Embora não seja um nicho de mercado que absorve uma grande quantidade de caminhões, os cavalos mecânicos de entrada, com potência entre 290 e 330cv de potência tem sido boa opção para cargas na faixa entre 30 e 40 toneladas de PBTC, com semirreboques de até dois eixos espaçados baú, sider, carga seca e porta contêiner, entre outras configurações
Por João Geraldo
Faz um bom tempo que caminhão começou a deixar de ser pau para toda obra e passou a ser tecnicamente especificado para a aplicação que se destina. O transporte de carga se especializa a cada dia e quem é do ramo sabe que quanto mais otimizado ao trabalho, melhores serão os resultados proporcionados pelo veículo. É por esse motivo que o portifólio das montadoras reúne uma gama de produtos cada vez mais adequados aos nichos de mercado, levando em conta tara, relação de marchas, do eixo de tração, entre-eixos e tamanho da cabine, entre outros pontos levados em conta para se obter um melhor rendimento do veículo.
Qualquer que seja a necessidade, do cliente ou transportador, há sempre mais de um fabricante com produto para atendê-lo. Um desses nichos é o de cavalos mecânicos 4×2 leves, considerados veículos de entrada para composições articuladas. Trata-se de um nicho de mercado de pequeno volume, e muitas vezes específicos, onde quanto mais otimizada for a operação, mais rentável ela será e, eventualmente, os modelos dessa categoria podem substituir os semipesados rígidos 8×2. Mesmo atrelados a semirreboques de três eixos, nenhum deles ultrapassa a relação mínima de potência de 5,7cv/tonelada indicada pela ABNT.
No Brasil, apenas a Iveco não disponibiliza cavalo mecânico 4×2 nessa categoria, embora o produza na Argentina o Tector 170E30T 4×2, com motor de 300cv e transmissão automatizada Eaton Auto-Shift de 10 velocidades, para atender demanda do mercado local. O modelo já se encontra em processo de homologação para atender esse nicho de mercado no Brasil e de acordo com informação da montadora pode ser comercializado aqui a partir de pedido especial.
A Iveco já participou desse segmento no Brasil, quando em 2006 lançou o Euro Cargo Cavallino 320, um modelo para 43 toneladas de PBTC equipado como motor Cursor 8 de 7,8 litros e 320cv de potência. A fabricante enfatizava na época que acoplado a um semirreboque de três eixos o veículo tinha uma das mais altas relações peso/potência (7,7cv para cada tonelada).
Os cavalos mecânicos 4X2, na faixa de 300 a 330cv de potência, são veículos mais adequados às operações de curtas distâncias e dão melhor resultado ainda se a operação for em terrenos planos. As aplicações variam de semirreboques baú, sider ou até mesmo carga seca, tanque, porta contêiner e carga geral.
Essas são algumas das aplicações nas quais se encaixa o Scania P 310, conforme assegura Alexandre Carvalho, engenheiro de pré-venda da fabricante. “O P 310 tem o espaço dele, em alguns casos para operar com carreta de três eixos”, comentou. O engenheiro acrescenta que o modelo, que é disponibilizado somente com cabine teto baixo, oferece duas opções de entre eixos: 3.550mm e 3.350mm e que agora, com a nova resolução do Contran, vai poder receber um tanque de carga maior.
Quem utiliza esse tipo de produto entende bem a importância de ter a tara do veículo otimizada, do entre eixos e cabine. Tudo isso para rodar não com peso atoa, disse o gerente de engenharia da Volvo Caminhões, Álvaro Menoncin. Ele explicou que os cavalos- mecânicos na faixa de 300 a 330cv de potência podem ser engatados a carretas de três eixos, mas alerta que se a carga for pesada, o ideal é que a operação seja em pequenos trechos. “Esses veículos são mais limitados, por isso, rodar com peso entre 35 e 38 toneladas de PBTC em terrenos mais planos ajuda a obter melhor rentabilidade”, explicou. O produto da Volvo para esse nicho de mercado é o VM 330, modelo equipado com motor de 7,2 litros e transmissão manual e automatizada.
