciamento de pneus” diz. Para mudar esta postura, a equipe de consultores da Bandag desenvolve um trabalho para medir e quantificar o desempenho dos pneus antes e depois da implantação de um programa de gerenciamento, para se saber a economia que o transportador pode ter. “Ou seja, mostrando os benefícios econômicos e o correto gerenciamento que poderá proporcionar”, conclui.
Entre as várias ações da Levorin – empresa do setor de borrachas com mais de 60 anos de atuação – voltadas ao meio ambiente, uma de destaque é a utilização do escape da caldeira para aquecer a água que utiliza no processo de produção. Sérgio Levorin explica que o gás é responsável pela geração de 80% da energia e do vapor necessários à fábrica e desta forma a empresa não usa outro tipo de combustível, como óleo ou madeira. Aliás, a troca de matriz energética por gás aconteceu em 1994. Outra medida da empresa em prol do meio ambiente é a reutilização de resíduos reciclados, utilizados na fabricação de produtos. Outra ação da empresa – que como todas as demais do setor reutiliza água, ela mesma trata, principalmente para esfriar máquinas – é o desenvolvimento de produtos com maior vida útil. “Desta forma, temos um menor índice de trocas, porque os pneus têm uma quilometragem muito maior. E quando melhoramos a performance dos nossos produtos não geramos a necessidade de consumir mais materiais”, explica.
A Levorin desenvolve junto aos líderes das comunidades próximas à empresa um trabalho de conscientização sobre o meio ambiente e também junto a Cetesb em relação ao odor gerado pela produção de produtos de borracha. A empresa desenvolve em paralelo um trabalho com seus funcionários através de um evento anual que reúne palestras com profissionais ligados ao meio ambiente, peças de teatro e até mesmo concurso de frases abordando o tema. “Este é um trabalho que também ajuda a conscientizar as pessoas de que é preciso cuidar do meio ambiente”, conclui Paulo Levorin, Gerente de RH da empresa.
Desde 1999, a Tipler, fabricante gaúcho de materiais de borracha para reforma de pneus, utiliza o selo “Recapar é Reciclar”, numa menção de que o trabalho desenvolvido está de acordo com a política de preservar o meio ambiente. De acordo com o Gerente Geral de Vendas da empresa, Jorge Dietrich, a Tipler foi a primeira empresa do seu segmento a investir nesse conceito e também a difundi-lo através de sua rede de concessionários em todo o Brasil.
Jorge Dietrich acrescenta que funcionários também estão comprometidos com a filosofia da empresa em todos os sentidos, tanto na atividade principal quanto nas ações do dia-a-dia, evitando desperdício de energia, de materiais e demais recursos. Esta, explica, filosofia está fortemente implementada de forma multiplicadora, pois incorpora a prática desta consciência também nos seus lares difundindo-a para familiares e à comunidade. “Os resultados são benéficos para todos: o meio ambiente, a empresa e os usuários em geral, através da preservação do meio ambiente e da economia de recursos”, finaliza.
Sistema de gerenciamento ambiental internacional, que reduz o impacto ao meio ambiente, aumenta a produtividade e reduz o desperdício é uma das ações da Bridgestone Firestone, empresa certificada pela ISO 14001, a qual indica praticar uma política ambiental correta. Celso Villalva, diretor industrial da companhia, acrescenta que a Bridgestone reúne diversas iniciativas para a reciclagem de pneus. A mais comum é a trituração e separação dos componentes, borracha, aço e tecido de poliéster ou nylon. “Após o processamento, o pó da borracha obtido é coletado e pode ser utilizado novamente na composição de outras borrachas menos nobres, como coberturas de áreas de lazer e quadras esportivas, fabricação de tapetes, passadeiras, saltos e solados de sapatos, buchas para eixos de caminhões e mais uma variedade de produtos”, explica.
Motivo de orgulho da empresa, a máquina que faz a reciclagem e possibilita o reaproveitamento dos plásticos utilizados na fábrica processa 70% de todo o plástico utilizado na produção. “De acordo com Villalva, a Bridgestone Firestone é o único fabricante de pneus que possui esta máquina”.
A empresa reaproveita 99% da água que utiliza na fábrica e a devolve à linha de produção. Além disso, monitora diariamente a freqüência de emissão atmosférica, recicla resíduos, pneus inservíveis, e mantém outras várias atividades voltadas ao meio ambiente, com destaque para o “Cheiro Zero”, um sistema seqüestrador de odores, que reduz o cheiro da borracha gerado pela produção.
A Michelin, por sua vez, também tem uma política de gestão ambiental bem definida, desde a instalação de sua primeira fábrica no Brasil, em 1999, ocasião em que construiu estações de tratamento de efluentes, instalou filtros de retenção de poeira, mecanismos de controle de emissões das chaminés das caldeiras e plantou árvores para a preservação do cinturão verde ao redor da fábrica. Hoje, a eficiência das estações de tratamento de água é de 95%, sendo que o valor exigido pela legislação é 70%.
Na política ambiental da Michelin consta a Gestão da Água, do Ar, dos Ruídos, dos Pneus Inservíveis e Gestão dos Resíduos, dentro da qual os materiais são separados e enviados para seu destino final, seja a reciclagem para serem reutilizados, ou para a geração de energia na produção de outros produtos. O que não pode ser reciclado vai para o aterro sanitário. A empresa também tem a certificação ISO 14001 e utiliza papel reciclado em suas impressoras, copiadoras e aparelhos de fax.
