Por Luiz Aparecido da Silva
A safra recorde, que deve atingir 183,5 milhões de grãos, não resultou em ganhos para os carreteiros. O preço do frete despencou, chegando a cair mais de 50% em algumas regiões do País. Além disso, os profissionais do volante veem seus lucros diminuírem com o aumento do pedágio, das peças do caminhão, da mão de obra de mecânica, do diesel, de pneus e até de itens que consumidor jamais imaginaria que influenciam nos rendimentos da categoria.
No início da safra de soja no Estado do Paraná, os carreteiros chegaram a se empolgar com o valor do frete, que atingiu R$ 105,00 por tonelada de municípios como Foz do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu e Missal para o Porto de Paranaguá. Mas a alegria durou pouco e logo veio o excesso de caminhões que derrubou o valor para R$ 65,00, em média, chegando a R$ 58,00 na segunda semana de março. Do Mato Grosso do Sul, os valores do frete também seguiram a mesma tendência do Paraná.
Antônio Belo Alves, de Foz do Iguaçu/PR, que este ano está puxando soja de Rio Brilhante e Dourados/MS para o Porto de Paranaguá, disse que o valor do frete caiu muito em relação ao ano passado. “Se está sobrando caminhões, o valor do frete cai”, afirmou. Já o gaúcho Valdomiro Zozzi, de São João da Urtiga/RS, comentou que nesta safra já trabalhou no Paraná e Mato Grosso do Sul, e pretende, em abril, transportar milho no Mato Grosso, esperando que o frete esteja um pouco melhor. “No início da safra surgiu um pouco de esperança, mas logo veio a decepção. Além do pedágio e do óleo diesel, que tinham subido no fim do ano e nos primeiros dias de janeiro, peças e oficina subiram acima da média, e juntando com a queda do frete, o motorista ficou em situação delicada. Corre o risco de trabalhar no prejuízo”, diz Valdomiro, que na ocasião afirmou estar fora de sua casa há 3 meses.
Além do aumento da maioria dos itens que compõem a cesta básica do frete, também fazem parte do custo do carreteiro estacionamento e o banho. Em média, o motorista gasta R$ 15,00 por dia para parar o caminhão e os estacionamentos são de péssima qualidade, conforme descreve Marcelo Schadik, de Ponta Grossa/PR. Em sua opinião, o pior deles é o de São Francisco, em Santa Catarina. Ele, que transporta adubo para Cascavel/PR e leva soja para os portos de Paranaguá e São Francisco, diz que estão sufocando o carreteiro com cobranças absurdas e oferecendo serviços de péssima qualidade. “O pátio de São Francisco é horrível. Pagamos R$ 15,00 a diária, R$ 5,00 por banho e R$ 1,80 por um cafezinho. Além disso, não há sistema de som para informar os carreteiros das liberações. É preciso que alguma autoridade fizesse uma vistoria no local”, sugere. Quem também gostaria de ver uma fiscalização nos pátios e banheiros é Marcos Zambom, de São João da Urtiga/RS. “Órgãos de saúde deveriam fiscalizar banheiros de postos e de pátios. Não há condições de ser usado por um ser humano”, reclama. Valdomiro Zozzi, que defende que a fiscalização de banheiros se estenda também às empresas onde os carreteiros descarregam. “Os banheiros das firmas onde descarregamos também são precários. Temos muitas leis a cumprir, somos tratados como animais e não temos para quem reclamar”, desabafa.
Já Patrese Marcelino da Silva, de Foz do Iguaçu/PR, que está trabalhando no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia, queixa-se que nestes Estados, praticamente não existem pátios para descanso e os banheiros são horríveis. Ele quer que o Brasil siga o exemplo da Argentina, onde os banheiros são limpos, confortáveis e o estacionamento para descanso são excelentes. “Na Argentina, se o banheiro não está legal, o sindicato multa o posto e existe pátio com boa infraestrutura para os carreteiros descansarem”, acentua. Ele destaca que no Brasil só existe pátio para descanso em boas condições em Santos.
Na opinião de Antônio Belo Alves, os postos de combustíveis não estão tratando bem os motoristas de caminhão. “Só tem direito a entrar no pátio quem abastece. Do contrário tem de pagar R$ 15,00. As estradas pedagiadas não oferecem pátio e muito menos área de descanso. A comida na estrada também deixa a desejar e este ano estamos pagando 20%, em média, a mais por uma marmita e não podemos comer dentro da lanchonete porque pagamos mais caro”, reclama. Em meio a tantas reclamações, a Lei 12.619/12, conhecida como Lei do Descanso, é classificada como maravilhosa pelos carreteiros e surge como esperança de melhores condições de trabalho e melhora do preço do frete. A punição prevista para o motorista é apreensão do veículo, multa de R$ 127,69 e perda de cinco pontos na carteira de habilitação. Para Antônio Belo Alves, esta Lei fará com que o motorista seja tratado como pessoa. Vai diminuir os excessos e permitir melhores condições de vida e de saúde. Já Valdomiro Zozzi entende que a Lei vai dar mais segurança, porque todos têm direito a horas de descanso, enquanto que Marcos Zambom vê a Lei como um avanço em relação à saúde do carreteiro. “Como o descanso será obrigatório, muita gente deixará de usar rebite para não ter sono”, acredita.
Na opinião dos motoristas ouvidos pela reportagem, a Lei do Descanso poderá fazer com que o preço do frete melhore. “Com o cumprimento dos períodos de descanso, será preciso mais caminhões para suprir estas horas. Isto fará com que o preço do frete melhore. Estou esperançoso”, salienta Antônio Belo Alves. “Mas para que a Lei tenha sua eficácia, será preciso fiscalização severa e os motoristas precisam ter consciência e cumpri-la, pois será melhor para todos”, enfatiza Valdomiro Zozzi.