Por Sérgio Caldeira

Os programas de concessões dos principais trechos de rodovias, a cobrança de pedágios e as melhorias em algumas rotas, além do contínuo avanço nos equipamentos rodoviários, não têm sido as únicas alterações sentidas pelos carreteiros em seu cotidiano. Com as turbulências que a economia nacional passou nos últimos vinte anos, o panorama dos pontos de abastecimentos e repouso também sofreu fortes mudanças.

Grandes frotistas instalaram tanques para abastecer a frota nas respectivas garagens e ganhar descontos com a compra direta nos distribuidores de petróleo. Muitos postos tradicionais não suportaram a concorrência e as incertezas da economia e deram adeus ao mercado. Algumas pessoas observam ainda que o atendimento de péssima qualidade contribuiu para o encerramento da atividade de vários postos.

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Ubirajara Solha acredita que muitos postos tem outros donos e alguns que estavam fechados estão sendo reabertos com novas bandeiras

Certos donos de postos, alegando margem pequena de lucro, resolveram mudar de ramo. Outros, mais ousados, resolveram inovar no atendimento para fidelizar sua clientela. Estes procuram distribuir brindes, oferecer lavagem grátis e valetas para verificações e engraxamento, reservam vagas para descanso e trocam carta-frete, dando aos seus clientes cativos um atendimento diferenciado.

Mas com o aumento da capacidade dos tanques de alguns caminhões e mais a instalação de um terceiro tanque atrás da cabine, muitos postos de combustíveis enfrentam um problema que consiste no fato de muitos estradeiros usufruírem das instalações para pernoitar ou tomar banho sem gastarem um centavo no estabelecimento. Alguns, sequer, entram nos restaurantes e muito menos abastecem no local, o que certamente concorre para a redução do movimento junto às bombas de Diesel.

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Na opinião de Hermínio Antônio, a perda de movimento de muitos postos, que eram grandes no passado, se deve à qualidade do atendimento

Além disso, os contratos de concessão outorgados não prevêem a criação de pontos de apoio (com área segura para descanso, pernoite e abastecimento), algo que poderia onerar mais ainda as tarifas dos pedágios, mas uma necessidade diante da falta de vagas nos postos na atual conjuntura.

O estradeiro Ubirajara Solha, QRA “Presidente”, diz que não vê o cenário tão ruim assim. Ele trafega nas principais rodovias da região Sudeste entre os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Vitória e Espírito Santo. Segundo sua avaliação, muitos postos estão mudando de dono e outros que estavam fechados estão reabrindo com “nova roupagem, ou seja, se restabeleceram com novas bandeiras”. Segundo ele, é o caso do posto da Balança, em São Sebastião da Bela Vista na Fernão Dias, que mudou de bandeira e agora está sob o comando do grupo Transabril.

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Falta de segurança em pontos de cargas e descargas é a queixa de Donizeti Rodrigues, que recomenda lugares conhecidos e bem iluminados. Diz que na sua rota não faltam postos

Mas para o carreteiro de Brumadinho/MG, o que falta em suas rotas não é tanto os postos em si, o que considera suficiente, mas sim postos com estrutura melhor, inclusive com área mais ampla para estacionamento e pernoite. “Depois das onze horas não há lugar para dormir”, alerta o carreteiro que era motorista de uma grande transportadora de Minas Gerais, a Tora, e acabou de adquirir um Volvo FH 12, ano 2000. Contudo, Solha ainda não trabalha como agregado. Além disso, reclama da falta de segurança geral, onde é comum o roubo de estepe, tacógrafo, antenas de PX e até óleo diesel.

Outro estradeiro que roda todo o Sudeste, além de freqüentemente viajar para Pernambuco, Bahia, Pará e Goiás, a bordo de um VW 23.220, equipado com baú, é Hermínio Antônio Silva. Ele associa a perda de movimento de muitos postos, que eram grandes no passado, ao péssimo atendimento e à falta de segurança oferecida nesses lugares. Ele reclama ainda do preço cobrado pelo banho em alguns postos. “Virou meio de vida”, reclama o carreteiro do valor que, em alguns postos do Nordeste, chega a sete reais. Para ele, a cobrança pelo serviço é justa, só não deve ser abusiva, considerando a cifra ideal algo em torno de dois reais.