Outras ações da política ambiental da Michelin são a prevenção de impactos sobre o meio ambiente, através do conhecimento de cada aspecto ambiental proveniente de suas atividades; redução de consumo de energia e de materiais; reutilização e reciclagem de resíduos; formação e conscientização pessoal, além de ouvir clientes, parceiros e empregados sobre as preocupações ambientais.
Com a filosofia que a geração de riquezas não pode concretizar-se às custas de danos à natureza, e que faz parte da sua responsabilidade social assegurar-se de que seus processos produtivos levem em conta o meio ambiente, a Goodyear tem na sua política de preservação ambiental um ponto de destaque. Tanto é assim que todas as suas fábricas têm a certificação ISO 14001 e seus sistemas de gestão ambiental passam constantemente por auditorias da manutenção.
Na fábrica de Americana/SP, a água necessária para o processo industrial e em todas as partes da empresa é retirada do Rio Piracicaba e recebe tratamento para ser purificada. Depois de utilizada, cerca de 80% voltam para o rio com a pureza de 80%. Em 1971, o projeto da fábrica de Americana/SP já contava com um sistema de tratamento de esgoto que serviu de modelo para o Estado de São Paulo. No mesmo plano já existiam os cuidados com as emissões atmosféricas, por conta dos quais incluía a instalação de sistemas coletores e filtros para a contenção de materiais particulados.
A empresa participa de projeto que engloba 18 Centros Trituradores de pneus inservíveis, os quais são utilizados como combustível alternativo, em fornos de cimenteiras, além de outras aplicações. Há muitos anos, a Goodyear abandonou a utilização de combustíveis fósseis e transformou a combustão de suas caldeiras para gás natural. Outra medida foi a substituição dos tanques subterrâneos por aéreos.
A Pirelli também mantém um trabalho intenso formado por um conjunto de ações voltadas ao meio ambiente. O objetivo, explica o Diretor de Higiene, Segurança e Meio Ambiente para a América Latina, Frederico Muraro, é alcançar a sustentabilidade e oferecer melhor qualidade de vida às pessoas, além de desenvolver a conscientização e a responsabilidade sócio-ambiental. “As ações desenvolvidas pela Pirelli integram todo o ciclo de vida do produto, desde a obtenção das matérias-primas até o pós-consumo, passando pela fabricação e venda”, explica.
Ele acrescenta que a coleta seletiva é uma iniciativa bem-sucedida na empresa, pois conta com a adesão de colaboradores para evitar que resíduos sólidos que podem ser reciclados não acabem sendo enviados para aterros sanitários, uma prática que reduz a vida útil destas áreas e evita a contaminação do meio ambiente. “Com isso, a Pirelli já consegue reciclar mais de 85% das suas gerações de resíduos”, acrescenta.
Muraro diz que a Pirelli desenvolveu pneus que reduzem o consumo de combustível e a emissão de gases poluentes na atmosfera. Chamados de verdes, estes pneus reúnem uma série de componentes químicos em sua produção, além de sílica na banda de rodagem, material que provoca a diminuição do atrito com o solo. “Sem alterar os fatores que garantem a dirigibilidade, este processo de modificação química permite que o veículo gaste em torno 5% de menos combustível, o que significa uma redução expressiva da poluição ambiental”, conclui.
Com uma fábrica inaugurada há apenas três anos, em Camaçari/BA, a Continental é o fabricante de pneus mais novo do mercado brasileiro. A preocupação com o meio ambiente no País começou cedo, com o início da construção da planta, em outubro de 2004. No ano seguinte foi implantada a Comissão Técnica de Garantia Ambiental e, em 2006, quando começou a produzir efetivamente a do Setor de Segurança, Saúde e Meio Ambiente.
“Realizamos continuamente uma série de treinamentos de sensibilização em relação às questões ambientais, uso racional dos recursos naturais e desperdício”, destaca Pedro Carreira, diretor superintendente da fábrica da Continental de Camaçari. Ele acrescenta que em 2006 foram implantados o Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, o Plano de Monitoramento de Emissões Atmosféricas e Plano de Monitoramento de Águas Pluviais, além da política de Saúde, Segurança e Meio Ambiente. “No ano passado implantamos o Programa de Gerenciamento de Refugo de Produção, o Viveiro de Mudas e o Tratamento Biológico de Efluentes”, completa.
Assim como fazem os demais fabricantes do setor, a sucata do composto de borracha não vulcanizada é reciclada e reutilizada pela Continental na produção de artefatos de borracha, como tapetes, correias transportadoras, sola de sapatos e outros produtos. “Dentro do programa de resíduos sólidos, por exemplo, instituímos a coleta seletiva, através de mobilizações e educação ambiental continuada, buscando mudar os conceitos e hábitos tradicionais das pessoas em relação aos resíduos, incentivando a reutilização e a reciclagem”, explica Carreira. Evitar desperdício de resíduos e de gás natural, e reduzir o consumo de água e energia, entre outras ações, também fazem parte da política ambiental da Continental, que espera para este ano a ISO 14001.
A Tortuga Produtos de Borracha, fabricante de câmaras de ar, acaba de implementar mudanças no seu processo de produção, também para reduzir o impacto ambiental. Uma das ações é a contratação de empresas especializadas no tratamento e reciclagem dos resíduos gerados pela produção para transformá-los em matéria-prima para a fabricação de tapetes e outros itens. A empresa tem também tratamento de efluentes líquidos para não agredir rios e córregos.