Anunciado há quase dois anos, finalmente o Mercedes-Benz Accelo com transmissão automatizada começou a ser comercializado como o primeiro caminhão de pequeno porte disponibilizado no mercado brasileiro com esta opção, ao custo de R$ 5 mil
Por: João Geraldo
E la apareceu no Brasil no início dos anos 2000 como item opcional para os caminhões extrapesados, porém, a um preço à época considerado alto, na faixa de R$ 16 mil. A Scania foi a primeira montadora a disponibilizá-la, depois vieram Volvo, Mercedes-Benz e as demais. No começo não chamou muito atenção dos transportadores, mas depois de algum tempo caiu de vez na preferência dos motoristas e frotistas, ao ponto de ter conquistado o posto de item de série nos caminhões rodoviários.
Estamos falando da transmissão automatizada, hoje presente em praticamente 100% dos caminhões pesados que saem da linha de produção. Dada à sua eficiência e vantagens, tanto para o motorista quanto para o frotista, opcionalmente ela já marca presença também em boa parte dos modelos semipesados de todas as montadoras.
Agora está chegando aos caminhões leves e médios, e começa a dar sinais de que deverá ser uma opção com potencial de também deslanchar na preferência dos transportadores que operam na distribuição urbana de cargas. Toda a linha Mercedes-Benz Accelo, por exemplo, passou a ser oferecida em maio com transmissão automatizada, ao custo adicional de R$ 5 mil.
Vale lembrar que quando se falava da disponibilidade da transmissão automatizada para caminhões leves, o custo dessa tecnologia em relação ao preço do veículo sempre apareceu como uma das barreiras para sua adoção nos modelos menores. A unidade adotada para o Accelo é fabricada pela Eaton, tem seis velocidades e já está disponível para todas as versões: 815, 1016 e 1316.
O próximo caminhão leve automatizado a chegar ao mercado brasileiro, ainda este ano, deverá ser o Volkswagen Delivery, sobretudo porque se trata de um dos maiores concorrentes do Mercedes-Benz Accelo. Em 2017, a montadora de Resende/RJ já tinha um modelo da linha antiga rodando em testes na operação do atacadista Martins, de Uberlândia/MG.
É possível que o leitor mais atento vai se lembrar que na edição da Revista O Carreteiro de outubro de 2017, foi publicada matéria sobre a disponibilidade do Accelo com essa transmissão, a qual fazia parte de um pacote de 15 atualizações e modificações aplicado à toda a linha de caminhões da montadora.
No caso do modelo, a relação incluía também cabine estendida com maior espaço interno, banco com amortecimento pneumático e vários ajustes, porta objetos e tanque de combustível adicional com capacidade para 150 litros (elevando para 300 litros a capacidade total) e de Arla32 com 25 litros. Também entraram na conta sensor auxiliar de partida em rampa, de alerta do cinto de segurança e sensor que identifica a carga sobre o caminhão, além de ABS EBD, ASR e espelho com regulagem elétrica, computador de bordo e sistema de diagnose.
A demora de quase dois anos se deve ao tempo que as engenharias da montadora e a da Eaton precisaram para tornar a sincronia entre o motor MB OM 924 de 4,8 litros e a transmissão Eaton EA 6106 AMT a mais harmônica possível. “Era necessário ter um produto pronto no padrão da nossa marca”, disse Marcos Andrade, gerente de sênior de produto caminhão da Mercedes-Benz do Brasil.
Ainda segundo sua explanação sobre as vantagens da transmissão automatizada, Andrade mencionou a obtenção de menor consumo de diesel em relação à versão com transmissão manual. “A caixa automatizada nivela os motoristas com os melhores profissionais e pode dar até 10% de economia de combustível, troca a marcha na hora certa e protege o trem de força”, concluiu. A primeira empresa a testar o Accelo automatizado é a Jamef Encomendas Urgentes.
FOCO NO CLIENTE DO FORD CARGO
Decidida a conquistar maior parte possível do espaço deixado pelos Ford Cargo leves 816 e 1119, para oito e 11 toneladas de PBT, respectivamente, a Mercedes-Benz não demorou para lançar um produto destinado ao cliente que comprava esses modelos. Isso porque a saída da montadora do mercado de caminhões em toda a América Latina deixou para trás um cobiçado espaço. Em 2018, por exemplo, a Ford encerrou o ano com 11% de participação no mercado global de caminhões e 26,4% só no segmento de leves.
O Accelo que a Mercedes-Benz começou a disponibilizar para atrair também o público do Ford Cargo é um veículo simples e com preço mais acessível. Para oferecer preço competitivo, o modelo não tem ajustes na coluna de direção e nem amortecimento no banco do motorista e só é disponibilizado com cabine curta.