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O movimento em seu posto e também em outros poderia ser 30% maior se não houvesse a compra direta de diesel por parte dos transportadores, diz o jovem empresário Douglas de Souza

Hermínio sugere que haja outros serviços nos postos, como por exemplo, ambulatório, um item que ele considera essencial, mas que não encontra na maioria dos postos. “Seriam verdadeiros pontos de apoio e o estradeiro daria preferência a eles”, diz. Ele alerta também que apesar da grande quantidade de postos nos trechos que percorre, não vê tanta diferença de preços, dando a impressão de que os donos combinam os valores entre si.

O paulista Donizeti Rodrigues de Santana, de Mogi das Cruzes, está na fase final de quitação de seu Volvo NL 10 340, ano 1989. Transporta cargas siderúrgicas entre Minas e São Paulo, mas de vez em quando pega algum frete para a região Sul. Atualmente, não está agregado a nenhuma transportadora, o que o faz sentir mais forte no bolso os recentes acréscimos no valor do Diesel.

Ele recomenda sempre parar em locais conhecidos e bem iluminados e abastece em pontos fixos, onde já é freguês e consegue trocar cheques. “Os problemas que enfrento não se relacionam com a falta de pontos de abastecimento e descanso nas estradas. Porém, com relação aos locais de descanso, o problema é mais grave junto aos pontos de carregamento e descarga”, relata o carreteiro. Segundo ele, as rodovias por onde ele passa tem uma rede suficiente de postos.

O jovem empresário Douglas Souza Chaves está à frente do negócio criado por seu pai, João Chaves. É o Auto posto Rodochaves, localizado na beira da Fernão Dias, no município de Itatiaiuçu. Segundo ele, os problemas enfrentados em seu estabelecimento não estão relacionados com a capacidade dos tanques, mas sim com a compra direta de óleo diesel por parte dos transportadores. “Esses sim dão concorrência”, enfatiza Douglas. Ele estima que o movimento poderia ser 30% maior, não somente em seu posto, mas também em outros, se não houvesse tanques nos pátios das transportadoras.

Ele enumera outro problema, mas que ainda não incomoda tanto: a venda clandestina de combustíveis ao longo da rodovia, em locais camuflados de lanchonete, por exemplo.

Sobre o ICMS mais barato em São Paulo, ele acredita que o problema deve se concentrar nos postos perto da divisa com Minas Gerais. “Lá sim, o movimento deve estar ruim”, comenta, mencionando os postos do sul de Minas Gerais ao longo da BR 381. “Nós aqui da região, próximo a Belo Horizonte, não somos afetados por este problema”, completa.

Ainda com relação à concorrência, Douglas diz que seu posto dá atendimento personalizado a quem abastece e habitualmente utiliza seus serviços. “Procuramos distribuir brindes, trocar cheques e carta-frete de pessoas de confiança, além de oferecermos vagas reservadas aos clientes mais assíduos”, diz. Ele volta a citar que os tanques grandes não chegam a ser um problema, visto que, além do movimento local, o Rodochaves é bastante freqüentado pelos estradeiros, que têm rotas desde o Sul/São Paulo até o Nordeste e vice-versa, o que dá algo em torno de três mil quilômetros e ainda são poucos os caminhões que conseguem esta autonomia nesta rota.

Vale lembrar que há quase três anos uma resolução do Contran (nº 181 de 1º de setembro de 2005) limitou a capacidade dos tanques, sejam eles suplementares ou não, ao máximo de 1.200 litros. Mas, ainda assim dá, em alguns casos, uma autonomia de quase três mil quilômetros. Porém, quem tem tanques com capacidade acima deste limite, instalados até a data do início da vigência da resolução, poderá mantê-los até o sucateamento.