Por Evilazio de Oliveira

Aos poucos, a logística passa a fazer parte do dia-a-dia de quem vive do transporte rodoviário de cargas, com ênfase para as pequenas e médias empresas que, seguindo o exemplo das maiores têm a expectativa de reduzir custos, melhorar o desempenhoda frota e tornarem-se cada vez mais competitivas no mercado. Para o carreteiro autônomo, o sistema de administração e controle de cargas acena com a possibilidade da obtenção de fretes com mais rapidez, através da programação das viagens feitas pelas empresas.

Há quem diga que os primeiros conceitos de logística foram utilizados por Alexandre, da Macedônia, em 334 a.C. quando comandou um exército de 35 mil homens numa marcha de 6.400 quilômetros para combater e vencer o exército combinado de persas e gregos composto por 40 mil homens e teria perdido apenas 110 soldados na batalha.

Os princípios estratégicos de Alexandre continuam atuais: inclusão da logística em seu planejamento; conhecimento dos adversários, terrenos de batalha e do tempo; novas tecnologias; desenvolvimento de alianças e manutenção de um único ponto de controle, centralizando as decisões. Até pouco tempo esses conceitos estiveram restritos ao uso militar.

No Brasil, o transporte rodoviário de cargas passou a se especializar e a incorporando os aspectos da logística a partir dos últimos 15 anos. Primeiro com a armazenagem, depois com os procedimentos de controle de estoques, carregamentos, documentação, entre outros. À medida que algumas transportadoras incorporam esses processos, desincorporam operações mais básicas. Com isso, acabam vendendo sua frota e sub-contratando terceiros como transportador. “Enfim, elas vão canalizando essa sinergia para a parte da logística. Essa será a tendência natural da evolução do mercado e da modernidade”, dizem os especialistas.

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Há 40 anos na estrada. Ezequiel acha que o setor de transporte está muito ruim e com ou sem logística e pequena empresa não tem salvação

O professor Marco Caldas, do Núcleo de Logística Integrada e Sistemas, da UFF (Universidade Federal Fluminense), destaca que é realmente incipiente o uso de técnicas modernas de logística na gerência das empresas no Brasil. Mas, os retornos de investimentos são alcançados muito rapidamente. Em torno de três meses, pois as economias em custos operacionais e de capitais são significativas. Esses projetos – afirma o professor Marco Caldas – envolvem otimizações de frotas, reduções em tempo de entrega e coleta, rotas mais inteligentes, entre outros. Acredita que faltam investimentos por parte de muitas empresas. “Por se tratar de uma área muito competitiva as empresas são obrigadas a negociar seus fretes para não perder clientes, fazendo com que sobre pouco dinheiro para estudos”.

A Coopercarga (Cooperativa de Transporte de Cargas do Estado de Santa Catarina), com sede em Concórdia/SC, existe há 16 anos, reúne 143 empresas de transportes e uma frota de mais de 1.400 caminhões, 2.600 funcionários e 33 filiais estrategicamente distribuídas no País e Mercosul. Transporta 1,8 milhões de toneladas/ano. Está entre os principais prestadores de serviço de logística do País, atingindo em 2005 um crescimento superior a 42% em relação ao ano anterior, com uma receita total de R$ 189 milhões. Esse desempenho – segundo a administração – se deve aos constantes investimentos na ampliação da frota e ao aperfeiçoamento das suas operações logísticas, modelo de gestão e capacitação profissional da equipe.

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Na opinião de Marcelo Ferreira o sistema funciona bem e favorece o carreteiro já que fica mais sossegado e não precisa procurar por frete

Para muitos carreteiros, porém, a questão da logística é um assunto remoto. Ou, na maioria das vezes, quase desconhecido. Aos 64 anos e 40 de estrada, o catarinense de Palmitos, Ínez Rodrigues – já aposentado – dirige um Scania 99 para um amigo no transporte de madeira do Paraguai e depois aceita carga para “onde aparecer”. Ele viaja com o filho do amigo, Ezequiel Press, de 20 anos, que também pensa “remotamente” em ir para a estrada, mas se for quer ir sabendo todas as “novas tecnologias, inclusive esse negócio de logística”. Ínez, que já trabalhou em grandes empresas, acha que essas novidades não ajudam muito: “O setor de transportes está muito difícil e o pequeno não tem salvação, com ou sem logística”.

O carreteiro Marcelo Ferreira de Oliveira, 30 anos, 12 de profissão, trabalha como empregado de uma empresa de Caxias do Sul/RS, transportando material de construção num Volvo 2003. Viaja apenas nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sem preocupação em procurar carga. A logística é feita pela empresa e ele sempre está na estrada, sem perda de tempo procurando frete. Apesar de a empresa ser pequena, afirma que o sistema funciona bem e favorece o carreteiro que pode trabalhar mais sossegado, sem necessidade de mais ficar “batalhando por frete”.

