Por João Geraldo
Economia para o transportador, segurança para o usuário, preservação do meio ambiente e geração de riqueza e emprego para os cidadãos. A definição é de um dos principais executivos de uma grande empresa do setor de recauchutagem, resume a importância da reforma de pneus para caminhões e ônibus, principalmente no Brasil, onde mais de 60% das trocas de mercadorias são feitas por rodovias. A definição facilita também a compreensão do porquê da existência de várias empresa em atuação no mercado brasileiro.
“A recapagem representa 1,1% do custo do frete, enquanto o pneu novo chega a 4,5%”, compara Roberto Ducatti, gerente geral da Bandag Mercosul e autor da definição acima. Ele acrescenta que o Brasil tem hoje a menor relação de preço entre um pneus novo e uma recapagem. “Conforme a marca, a recapagem custa de 20 a 25% do valor, enquanto nos EUA esta relação chega a 40%”, diz. Apesar da relação de preços existente no País, o custo com pneus está entre os maiores dos transportadores. A empresa tem uma rede com 140 reformadores e 40 deles têm certificação ISO 9001:2000.
“No caso específico do segmento do transporte rodoviário, os pneus reformados têm a função de reduzir os custos operacionais do transportador e dependendo do tipo, a reforma custa em torno de 7% a 25% do preço de um pneu novo, que, conforme o caso, pode oferecer o desempenho similar de produto um novo”, explica Fábio Basso, gerente de comunicação e marketing da DPaschoal.
Cristiano Labourne, diretor executivo da Unisa, acrescenta haver uma redução de 57% no custo do quilômetro rodado em relação a um pneu novo, além da economia de matéria-prima. “E no Brasil, o fato do transporte de cargas e passageiros serem feitos predominantemente por rodovias aumenta a importância do pneu no cálculo final do custo operacional do transporte”, completa.
Apesar da diferença de preço de um pneu recauchutado em relação a um produto novo suas vantagens vão além do preço. Quem enfatiza esta diferença são os profissionais do departamento de marketing da Drebor Borrachas, ao fazerem a seguinte comparação: “O pneu novo roda algo em torno de 80 mil quilômetros. O recapado com a tecnologia Drebor SPD roda aproximadamente 40% a mais; o custo de recapagem está em torno de 25% de um pneu novo. Além disso, para reformar ou recauchutar um pneu com tecnologia Drebor SPD se gasta menos petróleo do que para reformar por outro sistema e muito menos ainda do que para se produzir um pneu novo”.
Porém, o setor não é valorizado como deveria, defende Enio Provenzi, diretor comercial da Borrachas Vipal. “O maior problema esta na falta de valorização em relação à sociedade e, principalmente, os órgãos públicos. Um exemplo está na luta para enquadrar a atividade como recicladora, ou verde. Mas, ao contrário, a reforma de pneus é sempre colocada como poluidora”, dispara. Enio acrescenta ser impres cindível o alto nível da reforma, em razão da capacidade e da competitividade dos reformadores e fabricantes brasileiros.
A concorrência, na opinião de Ducatti, é extremamente salutar e faz com que cada marca tenha que se mover rapidamente e buscar soluções tecnológicas que atendam as necessidades dos clientes, de maneira eficiente e competente. “Encaro isso como um processo de seleção natural, onde somente as empresas competentes e com recursos adequados, que buscam soluções para os clientes poderão permanecer no mercado”, define. Este ano a Bandag vai lançar quatro novos desenhos de bandas para eixos de tração e livres.
Em relação à qualidade da reforma no País, Fábio Basso destaca a importância de lembrar aos transportadores que existem pelo menos oito tipos diferentes de reforma no Brasil. “A grande maioria acredita que existem apenas os sistemas popularmente chamados de quente e frio, mas estes dois tipos possuem variações que estão ligadas a fatores como o tipo de equipamento, de material e ao tempo e temperatura de vulcanização utilizados”. Basso conclui citando que cada uma delas oferece resultados e preços diferentes e daí a importância em saber diferenciar cada uma delas para não comprar gato por lebre.
É consenso entre as principais empresas do setor que a precariedade das estradas brasileiras obrigaram todos os fabricantes do setor de transporte a desenvolver tecnologia capaz de superar as más condições da malha viária.
Edson Tagliari, gerente de vendas da divisão Tortuga (empresa do grupo Vipal), diz que existe uma capacidade instalada ociosa, por isso cita que poderia haver menos empresas concorrendo no mesmo segmento, embora do jeito que está dá para competir de forma saudável. Tagliari também destaca a importância do setor e lembra que um pneu reformado custa, em média, R$ 300,00 e tem o mesmo rendimento de um produto novo.
Para Fábio Basso, o futuro do segmento vai depender de alguns fatores como a regulamentação do setor pelo Inmetro e a velocidade com que os segmento de transporte irá se modernizar. “Isto determinará qual o nível de confiabilidade que um pneu de transporte deverá ter, o que irá influenciar diretamente no tamanho do mercado. Quanto mais elevado for o nível de confiabilidade requerido, menor será o mercado de recapagem, pois mais carcaças terão de ser recusadas pelos reformadores”, opina.
Roberto Ducatti compara o volume anual de pneus recapados (cerca de oito milhões) com a produção (quatro milhões) e destaca a diferença do consumo de petróleo para se produzir um pneu novo – 28 galões de petróleo contra 9 galões para um pneu reformado. “Se não estivéssemos reformando oito milhões de pneus/ano, seriam necessário 12 milhões de pneus novos. Isso mostra uma economia significativa em divisas com petróleo, além de gerar 25 mil empregos diretos. Literalmente somos uma indústria de reciclagem. Não vejo outro segmento que recicle tanto”, disse Ducatti.
Profissionais do marketing da Drebor Borrachas defendem que o pneu reformado tem proporcionado ao segmento de transporte no Brasil – até mesmo em função das péssimas condições das rodovias – a Oportunidade de pesquisar e desenvolver alta tecnologia para recapagem de pneus. Trata-se de uma condição que a empresa aproveitou para criar um sistema exclusivo de recapagem, o qual aumenta a vida útil da carcaça e, auto-matica mente, reduz o número de pneus descartados.
Citam que existe no Brasil aproxi-madamen-te 11 milhões de pneus recauchutáveis, o que acirra a competitividade comercial e cria oportunidades de crescimento tecnoló-gico. Esta concorrência é benéfica para o consumidor e intermediário no final. Para conquistar o mercado é preciso inovara e evoluir sempre para alcançar melhores resultados e maior economia para o usuário final.
Basso acrescenta que independente do crescimento ou redução do número de pneus reformados, haverá cada vez mais espaço para empresas que agreguem valor ao cliente, não se limitando apenas a recolher pneus para reformar. Recapar pneus deverá ser apenas um dos itens de um amplo pacote de produtos e serviços que permitam ao transportador obter uma maior produtividade da frota.
Hoje, se forem incluídos os fabricantes de material para reforma, de equipamentos e de reformas de todos os tipos de pneus –chega a gerar 60 mil postos de serviço. E no caso específico do segmento de transporte, os fabricantes de pneus também concorrem no mercado com suas grifes. Caso do Novateck, da Pirelli, Recamic, da Michelin, e o sistema de reforma da própria Goodyear.