Revista O Carreteiro – A MWM International é um fabricante de ponta de motores diesel e distribui seus produtos no mercado interno e externo. Até que ponto o fato de ter sido adquirida pela Navistar alavancou os negócios da empresa no Brasil?
Roberto Santos – A fusão da MWM com a International, há quase quatro anos, completou a linha de motores da Navistar, pois nossos produtos permitiram que a corporação iniciasse seu processo de globalização utilizando a linha de motores da MWM. Lá nos Estados Unidos, a companhia tinha apenas produtos desenvolvidos especificamente para aquele mercado, e a aquisição da MWM fez parte do seu processo de globalização.
O Carreteiro – Isso significa que depois de passar a fazer parte do grupo Navistar, os motores da MWM passaram a atender novos mercados?
Roberto Santos – Nossa linha de produtos veio a propiciar um acordo feito com a China, com a concessão de um motor produzido aqui na América do Sul, que foi o NGD 3,0 e que a corporação não tinha nos Estados Unidos. Outro acordo – com a Índia – foi feito para o motor Acteon, que também não era produzido lá fora. Também iniciamos a exportação do motor Acteon Euro 4 para o México. Este produto também está sendo desenvolvido para atender a legislação de emissões dos Estados Unidos, a EPA 10. Temos acordo também com a China, para o motor NGD 3,0.
O Carreteiro – Com estas ações pode se dizer que a MWM International tem produtos de ponta e tecnologia para atender os mercados mundiais mais exigentes do mundo?
Roberto Santos – Sim, temos aqui no Brasil tecnologia atendendo os mais rígidos níveis de emissões exigidos tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.
O Carreteiro – A MWM precisou investir para atender mercados onde a tecnologia de emissões está muito à frente da legislação brasileira?
Roberto Santos – Para atender as exportações tivemos que fazer investimentos independentes da legislação local, pois estamos quatro anos defasados em relação aos mercados desenvolvidos. Sem investimentos estaríamos limitados ao mercado local e podendo exportar somente para os países que estão no nosso nível de emissões ou atrás. Os mercados com volume de motores são aqueles onde a legislação é mais exigente, então fizemos investimentos pesados para desenvolver motores Euro 4.
O Carreteiro – Você pode quantificar estes investimentos?
Roberto Santos – Durante o ano de 2007 investimos 66 milhões de dólares e mais 76 milhões este ano. Para 2009 já temos planejado mais 90 milhões de dólares em novas tecnologias, combustíveis alternativos, aumento da capacidade produtiva, entre outros itens, porque acreditamos no País.
O Carreteiro – Você disse que a MWM International começou a exportar motores que atendem o Euro 4 para o mercado mexicano. O País não adotou a norma de controle de emissões norte-americana, a EPA?
Roberto Santos – O México está ligado ao mercado norte-americano e lá existem duas legislações: a EPA 07 e o Euro 4. O país tem montadoras européias e americanas, por isso o governo mexicano resolveu adotar as duas legislações, que possuem níveis de emissões semelhantes. O que mudam são as características de como se chegar aos níveis exigidos, mas são equivalentes e o que vale mesmo é a questão ambiental, não importa a tecnologia.
O Carreteiro – Você poderia falar um pouco sobre os materiais que a MWM International utiliza para a produção de motores no Brasil.
Roberto Santos – Temos investimentos também em tecnologias de materiais para a produção de motores. No bloco dos motores Big Bore MaxxForce, de 11 e 13 litros, por exemplo, utilizamos ferro grafite compactado, cuja característica permite que você tenha um motor com dimensões menores, porém, com desempenho e performance de motores maiores.
O Carreteiro – Onde estes motores serão aplicados?
Roberto Santos – No ano passado, a companhia venceu uma concorrência mundial para fornecer os blocos usinados que irão equipar os caminhões pesados da Navistar, das linhas WorkStar, TranStar e ProStar, na fábrica instalada no Alabama, nos Estados Unidos.
O Carreteiro – Hoje, o maior motor da MWM International no mercado brasileiro de caminhões é o NGD de 9,3 litros e 370cv, que equipa o Volkswagen Constellation 370 e a montadora já anunciou que terá veículo na casa dos 400cv de potência. A MWM International já tem alguma novidade nesta direção, já que a Ford também é um cliente potencial para um motor acima de 370cv de potência?
Roberto Santos – O que posso dizer é que o nosso motor de 9,3 litros pode atingir até 400hp, mas independente disso, o Big Bore de 11 e 13 litros vão até 475 hp podendo chegar até 500hp e como disse seus blocos e cabeçotes são usinados no Brasil. Por isso, para nós é apenas um “passinho” a mais para disponibilizar um motor maior ou mais potente para o mercado brasileiro. Temos a tecnologia e para produzirmos um motor completo está fácil. E, num futuro próximo, poderemos atender aplicações que vão até 500hp.
O Carreteiro – Os transportadores brasileiros utilizam cada vez mais veículos específicos às aplicações e buscam maior produtividade e melhor custo benefício. Em relação à potência dos motores, você acha que seria viável no Brasil o uso de motores acima de 500hp?
Roberto Santos – A tendência do Brasil é acompanhar o que vem da Europa. Nas longas distâncias, o aumento da relação potência/tonelagem ajuda a melhorar a trafegabilidade dos veículos grandes. Até pela questão da topografia, nossas estradas têm muitas serras a serem transpostas e com uma melhor relação peso/potência se ganha maior agilidade.
O Carreteiro – A companhia tem obtido algum retorno da Volkswagen ou mesmo de transportadores em relação ao desempenho do motor do Constellation 370?
Roberto Santos – O NGD 370 vai indo muito bem. No início achávamos que se venderia 150 caminhões/mês e hoje já chegou a 400 unidades/mês e se fala em 500 ou 600. É um motor de 9,3 litros com desempenho de 370hp, enquanto os outros nesta faixa de potência têm mais de 10 litros para atender o que faz o nosso de 9 litros, o qual permite que o veículo tenha menos peso e possa transportar mais carga.
O Carreteiro – A MWM International poderia fornecer este motor para outros fabricantes de caminhões caso houvesse interesse?
Roberto Santos – Não temos compromisso de manter a Volkswagen Caminhões e Ônibus como o único cliente para o motor NGD de 9,3 litros. Se houver interesse de outras empresas estamos à disposição.
O Carreteiro – O mercado de motores anda de braços com o de
caminhões, que tem sido muito bom para toda a cadeia de fornecedores
de autopartes. O que a companhia espera para 2009?
Roberto Santos – Estamos trabalhando com perspectiva de crescimento do mercado em 2009. Pelos levantamentos, a safra que está sendo plantada vai superar a de 2007/2008 e com isso se espera um volume de 145 milhões de toneladas para 2009. Isso mexe com o mercado de caminhões e significa que a demanda por veículos de carga vai se manter.
O Carreteiro – Como a MWM International encerra 2008 e quais as previsões para o próximo ano em relação à comercialização de motores da marca?
Roberto Santos – Vamos encerrar 2008 com 20% de participação no mercado de caminhões e a nossa produção chegará em 145 mil motores contra 122 mil do ano passado, que nos deu 19% de participação. Para 2009, nossa expectativa é de crescimento, com previsão de chegar a 160 mil motores, isso contando com o mercado mexicano, mesmo que seja um mercado menor, mas para nós é acréscimo. A mesma coisa acontece com a Índia. Em relação ao Mercosul, somos líderes com 32% da produção de motores diesel. Até setembro deste ano tínhamos participação de 24% em todos os veículos comerciais produzidos no Mercosul, picapes, caminhões e ônibus.