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Lafa Kleinschmitt acredita que devido o desenvolvimento desse modulo de gestão a maioria das empresas vão preferir trabalhar com agregado

Também para o carreteiro Evandro Luiz Ceolin, 26 anos de idade e sete de estrada, a logística no transporte de cargas tem funcionado muito bem. Afinal, mesmo morando no município gaúcho de Frederico Westphalen e trabalhando para uma madeireira de Sinop, no Mato Grosso, ele pode ir casa a cada 15 dias, mesmo que seja para um final de semana. Evandro transporta madeira de Sinop para Porto Alegre, leva arroz para São Paulo e retorna com material de construção. Ele dirige um bitrem e viaja com a mulher, Silvana, que cozinha e ajuda no que for preciso.

Na verdade, as operações de logística são complexas, envolvem muitas áreas e quando chega ao carreteiro, a engrenagem já está rodando há tempos. É o caso de um recente embarque de 12 mil cabeças de bovinos vivos do porto de Rio Grande/RS para o Oriente Médio. O embarque foi coordenado por Leonardo Vanzin, da RD Vanzin – Comércio Internacional, de Rio Grande. Foram utilizados 50 caminhões boiadeiros que fizeram a coleta dos animais nas fazendas, o transporte para uma propriedade próxima ao porto e por fim, o transporte direto para o embarque no navio. Uma operação complexa e que envolveu muitas pessoas de diferentes setores, mas que trabalharam em sintonia para que tudo desse certo. “Uma coisa está sempre ligada a outra na logística”, explica Leonardo Vanzin.

A Itaipú – Transportes e Logística Ltda., de Porto Alegre/RS, opera desde 1978 transportando cargas secas para Estados das regiões Sul e Sudeste, com uma participação cada vez maior no controle de estoque, almoxarifado e entrada e saída de mercadorias dos clientes, segundo explicam o gerente-administrativo da empresa, Nestor Luiz Giacomolli, e o gerente-operacional, Irani César Cattelan. A frota da Itaipu é composta por 60 caminhões próprios e outros 30 agregados, que variam de acordo com as necessidades do mercado. O trabalho de logística é feito diretamente na empresa do cliente, que pode se concentrar efetivamente na atividade a que se dedica e conhece.

Nestor Giacomolli acredita que o setor está carente de bons profissionais e as perspectivas para o futuro são muito boas. Isso apesar da resistência de alguns empresários, um problema cultural e que precisa mudar aos poucos. Lembra que a maioria quer resultados imediatos e reluta em fazer investimentos ou mudanças nos processos de gestão administrativa e de transporte e distribuição. Todavia, acha que através de cursos, seminários e a difusão dos bons resultados que a logística está obtendo, as coisas vão melhorar. Por enquanto, tudo está concentrado nos grandes pólos industriais, diz.

Na opinião de Lafa Kleinschmitt, sub-gerente da Recris – Transportes e Logística Ltda, de Torres/RS , e com filiais em Porto Alegre/RS, São Paulo/SP, Limeira/SP, Curitiba/PR e Rio de Janeiro/RJ – a logística ainda é muito recente e só agora começa a ser melhor difundida entre pequenos e médios empresários. As pessoas estão se interessando, fazendo cursos, se profissionalizando, afirma. O chefe de depósito da Recris, Lauro José da Silva, é o responsável pelo reparte e reembarque das mercadorias que são transportadas. E, também, o encarregado do treinamento do pessoal do depósito.

Kleinschmitt salienta que o desenvolvimento desse modelo de gestão, em pouco tempo a maioria das empresas vai preferir trabalhar com caminhões agregados. Acha que frotas próprias são dispendiosas, dão trabalho e até desviam o foco do trabalho. “Com os agregados, é uma dor de cabeça a menos”, diz.

O presidente do Núcleo de Logística do Rio Grande do Sul e diretor da Roma Cargo, de Porto Alegre/RS, Carlos Silvano, lembra que o “todo” da logística é o transporte. Esclarece que o setor é composto por 16 segmentos, dos quais cinco estão incorporados nos diversos modais de transportes. Por isso, os dois principais objetivos do Núcleo são a disseminação e estudos da logística e o enfretamento de gargalos que possam prejudicar o setor.

Segundo ele, pelo pouco conhecimento, as empresas brasileiras foram assumindo tarefas, cuidando do armazenamento e distribuição, previsões de estoques, surgindo os projetos integrados de logística. Dessa forma – esclarece – ao invés de 30 transportadores entrarem numa empresa, apenas uma pode se encarregar de fazer todo o serviço com mais agilidade e segurança e capacidade de acompanhar as flutuações do mercado.

Carlos Silvano, que já foi motorista de caminhão, vê com preocupação o futuro dos carreteiros autônomos. Os altos custos dos insumos, dos pedágios, os baixos valores dos fretes, a concorrência as dificuldades para a troca do caminhão são um grande problema para a categoria. Segundo ele, são necessários três caminhões trabalhando para pagar o custo de um caminhão novo.