Diferente dos aplicativos de frete, porém com modo de operar parecido ao dos automóveis por aplicativo, a transportadora digital já se tornou uma realidade no mercado brasileiro. E tal qual uma empresa de transporte física, disponibiliza carga para motoristas autônomos

Por João Geraldo

Diante da velocidade em que ocorrem as transformações no segmento do transporte rodoviário de cargas, possivelmente os caminhoneiros de algumas décadas à frente do nosso tempo avaliem a atividade dos exercida hoje pelos autônomos como atrasada e repleta de dificuldades. Muitos desses carreteiros nem nasceram ainda, mas certamente ouvirão falar ou ler algo a respeito da carta frete, caminhões a diesel, acidentes nas rodovias, ladrões de caminhão e de carga, estradas perigosas, frota que polui, rodovias sem infraestrutura e dificuldades com o frete, entre outras realidades bastante conhecidas.    

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Essa visão, apesar de coerente, também traz com ela a dúvida se os avanços esperados vão melhorar a vida do motorista de caminhão. Hoje, por exemplo, é visível que as mudanças ocorridas no setor nas últimas cinco décadas trouxeram melhorias, embora haja ainda muito saudosismo na estrada. Porém, baseado nos avanços já conhecidos, é de se esperar um futuro mais amigável para a profissão e os profissionais do futuro.

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Somos uma empresa de transporte, não um agenciador de carga que faz a intermediação entre a indústria, transportadora
e o caminhoneiro, afirmou Ivan Ferreira, da UpperTruck

Na opinião de Ivan Ferreira, profissional há quase 20 anos do ramo do transporte rodoviário de cargas e fundador da transportadora digital UpperTruck, criada há sete anos, sem dúvida haverá melhorias para o motorista de caminhão. Para ele, a cultura de aprendizado tende a evoluir entre os profissionais do volante, e por conta disso haverá em breve uma estreita distância entre a categoria e as tecnologias.

Ferreira apostou na tecnologia para criar a plataforma digital, a qual hoje conta com mais de 400 caminhoneiros em com maior atividade, e entre 15 e 20 clientes embarcadores, sendo alguns têm com maior frequência, de três a cinco cargas por semana. A UpperTruck é diferente dos aplicativos de carga, conforme disse. “Para o embarcador somos o transportador e para o autônomo somos a transportadora atendendo a um mercado novo, a logística 4.0″, explicou,  frisando que sua empresa é uma transportadora de cargas e não um agenciador que faz a intermediação entre a indústria, transportadora e o caminhoneiro.

Ele reforçou que não existe a possibilidade de um agenciador se cadastrar como se fosse embarcador. Também não é possível que tenham acesso aos dados da carga ou do motorista, porque o banco de dados pertence à transportadora digital UpperTruck. Garante que a sua plataforma é segura para os motoristas que queiram transportar, sem o risco de a carga não existir – como tem reclamado os motoristas de estar acontecendo com os aplicativos de frete.

Conforme reafirmou, o seu cliente dono da carga é a própria empresa embarcadora, e, a UpperTruck como transportadora de carga reúne os principais componentes necessários à operação do transporte, como um tomador de carga, um transportador autônomo e alguém que formalize esse casamento”, acrescentou.  Ele destaca que existem no mercado milhares de empresas e profissionais, por isso é preciso haver o compromisso de assumir as responsabilidades civis, criminais e pelo perfil do transportador antes da saída da carga. Isso porque o carreteiro cadastrado na transportadora digital transporta em condições análogas à de um motorista de carro Uber. “É o verdadeiro padrão Uber. Só não temos ainda um pagamento dentro da plataforma, mas é coisa que precisa ser desenvolvida”.

Na prática, a empresa opera do modo como as transportadoras fazem há décadas. “Elas têm um cliente, ou uma indústria com necessidade de transporte e consegue alguém para fazer o trabalho. A diferença é que hoje tem a tecnologia, a qual ampliou os horizontes, porque você não necessita mais estar fisicamente no local para que as coisas aconteçam. Você precisa simplesmente de um cliente que tem uma necessidade de transporte e um transportador autônomo”, explicou.

Para o carreteiro trabalhar para a transportadora digital é normal haver, numa primeira fase, os procedimentos para identificação de seu perfil, tais como uma “selfie”, fotos do caminhão e dos documentos. “E numa etapa seguinte é feita a verificação do gerenciamento de risco, homologado, por empresas como a Buonny e Pamcary. Com essas informações podemos considerar o carreteiro um profissional apto para fazer o transporte das nossas cargas”, explicou.

Ainda de acordo com Ivan Ferreira, tudo é gerenciado por GPS e uma plataforma mobile, a qual é também uma ferramenta que pode ser associada à segurança do autônomo que está sempre conectado durante a viagem, conforme destacou. Ele lembra que hoje é muito caro para o caminhoneiro pagar mensalmente um plano de rastreamento, sem contar o custo de instalação do kit.  “Como no sistema de “uberização”, o motorista tem acesso ao contrato de transporte e pode tirar foto do canhoto na hora que a operação termina. Tudo é acompanhado on-line pelo cliente por meio de uma plataforma, após ter recebido um código e um usuário”, detalhou.

O aplicativo da UpperTruck é encontrado apenas na loja do Play Store (smartphones Android). Ivan Ferreira reconhece que o nome UpperTruck apresenta certa dificuldade para ser pronunciado, porém ele explica que isso se deve a tendência tecnológica norte-americana, mas disse que não há qualquer problema na pronúncia errada. “O importante é o motorista saber para que serve, porque existe hoje muita ociosidade na frota de caminhões e nós procuramos vender mais oportunidade e menos ociosidade para o motorista de caminhão autônomo”, concluiu.  A empresa trabalha com caminhões que vão desde VUC a carretas, exceto as graneleiras.