Mas tem como itens de série chave com imobilizador, e chave elétrica geral, preparação para instalação de rádio, freios ABS, EBD (Distribuição eletrônica da força de frenagem dos eixos), painel com computador de bordo e sistema de diagnose e aquecimento.
A exemplo de outras versões da família leve/média, o veículo atende a uma faixa de carga entre 5 e 10 toneladas de PBT, nas versões 815 e 1016, e também será disponível na versão 1316, com terceiro eixo e capacidade de 13 toneladas de PBT. Vale lembrar que essa última já atende ao segmento de caminhões médios, que pela classificação da Anfavea, associação que agrega os fabricantes de veículos automotores, são aqueles caminhões que atendem o PBT (peso bruto total) de 10 a 15 a 10 toneladas.
Andrade, acrescentou que o modelo pode receber plataforma para até 38m3, e que pode ser aplicado tanto em operações quanto em média distância. “Desde o lançamento, em – em substituição do Mercedinho 710 -, o Accelo já trazia o conceito de carro de passeio, perceptíveis no volante de automóvel e com regulagens, porta objetos, freio a disco, entre outros detalhes.
Um dos pontos fortes dos caminhões Accelo está no trem de força formado pelo motor Mercedes-Benz OM 924LA de 4,8 litros e transmissão Eaton. Esse motor entrega 156cv de potência e apresenta torque diferenciado dependendo do modelo. Nas versões 1016 e 1313, por exemplo, o propulsor atinge 610 Nm, já para a versão 815, o torque máximo é de 580 Nm. Já a caixa de transmissão manual tem cinco velocidades e a automatizada, por sua vez, conta com seis, sendo a última overdrive.
O vice-presidente de vendas e marketing caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, Roberto Leoncini, acrescentou que o Accelo é equipado com o mesmo motor dos caminhões da marca para 17 toneladas produzidos pela companhia. O executivo referiu-se aos modelos da família Atego 1419, para distribuição de bebidas, além de três versões do 1719 4×2, sendo duas plataformas e uma para coleta de lixo. Para esses caminhões, a engenharia da Mercedes-Benz elevou o torque do motor OM 924LA de 4,8 litros para 185cv de potência e torque de 700Nm.
MERCADO
Até abril deste ano, foram emplacadas 1.795 unidades do Accelo leve, volume que garantiu à marca 38.8% de participação no segmento. Foram 723 unidades da versão 1016, 493 da 815 e 54 915E (para veículos blindados). Este volume garantiu à Mercedes-Benz a liderança entre os modelos médios, com cerca de 36% de participação no segmento. O Accelo 1316 (médio) atingiu no período 169 unidades emplacadas.
AUTOMATIZADO EM TESTE
Em outubro passado, a Mercedes cedeu quatro unidades para testes à Jamef Encomendas Urgentes, em primeira mão. O gerente de manutenção da frota, Juliano Alba, afirmou que os motoristas aprovaram o veículo com essa tecnologia nas operações de entrega de encomendas rápidas, nos trechos rodoviários e também nas transferências de carga entre nossas unidades. “Os resultados superaram nossas expectativas. São muitas vantagens que superam a versão com transmissão manual no quesito custo por quilômetro, conforto do segurança e conforto para o motorista”, acrescentou.
“Trabalhar com entregas e coletas dentro da cidade de São Paulo é difícil, tem muitas restrições, porque não é todo caminhão que entre em qualquer lugar. Têm de ter paciência disse o motorista da empresa, Fábio Faria Guimarães. Ele destacou que trabalhar com um caminhão automatizado é muito cômodo, pois só tem os pedais do acelerador e freio e facilita a vida do motorista.
A também motorista da Jamef, Daniela Santos, acrescentou que trabalhar em áreas urbanas, principalmente na região metropolitana de São Paulo, onde tem congestionamentos para todos os lados, cansa muito. Ela afirmou que com a transmissão automatizada muda tudo, pois é só acelerar o veículo e as marchas vão se encaixando. “Você nem percebe que os engates estão acontecendo. É muito bacana e no final do dia não estou cansada”, declarou a motorista.
Atualmente, a Jamef ((junção das iniciais de José Alves Martins e Filhos) opera com 900 caminhões (600 próprios e 300 agregados). Do total da frota, 100 são caminhões Accelo fabricados a partir de 2013, portanto com transmissão manual. Alba destacou que esses veículos estão operando em diversas regiões do Brasil e alguns deles conduzidos por motoristas mulheres. A empresa é especializada em encomendas urgentes de cargas fracionadas tais como comércio eletrônico, varejista, têxtil, farmacêutico e automotivo, entre outros.