Por Daniela Giopato
Para se manter competitivo no mercado de fretes o carreteiro deve cumprir alguns requisitos básicos estipulados pelos transportadores e embarcadores. Entre eles se destacam ter um caminhão com idade máxima de 10 anos e aparência e manutenção impecáveis. Porém, está cada vez mais difícil para o autônomo atender a essa exigência, mesmo com a disponibilidade – em teoria – de modalidades de crédito direcionadas ao seu perfil econômico. A dificuldade para atender a pesada burocracia imposta pelos agentes financeiros e a comprovação de renda (mesmo com a extinção da carta frete) são os principais entraves para leva-lo à desistir da tentativa de um novo veículo e até pensar que os planos existentes são direcionados para os pequenos empresários. Sem saída, o motorista acaba recorrendo aos bancos que liberamo crédito com mais facilidade, a um preço muito mais alto, e acabam assumindo dividas difíceis de serem pagas, devido ao valor desatualizado do frete e ao constante aumento dos custos operacionais.
Alfredo de Alencar, 60 anos de idade e 20 de profissão, de Gravatai/RS, é um bom exemplo dessa realidade. Ele explica não ter enfrentado dificuldade alguma para comprar o seu Mercedes-Benz L 1620, porém, teve que recorrer aos juros altos dos bancos. “Em menos de uma hora consegui a liberação, mas confesso que não foi fácil arcar com as parcelas. Mas tinha de fazer, porque estava perdendo oportunidades”. Em relação a opções como o Procaminhoneiro, criado para atender autônomos e micro empresários, Alfredo diz ser uma modalidade para atender interesses apenas de pessoas jurídicas. “Na cidade onde moro tenho um amigo dono de mercado, ele já recebeu diversas propostas para comprar caminhão através do Procaminhoneiro, enquanto eu, que preciso trocar de veículo, nunca fui procurado. Ninguém demonstrou boa vontade, pelo contrário, me apresentam uma série de dificuldades”, desabafa.
O fato de algumas empresas fazerem restrição quanto a idade do caminhão e aceitarem modelos produzidos apenas a partir de 2004 impulsiona os motoristas a se arriscarem com esses financiamentos de valores muito altos, afirma Alfredo. “Não concordo muito com essecritério. O meu caminhão, apesar da idade, está com os pneus novos, manutenção em dia e muito melhor do que muitos estacionados aqui. Mas como não tenho dívidas estou levando”, comemora. Celso Petry tem 30 anos de idade e ao lado do pai trabalha no transporte de frutas do Sul para São Paulo e retorna com cargas diversas. A família tinha um Mercedes-Benz 1516, fabricado em 1979 e um Ford Cargo 1418, ano 1989. O Mercedes foi trocado por um VW 24.250 ano 2008 para o pai trabalhar, enquanto o Ford Cargo passou para Celso. O veículo comprado foi financiado em 18 prestações de R$ 4.600. “Estamos trabalhando bastante para conseguir pagar, mas tínhamos de fazer isso para atender empresas que exigem veículo mais novo, apesar de o valor do frete não mudar em nada”, explica.
Na opinião de Celso, apesar de existirem diversas modalidades de financiamento – e algumas até com juros justos – a burocracia existente é muito difícil de ser atendida pelos autônomos. “As dificuldades de se conseguir um financiamento com juros baixos é tanta que a única saída é o banco e nesse caso arcamos com os altos valores das prestações”, desabafa. Celso acrescenta que a situação se torna mais complicada devido ao valor defasado do frete em relação aos custos do óleo diesel, por exemplo, cujo preço aumentou muito nos últimos dois anos. Outro motorista que também teve que arcar com os altos juros dos bancos para adquirir o seu primeiro caminhão, um modelo fabricado em 1988, é Petterson Alexandre Leandro, 30 anos de idade e nove de profissão, de Porto Ferreira/SP.
Conforme explica, ele trabalhava registrado e fez acerto para sair. O dinheiro recebido serviu para a entrada no veículo e o saldo foi financiado em 36 meses. “Como sabia das dificuldades do Procaminhoneiro, nem perdi meu tempo”, conta. Atualmente Petterson trabalha no transporte de areia e argamassa para Goiânia, Brasília e interior de São Paulo.
Mudanças nos juros |
Apontados como boas opções para a compra do caminhão, o PSI Finame e o Procaminhoneiro passaram por recentes mudanças que podem refletir no bolso do transportador. No fim do ano passado, o Ministro da Fazenda Guido Mantega, anunciou que a partir de janeiro deste ano as taxas para financiamento de ônibus, caminhões, bens de capital e do Procaminhoneiro passariam de 4% para 6% ao ano. “Como a taxa Selic subiu, a gente teve de acompanhar”, comentou o ministro na época. Outra mudança foi a condição de participação máxima do PSI: para as pequenas empresas, a linha de crédito financiará 90% do valor do veículo (antes era 100%) e para as grandes empresas passou de 90% para 80%. (EV) |
De acordo com o carreteiro, no banco as coisas foram mais rápidas, 15 dias para aprovar o crédito e há dois anos e meio ele assumiu um financiamento com parcelas de R$ 1.766,00. “Estou correndo atrás, faltam oito parcelas e assim que terminar de pagá-las quero me organizar para trocar outra vez. Algumas cargas, principalmente com horário, as empresas só entregam para os caminhões novos com, no máximo, 10 anos.”, explica.
