Por Evilazio de Oliveira
Um investimento para equipar um caminhão destinado ao transporte de cargas refrigeradas ou congeladas é alto, a manutenção é cara e os motoristas precisam estar preparados para eventuais interrupções na viagem ou mesmo uma pane no equipamento de refrigeração. Além disso, o trânsito e as inevitáveis filas de espera para carga e descarga, se constituem em mais despesa na planilha de custos de cada viagem em razão do combustível extra para a refrigeração da câmara fria, além do tempo perdido. Mas, como essas esperas fazem parte da rotina do carreteiro e os gastos a mais para a refrigeração da carga também estão previstas, a função de dirigir e vigiar para que as temperaturas se mantenham dentro das especificações é fácil. Ainda mais quando se transportam produtos como laticínios, sorvetes, embutidos ou frutas. Em alguns casos, no entanto, essas cargas refrigeradas podem ter cheiro forte, como é o caso do peixe.
Para o transporte de cargas refrigeradas o motorista precisa ficar atento à limpeza da câmara fria, cuidar para que os volumes fiquem bem distribuídos e sem perigo de caírem ou escorregarem, danificando as embalagens e o conteúdo. E também zelar pelo bom funcionamento do equipamento de refrigeração, estando apto a saber se o eventual defeito foi ocasionado por um fusível queimado ou alguma coisa mais grave que necessite chamar a assistência técnica. Justamente por isso, dizem ganhar um salário um pouco acima da média.
O dono da TCG – Transportes Casagrande Ltda., de Porto Alegre/RS, Rudáh Casagrande, 28 anos e há oito no setor, lembra que cada caminhão refrigerado tem o valor de dois. É que a câmara fria e o equipamento de refrigeração são de boa qualidade e custam muito caro. Além disso, a manutenção permanente, o custo do combustível durante a viagem e nas esperas para o descarregamento, principalmente nas grandes redes de supermercados, contribuem para encarecer esse tipo de frete. O que, por sua vez, acaba sendo pago pelo contratante do transporte, esclarece.
Segundo Casagrande – cuja frota é composta por 18 caminhões próprios rastreados via satélite e outros 32 agregados – a grande preocupação é com o equipamento para evitar panes. Para isso, a exigência de manutenção permanente. Ele lembra que são poucos os estabelecimentos que dispõem de tomadas de energia para movimentar o refrigerador dos caminhões durante os períodos de espera para descarregar. Assim, o motor fica funcionando e consumindo de oito a 10 litros de óleo por hora. No final, a despesa é grande, diz.
O motorista Wilson Muniz Aresi, 36 anos e 16 de estrada, sempre ao volante de caminhões para o transporte de cargas refrigeradas, confessa que só não gosta de transportar peixe “por causa do cheiro muito forte”. Segundo ele, os maiores problemas que surgem no trecho com o equipamento acontecem por falta de manutenção ou mesmo pelo desgaste natural. Quanto maior a câmara mais potente precisa ser o equipamento de refrigeração, exigindo sempre atenção aos controles de temperatura, pois, apesar da maioria funcionar com um termostato pré-regulado, “não dá para descuidar”.
Para Wilson Aresi, no caso de algum impedimento de prosseguir a viagem, o motorista deve procurar de imediato um posto de abastecimento onde possa conectar o equipamento nas tomadas especiais de energia elétrica. A maioria dos postos dispõe desse serviço nos pátios de estacionamento, cobrando um valor entre R$ 1,50 a 2,00 por hora. Em alguns casos esse fornecimento de energia é uma cortesia do estabelecimento. Além disso, o profissional que transporta cargas refrigeradas precisa tomar decisões imediatas para não comprometer a mercadoria com eventuais variações de temperatura. Nesses momentos os novatos precisam se socorrer da experiência dos mais velhos, conforme explica Wilson Aresi. “Nada de orgulho, no trecho é preciso humildade e aprender com quem conhece o assunto há mais tempo”.
Paulo Ricardo Moraes Dias, 38 anos, 18 de volante e há um ano no transporte de cargas refrigeradas, a experiência está sendo ótima. Ele transporta produtos da Perdigão dentro do Estado do Rio Grande do Sul, na rota Marau/Passo Fundo/ Porto Alegre. Faz a entrega nos mercados e apenas eventualmente enfrenta filas. Precisa se preocupar com a limpeza da câmara fria, manter a refrigeração enquanto aguarda para estacionar nas docas para carregar o caminhão ou nos mercados, quando entrega a mercadoria. Não entra nas docas, mas depois do caminhão estar carregado sempre vai verificar se tudo ficou bem acondicionado, sem perigo de volumes soltos.
“Se noto alguma coisa fora do lugar peço para ajeitarem”, afirma.
Émerson Alois Panasiuk, 31 anos e oito de profi ssão, também reclama das esperas nas docas, muitas vezes decorrentes de problemas burocráticos na documentação. Quando, por algum motivo, as notas não “fecham” com a mercadoria transportada, é preciso sempre recorrer a uma hierarquia superior para decidir o impasse. A utilização de telefones com o sistema PTT facilita as comunicações “entre os que decidem” para que a carga seja liberada logo. Aliás, esse tipo de comunicação tem facilitado em muito os contatos entre os motoristas da TCG Transportes Casagrande. Todos utilizam esses telefones celulares com uma banda exclusiva que permite ligações deponta a ponta e por custos muito mais baixos do que os normais praticados pelas ligações normais. “É um quebra-galhos”, explica Panasiuk.
Aldomar Machado de Souza, 34 anos e 12 de direção, sempre viajou para o centro do País, no transporte de cargas secas. Há dois anos está dirigindo caminhão de cargas refrigeradas e garante que já pegou o jeito da coisa. Além dos cuidados normais na estrada, também é necessário se preocupar com a limpeza da câmara fria, observar o funcionamento do equipamento de refrigeração e verifi car a temperatura nos termômetros instalados no painel da cabine. O resto ele considera fácil, viagens pequenas, caminhão novo e um salário razoável. “Tudo muito bom”, resume.