Por Evilazio de Oliveira
O excesso de peso no transporte de cargas é responsável pelo maior desgaste do veículo, dos pneus, maior consumo de combustível e prejuízos à conservação ao asfalto, conforme atestam pesquisas feitas sobre o assunto. Mecânicos e carreteiros sabem por experiência própria que o excesso de carga não compensa um eventual lucro no custo fi nal do frete, que acaba sendo diluído no aumento das despesas com a manutenção do bruto, além do risco de ser pego numa das poucas balanças ainda em funcionamento nas estradas brasileiras, fato que pode resultar em multa e na necessidade de transferir parte da carga para outro caminhão.
Estudos recentes feitos por técnicos do DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes) demonstram que um caminhão com 50% de excesso de carga causa 10 vezes mais danos ao pavimento do que se estivesse com o peso dentro da lei. Vale lembrar, também, a baixa qualidade do asfalto utilizado e a ação das chuvas.
Mesmo assim, carreteiros continuam transportando peso acima do permitido, principalmente no transporte de grãos, e a fi scalização por meio de balanças ainda é muito precária. A maioria das balanças instaladas está fora de operação, segundo informações oficiais. Das 75 unidades existentes nas rodovias federais, 66 estão inoperantes, oito em operação e uma em fase de ativação, conforme informação da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).
As rodovias federais concedidas possuem hoje 15 balanças, ao longo de 1.485 quilômetros. São seis fi xas e nove móveis, segundo a ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias). É importante lembrar que as concessionárias apenas instalam as balanças quando os contratos de concessão exigem. As concessionárias não têm poder de polícia para obrigar um veículo a fazer a pesagem, o transbordo ou remanejar a carga e, principalmente, multar. Os responsáveis são os respectivos órgãos públicos competentes.
De acordo com a ABCR, as sucessivas alterações na legislação de controle de peso, motivadas por uma suposta proteção aos carreteiros, tem contribuído para o desgaste acelerado dos pavimentos das rodovias, pontes e viadutos – como têm, ainda, se voltado contra os próprios motoristas ao aumentar o número e a gravidade dos acidentes e a ociosidade da frota, aviltando os fretes.
Com 30 anos de idade e quatro de volante, Ulisses Ribeiro Batista trabalha no transporte internacional e garante que carrega dentro dos limites da lei. Ele faz a rota Argentina, Chile e Peru, eventualmente. Dirige um caminhão carga seca com capacidade para 25 toneladas, porém sempre deixa uma margem de garantia e leva 24 toneladas, no máximo. Diz nunca ter tido problema na balança e tem opinião de que não compensa exagerar no peso da carga, porque no fi nal a diferença no frete é pequena e o desgaste do motor, pneus e combustível empata.
O carreteiro Paulo Renato Terres, 30 anos e 10 de estrada, transporta arroz de Camaquã/RS para o centro do País. Ele é empregado e é a empresa que determina o volume a ser transportado. “O motorista não apita em nada”, diz. O caminhão tem capacidade para 27 toneladas e conta que muitas vezes a balança acusa excesso por eixo, mas resolve a situação com a movimentação da carga e distribuição uniforme do peso. Mesmo assim já foi multado algumas vezes, não lembra quantas e já precisou fazer a transferência de carga para outro caminhão.
Esse tipo de transferência é tão comum que normalmente existem caminhões próximos às balanças especificamente para esse fim e cobram relativamente barato para “aliviarem” a carga do caminhão que foi retido na pesagem. Mas garante que não vale a pena carregar acima do permitido, porque dá mais prejuízo do que lucro.
Na opinião do gaúcho de São Leopoldo, Júlio César Fontanella, 37 anos e 16 de direção, a maioria das grandes empresas controla o peso das cargas e não permite excessos. “Desta maneira evitam desgastes ao caminhão e se mantêm dentro da lei, além de zelar pelo nome”, afi rma. Fontanella transporta adubo com uma carreta e confessa que já foi multado alguma vezes e também precisou fazer transbordo de carga para outro veículo. Porém, acredita que esse negócio de carregar acima do peso permitido é uma ilusão, porque dá mais despesa. “O melhor mesmo é carregar dentro do que é permitido, e até com uma folguinha”, completa.
Para o carreteiro José Guerini, 52 anos de idade e 34 de profi ssão, a maioria dos caminhões trafega com excesso de peso. Porém, ele acredita que esta situação vai mudar, porque o cerco das balanças aperta cada vez mais. Por conta do tipo de carga e do acondicionamento em tambores, e depois em contêineres, Guerini diz não ter problemas com o peso. Trata-se de pedras semi-preciosas para exportação, que transporta de Soledade/ RS para o porto de Rio Grande e por isso isso todos os detalhes precisam estar certos, explica.
Garante que nunca foi pego pela balança com excesso de peso e prefere carregar dentro dos limites e não forçar o caminhão, sem ligar para os colegas que estão sempre acima dos limites. Principalmente o pessoal que trabalha nas safras, diz. Tem opinião de que os graneleiros carregam o que podem, porque aproveitam para ganhar um pouco mais nessa época, sendo, também os mais visados pela fi scalização, quando existe. E na época de safra, mesmo com balanças nas estradas, o pessoal dá um jeito. Principalmente lá para os lados do Mato Grosso, acrescenta, com um sorriso maroto.
Enquanto a maioria das balanças continua desativada nas rodovias federais, o DNIT promete realizar uma licitação ainda este ano para a instalação de 140 balanças fixas e 240 móveis em 56 mil quilômetros de rodovias federais. O objetivo é de evitar que caminhões trafeguem com excesso de peso e danifiquem o asfalto. Conforme o diretor do órgão, Mauro Barbosa, as novas balanças deverão ser instaladas até agosto de 2008. “Precisamos ter um trabalho educacional e de controle de peso da carga que os motoristas transportam para que tenhamos mais durabilidade do asfalto”, afirmou.