Menoncin disse também que se trata de um nicho de mercado que os clientes reconhecem essa relação e procuram operar com veículo mais otimizado possível. Ele destaca como exemplo o transporte de de colchões, travesseiros, isopor e papelão, cargas leves e específicas, para as quais atender o cliente é preciso ter o conjunto motorização, cabine e entre-eixo mais adequados possíveis à operação.
Também de olho nesse mercado, a MAN Latin America passou a disponibilizar o Volkswagen 17.280, um cavalo mecânico de pequeno porte e com boa aceitação no mercado argentino. O engenheiro de marketing de produto da MAN Latin America, Claudio Santos, explicou que esse mercado ainda é pequeno no Brasil, cujo volume médio era de 10 unidades anuais até antes da crise, porém, disse que há uma tendência de crescimento para os próximos anos.
Santos classifica o modelo da marca como um veículo bastante versátil podendo atuar em diversos segmentos, sendo os mais indicados são os de carga seca, principalmente para o transporte de produtos hortifrutigranjeiros e furgão de cargas gerais. Ele acrescenta que o Constellation 17.280 4X2 e o modelo rígido 8X2 se complementam e tornam o portifólio da montadora mais completo. “Em busca de maior produtividade e redução dos custos operacionais, alguns clientes que utilizam caminhões rígidos na configuração 8X2 estão migrando para o cavalo mecânico 4×2 leve. Desta forma, o PBTC legal passa de 29 para até 36 toneladas”, concluiu.
O produto da Mercedes-Benz nessa categoria é o Atego 1730 4X2, modelo indicado para aplicações que vão desde a distribuição de cargas dentro das cidades até operações rodoviárias. Equipado com motor de 286cv, câmbio de nove marchas e eixo traseiro simples, o veículo tem capacidade máxima de tração de 36 toneladas e, de acordo com a fabricante, pode ser utilizado com semirreboques de até dois eixos espaçados baú, sider, carga seca e porta contêiner, entre outras configurações.
Marco Andrade, gerente de produto caminhão da Mercedes-Benz, confirma que o Atego 1730 é um produto para esse nicho de mercado. Explica que se trata de um veículo para cargas de volume e pouco peso e que pode trafegar bem em locais onde o 8×2 (precisa de entre-eixos grandes, 6.300mm e 6.900mm) tem dificuldade para entrar e manobrar. No entanto, frisa que o mercado de cavalos mecânicos de entrada já foi um pouco maior, porém diminuiu com a expansão dos modelos 8X2.
Andrade acrescenta que a Mercedes-Benz conta ainda com o cavalo mecânico 1933 4×2, equipado com motor de 326cv, caixa de câmbio automatizada de 16 velocidades e eixo traseiro sem redução nos cubos. Com capacidade para carregar até 48,3 toneladas de PBTC, o modelo pode ser atrelado em variados tipos de implementos de três eixos. “De modo geral, o mercado de cavalos mecânicos 4×2 é pequeno, sendo que em 2017 foram vendidas 1.900 unidades de todas as marcas”, concluiu.
A Ford, por sua vez, conta com duas opções do Ford Cargo 1731 T, ambas com a mesma motorização (Cummins ISB 6.7 litros, 6 cilindros e 306cv a 2.100rpm), porém uma delas tem câmbio manual automatizada TorqShift (Eaton ES-11109 LA de 10 velocidades), o que exigiu da en mudanças técnicas no veículo e componentes e funcionamento do sistema de embreagem, por exemplo. O eixo de tração tem alteração entre as versões.
Outras especificações técnicas, como freio motor, freio de serviço e de estacionamento, direção, pneus e rodas e sistema elétrico, também não se diferenciam entre o Cargo 1731 T manual e o TorqShift. Já em questão de desempenho, há diferenças a favor da versão automatizada nos itens capacidade máxima de subida e partida em rampa.
Guilherme Teles, supervisor de marketing da Ford Caminhões, explicou que duas opções do Cargo 1731T 4X2 são indicadas pela Ford para aplicação principal com semirreboque em operações logísticas de médias e longas distâncias. Acrescenta que a versão mais vendida é a versão com caixa de câmbio automatizada TorqShift, mesmo com o preço cerca de 14 mil reais maior do que o modelo manual. “A preferência se deve ao conforto percebido pelos motoristas e a produtividade gerada pela transmissão automatizada, quando comparada à manual”, completou o executivo.