A ideia é dar o seu caminhão de entrada e financiar aproximadamente R$ 100 mil na compra de uma carreta caçamba ou graneleira. Mas, Petterson cita que além de todas as dificuldades burocráticas, o faturamento baixo no final do mês também é um problema na hora de assumir um financiamento. “Está difícil trabalhar, o frete estacionou, enquanto isso temos de pagar muito alto pelo diesel, além de outras despesas como seguro do caminhão, estacionamento e agenciador de carga. Eu brinco que hoje comprovar renda é fácil, o difícil é ter renda”, comenta.
Aos 31 anos de idade e apenas dois na profissão, Josiel Penafiel, 31 de idade, de Charqueado/SC, roda na rota São Paulo e Sul e diz estar arrependido por não ter feito conta na hora de trocar de caminhão. Ele tinha um modelo médio fabricado em 2002, quitado, e deu na troca por um outro ano 2012. Lembra que toda parte burocrática foi bem fácil e rápida, porém, os juros ficaram altos demais e hoje ele arca com parcela de R$ 2.700 mais R$ 1.800 de seguro. Disse que na época tentou fazer a aquisição pelo Procaminhoneiro, mas uma das exigências era ter dois anos de registro na ANTT e como estava iniciando na profissão não conseguiu atender este quesito.
Comenta que antes da troca ele não tinha dívida e trabalhava tranquilamente, mas hoje não tem tempo livre, pois tem de estar na estrada para conseguir pagar as dívidas. “Troquei de caminhão para conseguir mais carga, mas hoje o valor do frete está muito ruim. É praticamente o mesmo para quem tem um veículo novo ou velho”, reclama. O seu faturamento bruto fica entre seis e oito mil mensais, desse total tira todas as despesas e sobra, no máximo, R$ 3.000,00 para sustentar a família. “Realmente não está fácil, para quem pensa em comprar ou trocar o caminhão é melhor fazer muita conta antes”, aconselha. No seu caso, faltam ainda três anos para terminar de pagar o financiamento.
Contas é o que faz o autônomo Gilberto José da Silva, 31 de idade e 17 de profissão, de Senhor do Bonfim/BA, que opera na rota Nordeste-São Paulo. Ele também sonha trocar o seu
caminhão ano 1988 por outro 2010, porém, vai aguardar passar o período da Copa para ver como vai ficar a economia do País, pois, sem perder o bom humor, diz que “a situação não está nada fácil. A única certeza que tenho é que vou fugir dos bancos o máximo que puder”, afirma. “Vou pesquisar bastante e tentar o máximo conseguir um financiamento com juros menores, pois hoje em dia não da para ficar assumindo dívidas muito altas, tem que fazer muita conta”, declara. Apesar de seu caminhão estar com mais de 20 anos de idade, ele garante que o veículo se encontra em ótimo estado de conservação e manutenção. “Tem muito caminhão aqui que nem se compara com o meu, mas infelizmente algumas empresas insistem em analisar apenas o ano do veículo”, lamenta.
Emerson Miranda, 30 anos de idade e 18 de profissão, de Cipó/BA, transporta cargas diversas entre Salvador e São Paulo. Há sete meses ele adquiriu um cavalo-mecânico ano 2003 a vista. Mas para concluir a operação ele vendeu o caminhão antigo e investiu em terras. Depois de o terreno ter valorizado ele decidiu adquirir um novo veículo. “Se eu soubesse que ficaria no vermelho teria ficado com o terreno”, brinca. “O preço do diesel está muito alto e já aumentou duas vezes, enquanto isso o frete continua o mesmo. Está difícil de se manter”, reclama.
Em sua opinião, o fato de estar com um caminhão ano 2003 não interfere em nada no momento da contratação do frete, muito menos no valor, e acredita que o importante é fazer a manutenção e deixar o veículo bem apresentável. Emerson pensa em trocá-lo, mas não quer entrar em dívidas e prefere esperar e realizar a compra de um modelo cujo preço caiba no seu bolso. “Hoje, financiamento algum atende as necessidades dos autônomos, todas as opções beneficiam apenas o governo e o microempresário. Por isso, o melhor caminho é tentar não se enfiar em divida, porque nós, autônomos, vivemos em uma eterna instabilidade financeira”, finalizou.
Boas referências |
O diretor operacional do Mira Transportes, Eduardo Cardoso, explica que em relação ao caminhão alguns aspectos são importantes para avaliação como a idade, o estado de conservação e a quilometragem. “Não adianta ter um veículo novo todo deteriorado. Também não pode ser muito velho, pois temos embarcadores que coíbem o carregamento em veículos acima de uma determinada idade”, justifica. Quanto ao perfil do carreteiro, Cardoso diz que o procedimento da Mira Transportes é checar de maneira mais efetiva as referências. “O ideal é o motorista ter boas referências e certa experiência.
Fazemos internamente com os nossos instrutores um teste de direção para melhor avaliação”. Dicas para o carreteiro se manter competitivo no mercado: – Ter o veículo sempre em boas condições mecânicas e cuidando sempre da aparência; |