Por João Geraldo

Pelas previsões da Conab – Companhia Nacional de Abastecimento, a produção de grãos deste ano deve ultrapassar os 127 milhões de toneladas e ganhar destaque como a maior safra da história. Puxado pela soja e milho, dois grandes geradores de cargas para carretas graneleiras, o resultado – 5,7% maior do que a produção de 2006 – é atribuído à melhor distribuição das chuvas nas regiões de plantio. Como resultado, alavancou a atividade do transporte rodoviário de cargas, com uma maior expectativa em relação às vendas de caminhões pesados e movimentação no mercado de fretes. “A recuperação do setor agrícola, especificamente o de grãos, possibilitou um acréscimo nas vendas de modelos para longas e médias distâncias e também daqueles indicados para trechos mais curtos”, disse Cláudio Terciano gerente de vendas e marketing da Ford Caminhões.

Marcelo Caetano Pini, da Transzaneti, da região de Osvaldo Cruz, no Interior do Estado de São Paulo, diz que o movimento da soja está igual ao do ano passado, mas destaca o crescimento da atividade de milho. “O pico da soja seria na metade de março, mas houve apenas um pequeno avanço e agora o produtor aposta no milho, cuja colheita começa em junho”, explica. Pelos dados da Conab, a área cultivada com milho cresceu 3% em relação à safra passada e se estima colher 48,8 milhões de toneladas, uma produção 14,7% superior a do ano anterior.

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Caminhões em operação no Oeste do Paraná: safra deste ano está movimentando mais cargas nas estradas

O crescimento da atividade do milho está diretamente ligado à produção de etanol nos Estados Unidos, uma vez que aquele país tem apenas uma pequena faixa com plantação de cana. Com isso, os produtores apostam no plantio e estão de olho na exportação do cereal para a produção do combustível. Representante de uma frota com 31 bitrens, a qual está se juntando a um grupo em formação que reúne 28 transportadores e um total de 122 caminhões, Pini disse, na ocasião, que o quilômetro rodado estava R$ 1,60, o que considerava bom, embora já tivesse atingido R$ 1,90.

Pelo lado dos carreteiros autônomos, a situação atual está melhor do que no ano passado, os motoristas têm carga garantida, mas existem ainda muitos problemas a serem resolvidos para melhorar a vida dos pequenos transportadores. A afirmação é de Jeová Pereira, presidente do Sindicato dos Motoristas Autônomos da Região Oeste do Paraná, região de plantio de soja. “É preciso renovar a frota do autônomo, porque seus veículos estão inseguros e improdutivos. Hoje, um caminhão novo gasta em torno de oito horas para ir de Cascavel ao Porto de Paranaguá (cerca de 600 quilômetros), enquanto um modelo antigo chega a demorar até 14 horas. O veículo permanece mais tempo na estrada, gasta mais combustível e pneus, além do maior desgaste físico do motorista”, reclama. Na sua visão, mesmo com as formas de financiamento oferecidas atualmente, um pouco mais facilitadas, o autônomo enfrenta ainda problemas para ter crédito e efetuar a troca do caminhão.

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Chuvas nas regiões de plantio contribuíram para a produção de grãos superar o volume do ano passado

A maior produção de grãos nos Estados do Paraná e Rio Grande do Sul foi bem recebida também pelos transportadores do Centro Oeste, que enfrentaram menos concorrência. É o caso de Neri Schimidt, da Transportadora Imperador, com sede em Rondonópolis/ MT, região de grande produção de soja e algodão. “Este ano a situação está mais estabilizada por aqui, pois com a safra boa no Sul não tivemos a invasão de caminhões vindos de outros Estados”, comentou Schimidt.

De acordo com ele, a produção de soja não cresceu na região porque os agricultores reduziram o investimento na lavoura em razão do resultado ruim provocado por dois anos seguidos de quebra. Além disso, destacou que as estradas não oferecem condições ideais, em razão da malha ser velha, mas admitiu que existem muitos trechos que receberam melhoramentos através de parceria entre agricultores e o governo. Isso na região de Sorriso, Mutum e Campo Novo.

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Outro ponto positivo destacado pelo transportador em relação à região é a redução no tempo de espera nas filas para descarregar em empresas como a Bumgue, ADM, Maggi e Cargill. “Antes a espera chegava a ser de até dois dias e hoje dificilmente atinge 12 horas”, garantiu. Ainda de acordo com o empresário, outra melhoria na atividade foi a redução do número de agricultores que compravam caminhões e colocavam qualquer motorista para dirigir. Ele explica que isso acontecia em função da carência oferecida aos interessados, mas atualmente somente só quem é do ramo compra caminhão.

“O cenário está muito bom para o transportador, pois o desempenho de importantes setores da economia, como o agronegócio e a mineração pressiona os fretes para cima”, diz Mário Laffitte, gerente de marketing da Iveco. Ele acrescenta que diante da maior rentabilidade o transportador investe em renovação da frota com caminhões mais modernos e econômicos.

