Por Daniela Giopato

Fumar é prejudicial à saúde. A frase é disponibilizada pelo Ministério da Saúde em diversos veículos de comunicação. Além disso, na tentativa de expor ainda mais os males que a droga traz, no verso dos maços de cigarro, distribuídos por todo território nacional, são impressas mensagens como “fumar causa câncer no pulmão”, “causa impotência sexual”, acompanhadas de fotos de pessoas doentes que não abdicaram do vício e mesmo assim ainda é grande o número de fumantes no País.

As justificativas de como se começou a fumar e a manutenção do vício são das mais diversificadas. No caso dos carreteiros, por exemplo, a desculpa é que o cigarro é uma forma de se manter acordado e conseguir dirigir durante horas seguidas sem utilizar rebite. De acordo com balanço do Inca – Instituto Nacional de Câncer -, 30% das mortes por câncer, 90% das por câncer de pulmão, 25% das por doença coronariana, 85% das por doença pulmonar obstrutiva crônica e 25% das mortes por doença cerebrovascular são causadas pelo cigarro.

1271t
Para José Leonel, o cigarro ajuda a relaxar e a suportar todas as injustiças e condições precárias de trabalho

Na opinião do carreteiro José Leonel Vieira, 56 anos, 28 de estrada, de São Paulo/SP, e fumante há 36 anos, os motoristas enfrentam tantas situações difíceis que precisam de um refúgio para ajudar a suportar todas as injustiças e condições precárias de trabalho existentes na profissão. “Para mim, o cigarro é um vício que ajuda a relaxar”, afirma. José começou a fumar porque achava bonito e acreditava que poderia parar na hora que quisesse, mas não foi bem assim. Em pouco tempo percebeu que estava viciado. “Já parei umas três vezes. Aliás voltei a pouco tempo, depois de oito meses sem colocar nenhum cigarro na boca. Mas, ao longo do tempo consegui diminuir bastante e hoje fumo menos de um maço por dia”, comemora.

Comecei a fumar quando comecei a dirigir caminhão. Os médicos podem até não concordar, mas o cigarro me ajuda a dirigir por mais tempo sem ter que tomar outras coisas, como o rebite, por exemplo. Mas acho que agora chegou a hora de parar. A minha família está fazendo uma campanha. Recentemente fiz uns exames e apesar dos resultados não terem apontado nada de grave o doutor também achou melhor eu parar”, afirma o catarinense Cláudio Ivan Zinner Mann, 54 anos de idade, 35 de estrada e há 36 fumante.

1270t
Além da saúde, Daniel Bernardino destaca dois outros problemas em fumar: o custo e o comprometimento de segurança

Cláudio afirma que não vai parar totalmente, pois continuará fumando enquanto estiver trabalhando. “Quando estou na estrada e não fumo a minha pressão cai e dá sono. Uma vez estava carregado com 32 toneladas de sardinha e cochilei. Sai da estrada e acordei com o caminhão em um barraco”, lembra. Além disso, o carreteiro acredita que ser fumante tem lá as suas vantagens. “Faço a fronteira da Argentina e Chile e nas cordilheiras, por exemplo, atravesso sem problemas já que o pulmão de fumante não tem muito oxigênio. Já alguns colegas que não tem o vício acabam passando mau com dor de cabeça”, se desculpa. Ele acrescenta que outros chegam até a ter principio de derrame, pois precisam de mais oxigênio e não recebem as instruções corretas das empresas de como proceder nesses casos.

Daniel Bernardino Machado Ferreira, de Sapucaia do Sul/RS, tem 28 anos, oito de estrada e fuma desde os 15 anos de idade. Apesar de conhecer todos os males que o vício pode causar confessa que não consegue largar. “Comecei por brincadeira. Também, em uma casa onde o pai, mãe e irmão fumavam não tinha como evitar! Um dia peguei escondido um cigarro do meu pai, fumei e não larguei mais. Fumo um maço por dia, com exceção de quando faço uma viagem longa, porque neste caso são dois. Cheguei a parar durante um ano mas, quando meu pai morreu acabei retomando o vício para superar a dor. Sei que isso é psicológico, mas para mim ajuda”, acredita.

1272t
O ex-fumante, Rogério Ilmar, alerta aos colegas sobre o mal que o cigarro faz a saúde

Além da saúde, Daniel destaca outros dois problemas decorrente do vício: o custo, que no seu caso chega a R$ 140,00 por mês, e a segurança. “Apesar de nunca ter acontecido nada comigo, certa vez um colega acendeu um cigarro se distraiu e saiu um pouco da pista. Acabou fechando um outro colega. Foi só um susto mas, poderia ter sido grave”, lembra.

Para Calixto Lopes da Silva, 37 anos e 16 de estrada, Rio Verde/GO, o custo mensal com o cigarro também foi um fator importante na decisão de largar o vício. Fumante há 13 anos, ele consome um maço por dia. “Já consegui ficar uns 90 dias sem colocar um cigarro na boca, ai veio aquela vontade e resolvi fumar só um. Mas, um ex-fumante nunca deve ascender o primeiro. Gasto de R$ 40,00 por mês em cigarro, mas pretendo largar definitivamente este vício ainda este ano”, planeja

Diferente de todos os seus colegas, Rogério Ilmar, de Venâncio Aires/RS, 29 anos de idade, 11 de estrada, pode se considerar um ex- fumante. “Comecei a fumar quando eu tinha 15 anos de idade por influência dos outros. O vício durou 10 anos. Hoje, quatro anos depois que parei, não suporto nem o cheiro do cigarro. O motivo que me fez parar foi uma aposta com os colegas. Mastiguei um cigarro junto com a cerveja. Imagina o que a nicotina fez no meu estômago! Naquele dia passei tão mal que achei que fosse morrer. A partir daí não consigo nem sentir o cheiro dessa droga. Apesar dessa experiência horrível vejo que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, pois se não fosse isso ainda estaria fumando”, conta.

Rogério afirma que o cigarro o ajudava a passar o tempo sem ficar cansado e assim não precisava tomar rebite para virar a noite dirigindo. “Chegava a acabar com dois maços por viagem. Mas, na minha opinião, dirigir e fumar ao mesmo tempo prejudica a saúde e pode ameaçar a segurança nas estradas. Uma vez a cinza caiu em cima do banco e queimou, graças a Deus não aconteceu nada mas, podia ter me distraído e provocado um acidente. Espero que os meus colegas fumantes não tenham que passar por nenhuma experiência perigosa para se conscientizarem de que o cigarro é uma droga que faz mal a nossa saúde e à de quem está em nossa volta”, alerta.