Por Thiago Góis
Graças ao maior porto da América Latina, o transporte de contêineres em caminhões gera um alto índice de trabalho na região da Baixada Santista/SP. Em 2008, por exemplo, o porto de Santos movimentou 23 milhões, 438 mil e 309 toneladas até o mês de abril. São cerca de cinco mil carreteiros autônomos que atuam neste tipo de transporte e destes, aproximadamente, 95% trabalham exclusivamente na movimentação de contêineres, seja localmente ou em viagens no Estado de São Paulo, outras regiões do Brasil e até mesmo do exterior. Os outros 5% trabalham com transportes de grãos, mas revezam com contêineres, o que resulta em praticamente 100% dos motoristas da região que vivem da atividade.
Trabalho não falta. Para conseguir fretes, os carreteiros têm contatos dentro das transportadoras, e elas os avisam diretamente sobre a carga. Outra forma de ficar sabendo de oportunidades para trabalhar são os avisos entre os próprios profissionais. “Nós nos comunicamos através do rádio, pois todos ajudam”, diz Arivaldo de Lima, de 55 anos.
Quase metade dos profissionais fazem o transporte dentro da própria região portuária. São os chamados “serviços de ponta”. É uma operação que envolve levar a carga do armazém para o terminal ou até ao pátio da transportadora. A outra parte dos motoristas encara as estradas dentro e fora do Brasil movimentando cargas de exportação e importação. O autônomo Ari, como é chamado pelos colegas, conta que prefere fazer viagens para o exterior. “Ontem cheguei do Paraguai. Mas, agora, não volto para lá e nem para o Chile, porque vai começar a época do frio”, diz.
Enquanto dava cordialmente a entrevista para a Revista O Carreteiro, Ari já se preparava para fazer outra viagem no mesmo dia. Desta vez para Uberaba, interior de Minas Gerais. “Muitas vezes, as viagens longas são menos cansativas que as mais curtas, porque aqui você fica esperando muito tempo para carregar ou descarregar. Por isso, eu gosto de viagem longa”, define.
O frete para o transporte de contêiner é pago pela quilometragem rodada. No entanto, quanto mais distante for o destino da carga, mais barato fica o quilômetro rodado. Por isso, viagens curtas costumam render mais no que diz respeito a relação custo benefício. “Mesmo assim, eu e muitos outros motoristas preferimos as viagens maiores, porque são menos estressantes”, insiste Ari.
Carlos Soares tem opinião diferente, pois acredita que as viagens longas não compensam. “Tinha de se pagar mais pelos fretes longos, porque no final sai quase a mesma coisa”, declara. Quem também prefere ficar na região da Baixada Santista é Vladimir Amaral. “Não gosto de viajar. Vou, no máximo, para São Paulo. Assim você corre menos riscos de sofrer acidentes ou de ser assaltado. Outra coisa que precisa melhorar é que o carreteiro não tem muitas condições de trabalho, como banheiros ou locais bons para acomodação”, afirmou.
Os motoristas são os responsáveis pelos próprios equipamentos, abastecimento e pagamento de pedágios, cabendo à empresa que o contratou pagar um valor determinado para que ele possa arcar com estas despesas, além do pagamento pelo serviço executado.
O preço acordado com as empresas são pacotes fechados. Não existe uma tabela fixa, mas sim negociações feitas diretamente entre as partes. Geralmente, são pagas ao profissional ida e volta, porque o contêiner que vai tem que retornar para a empresa, mesmo se estiver vazio.
ESPERA NA FILA
O tempo de espera para regularizar a documentação de um contêiner, geralmente, é de cinco a seis horas. Porém, algumas vezes o carreteiro espera até 24 horas para a papelada e a carga serem liberadas. “O problema é que se ele sair da fila perde a vez”, explica Emilia Rosa, funcionária administrativa do Sindicam – Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista -, que atualmente conta com cerca de 500 carreteiros sindicalizados. Aos motoristas sindicalizados e suas respectivas famílias é oferecida assistência jurídica, além de descontos em convênios, como planos de saúde, farmácia, odontológicos e até mesmo combustível mais barato. O carreteiro sindicalizado paga R$ 40,00 mensais. Aqueles que querem usar o pátio pagam R$ 260,00 a mais. Estacionar em pátio é fundamental para os carreteiros que atuam na Baixada Santista. Segundo João Alfredo Mesquita, motorista há 40 anos e 25 deles transportando contêineres, não é permitido estacionar caminhões nas ruas da região portuária. “Em quase todos os lugares está sujeito a receber uma multa de trânsito. Por isso, precisamos pagar os estacionamentos, que não são baratos”, comenta. Outro problema apontado por Mesquita é a alta do preço do Diesel. “Há dois meses, o combustível sofreu um reajuste entre 12% e 15%. O governo não aumenta a gasolina para não desagradar a população, mas, como nem todo eleitor é motorista de caminhão, quem consome o diesel é que paga essa conta”, reclama. Para concluir, João diz que, em contrapartida, o preço do frete está baixo. “O transporte em si não está muito valorizado no Brasil”, opina. Um frete de Santos até São Paulo custa cerca de R$900,00. De Santos até o Paraná, por exemplo, cerca de R$ 3.000,00. Apesar de a maioria dos carreteiros serem autônomos e buscarem o trabalho por conta própria, muitos deles são contratados para prestar serviço exclusivamente para uma empresa. Estes recebem menos pelo trabalho. “O agregado, que é como chamamos estes que trabalham para uma empresa, não pode escolher quem melhor paga. Precisa trabalhar sempre para aquela mesma empresa. Muitas vezes, a transportadora não dá conta do trabalho e contrata outra. Nesta condição, o carreteiro agregado acaba recebendo menos ainda, pois o serviço passa por muitas pessoas. Assim, o valor do frete cai”, finaliza Ari. |