Por: Ana Maria Rezende

Com uma malha rodoviária de 6.489 quilômetros de rodovias federais, a maior do País, Minas Gerais é também o Estado com maior número de acidentes envolvendo veículos. Só em 2012 aconteceram 26.771 ocorrências que deixaram 1.196 vítimas fatais. Ano passado, foram registrados 26.043 ocorrências, com 1.243 mortes. Mesmo considerando o aumento de 7,5% da frota do Estado, elevando para 81,3 milhões de veículos houve pequena redução no número de acidentes, mas em contrapartida as mortes aumentaram.

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Dentro do Estado de Minas Gerais, a BR-040 tem como um dos seus pontos críticos o trecho entre os municípios de Barbacena e Santos Dumont

O levantamento estatístico realizado pelo Atlas da Acidentalidade no Transporte Brasileiro – 2008/2012, publicação do Programa Volvo de Segurança no Transito, indica que a falta de atenção do motorista foi principal causa dos acidentes nas rodovias mineiras em 2012. Das 26.771 ocorrências, 21.860 envolveram caminhões, ou 81% do total.

Um dos pontos críticos do Estado é a BR-040, sendo o trecho mais perigoso entre as cidades de Barbacena e Santos Dumont, próximo do km 121, na Zona da Mata mineira. Em 28 de agosto, um acidente entre duas carretas, provocado por ultrapassagem indevida, deixou um dos motoristas morto e mais de 15 quilômetros de congestionamento.

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Inspetor da PRF, Aristides Junior, destaca o sistema de monitoramento feito pelo Sintrauto como uma das ações que para reduzir o número de acidentes

Em 04 de setembro, outra ocorrência parou Contagem, município na região metropolitana de Belo Horizonte. Desta vez um caminhão tanque, vazio, ficou pendurado sobre pequena passagem inferior e o trânsito interditado por quase um dia nas duas mãos de direção, devido ao perigo de explosão. O motorista, que saiu ileso, confirmou que dormiu ao volante.

No entanto, a rodovia com maior número de acidentes – não só em Minas, mas no Brasil – é a BR-381. Na travessia de Contagem, próximo aos quilômetros 491 e 498 aconteceram 720 acidentes e 16 mortes. Outras 285 ocorrências, em 2012, aconteceram próximas ao acesso da BR-262, pouco antes de Betim para quem sai de Belo Horizonte. Outros pontos críticos no Estado estão nas curvas antes de chegar a Itaguara/MG e próximo a Carmo da Cachoeira/MG, já considerados trágicos pelos motoristas de caminhão.

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Perto dos quilômetros 491 e 498 foram registrados 720 acidentes e 16 mortes em 2012. Outros pontos críticos da BR-381 sãos curvas antes de chegar a Itaguara

Sem ligação com o mar, o Estado de Minas Gerais é rota para o Interior do País, cortado por rodovias com maior parte de suas extensões cheias de curvas para vencer a topografia irregular, mas não serve de desculpa para o alto número de acidentes. Imprudência e pressa de chegar ajudam a explicar as ocorrências. Em Santa Catarina, por exemplo, um radar flagrou uma carreta a 140 km/hora.

A falta de atenção foi a principal causa de acidentes com caminhões, porém o índice de maior letalidade é a ultrapassagem indevida, muitas delas praticadas por automóveis. Hoje, com facilidade do crédito, motoristas inexperientes, treinados tardiamente, apenas para o ato de obter a carteira. Não respeitam sinalização, se acham poderosos em seus carros seguem sem observar e ultrapassam. Como muitas estradas mineiras são da época de Juscelino Kubistchek, estreitas e sem acostamento e cheias de curvas, a colisão frontal é certeira como tiro de carabina. Em Minas, morre mais vítimas de acidentes do que de homicídios. O Estado ocupa a quarta posição, ficando atrás de São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro.

Acidente na BR-381 entre um carro de passeio e uma carreta, ocorrido em 2007, é um dos mais graves registros na rodovia que Liga Belo Horizonte a São Paulo
Acidente na BR-381 entre um carro de passeio e uma carreta, ocorrido em 2007, é um dos mais graves registros na rodovia que Liga Belo Horizonte a São Paulo

De acordo com levantamento da Polícia Rodoviária Federal em 2013, em 10 anos (2002 a 2012) houve um aumento de 59,2% nos acidentes de trânsito em Minas Gerais. Devido ao arrojo tecnológico, os motoristas passaram a confiar mais nos caminhões e há abuso da velocidade. Segundo os dados apurados, velocidade incompatível e falta de atenção foram as principais causas de acidentes letais no ano passado.

Mas existem ações acontecendo para se tentar reduzir os acidentes nas estradas. Um Sistema de Monitoramento de Velocidade feito pelo Sintrauto/MG (entidade que reúne empresas transportadoras de automóveis) diminuiu o número e a violência dos acidentes nas estradas, conforme disse o inspetor Aristides Junior, da Polícia Rodoviária Federal.

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VELOCIDADE E ACIDENTES CONTROLADOS

Para fazer a diferença é necessário pensar coletivamente, mesmo que de início a atitude tomada não agrade. O Sintrauto/MG e o Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais, em parceria com a Sada, além de outras empresas transportadoras de automóveis da Fiat, realizaram uma proeza e diminuíram os acidentes nas estradas. Foi preciso chegar a prejuízos extremos, tanto materiais quanto de vidas para encontrar a solução.

As carretas cegonhas desviavam de árvores, de modo que outros motoristas procuravam ficar longe delas. Eles eram considerados os mais descabeçados das estradas, por causarem acidentes catastróficos tanto em número de vítimas, quanto financeiros. Dentro dessa perspectiva, o Sintrauto propôs aos seus associados criarem uma central de monitoramento de velocidade e também de controle de jornada de trabalho. A velocidade passou a ter limite de 90 km/h e a cada parada o motorista precisa justificar o motivo. Além disso, ele tem de fazer leitura biométrica para o veículo parar, repassando imediatamente os dados para a central.

Caso o veículo trafegue em velocidade acima do limite, o motorista é advertido por uma lanterna instalada dentro da cabine. Na época que começaram a ser instaladas, faltou lanternas no mercado em Betim, pois foram mais de 1.500 delas e, e de acordo com a demanda, o preço pulou de R$ 60 para R$ 200 a unidade. Se ocorrer do motorista exceder os 90 km/hora, ele fica impossibilitado de viajar por um dia e tem sua folga forçada descontada. No início, algumas empresas filiadas questionaram a decisão com medo de perder faturamento, mas com o tempo perceberam que a exigência foi acertada.

O presidente do Sintrauto, Carlos Roesel, explicou que o processo teve início em 2013 e entrou em operação em janeiro de 2014. Com a velocidade limitada a 90 Km/hora, os tombamentos foram zerados e também os problemas com as seguradoras. Eram muitos acidentes com perdas totais; vítimas e carga. Como se tratava de carga cara, nenhuma queria assumir o risco. A mudança foi sentida, pois as seguradoras passaram a dar bônus, como assistência 24 horas para veículos e motoristas. Se necessário, até helicóptero é disponibilizado. Outros ganhos vieram por acréscimo, segundo Carlos Roesel, como os gastos com pneus, que reduziram em 50%, além de lonas de freio etc.

Porém, ainda é preciso continuar mantendo um olho nas árvores estradeiras (para não riscar os carros) e outro na luz da lanterna que alerta a velocidade controlada. “Acidentes – que antes da redução de velocidade, eram perda total e pior, com vítimas – hoje são poucos, porque menos estressado o motorista mais atento, produz mais e se sente mais feliz”  finalizou Roesel.