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Estradas do Centro Oeste são antigas e alguns trechos precisam de obras de recuperação

A colheita de grãos deste ano surpreendeu também o volume de negócios com caminhões novos. “Diante dos sinais que os transportadores nos transmitiam no último trimestre de 2006, era difícil de acreditar que teríamos uma pressão como a de hoje. Fomos surpreendidos pela positividade que os números da safra estão trazendo para o setor de transporte”, disse Roberto Leoncini, gerente executivo de vendas de caminhões Scania.

Bernardo Fedalto, gerente de caminhões da linha F, da Volvo, diz que não dá pra dizer ainda que houve uma explosão das vendas por causa da safra, mas com certeza este ano está bem melhor do que 2006. “Não chegou a haver ainda uma grande renovação, mas a safra de grãos deu um impacto positivo no setor de veículos pesados e o pessoal está bastante animado. Nós temos entregas de caminhão até maio e junho e podemos dizer que o primeiro trimestre foi muito bom, mas ainda temos de esperar um pouco mais para confirmar se teremos um grande ano”, concluiu.

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Gilson Mansur, diretor de vendas da DaimlerChrysler, lembra que apesar de o maior volume de caminhões estar na safra de soja e milho, já havia nos meses de setembro e outubro de 2006 uma forte tendência de alta, principalmente no setor de cana-de-açúcar, “Este ano está bastante movimentado, voltou a ser positivo e pode ser igual ou superior a 2004, pois ainda temos a renovação de frotas de outros segmentos como o de construção civil, mineração e carga geral, que também está comprando caminhões”, detalhou Mansur, que acredita em um crescimento de 10% nas vendas de pesados este ano, por terem sido muitos baixos os números em 2006.

Assim como seus colegas, Ricardo Alouche, diretor de vendas e marketing da Volkswagen Caminhões e Ônibus, também comenta sobre a infl uência da safra recorde na comercialização de caminhões de maior porte e potência e também de modelos para os demais segmentos. “O mercado de extrapesados está muito aquecido. A demanda por caminhões para o transporte de grãos está maior do que a oferta de produtos disponíveis nas montadoras”. Alouche lembra ainda que a super safra mexe com todos os setores, movimenta o varejo devido a maior circulação de dinheiro nas cidades do interior e exige mais veículos em atividades para transportar mercadorias para os clientes. “Esse ciclo movimenta a economia de uma forma geral”, concluiu.

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Transportadores da região de Rondonópolis/MT vivem um ano melhor, com menos concorrência e menor tempo nas filas

Duas grandes rotas cortadas pelos caminhões carregados de grãos são a BR 277, no Paraná, de ligação ao Porto de Paranaguá, e a Via Anchieta para o Porto de Santos/SP e ambas as rodovias são pedagiadas. No caso da BR 277, existem sete no trecho entre Cascavel e Paranaguá. “Quem faz seis viagens por mês gasta em pedágio neste trecho o suficiente para pagar a prestação de um caminhão”, acrescenta Jeová. Ele cita também a falta de áreas de descanso nas rodovias e diz que a comida oferecida aos carreteiros na beira das estradas precisa de fiscalização.

A safra paranaense de grãos deverá registrar um crescimento de 27% e apesar de que boa parte será absorvida pelo mercado interno, de acordo com a assessoria de imprensa do Porto de Paranaguá a previsão é de um crescimento perto de 15%. Ainda de acordo com a assessoria, as filas para descarregar não existem mais. Hoje só tem acesso ao pátio de triagem, mediante a ordem de serviço, os caminhões cujas cargas já estão vendidas e com os navios já determinados para embarque dos grãos, sendo 24 horas o tempo limite para o caminhão permanecer no Porto. Em meados de março, tido como período de início do escoamento da safra, o volume de caminhões no Porto de Paranaguá era de 3.000, com previsão de crescer para 3.500, além de uma média diária de 300 vagões ferroviários.

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Porto de Paranaguá espera movimento diário de aproximadamente 3.500 caminhões graneleiros no pátio de triagem

Em Santos/SP, a previsão do Sindicam – Sindicatos dos Caminhoneiros da Baixada Santista é que o Porto receba uma média de 3.500 caminhões/ dia este ano. O volume é menor do que os 5.500 registrados diariamente em 2005. Um dos motivos da queda do volume é o crescimento do setor ferroviário, no qual cada vagão carrega dois contêineres.

Hélio Ribeiro Costa, encarregado administrativo da Transportadora Stalone, de Anhembi, Interior do Estado de São Paulo, conta que saem diariamente da região entre 50 e 60 carretas de três eixos e bitrens carregados de grãos e farelo de soja para o Porto de Santos. Os produtos são originários de lavouras dos Estados de Goiás e Mato Grosso e chegam a Anhembi por meio de barcaças. De acordo com ele, na ocasião o frete era de R$ 35,00 a tonelada, cujo valor ele considerava melhor do que o do ano passado. “Houve uma pequena melhora, mas sempre tem reclamação do preço”, finalizou.