Por Edmilson de Souza

Apesar da tecnologia dos celulares e aparelhos de rastreamentos, o bate-papo que mata solidão dentro da boléia através dos famosos rádios PXs continua na moda. A chegada de novas tecnologias parece não ter abalado o antigo rádio. Pelo contrário, cada vez mais os carreteiros estão aderindo a esta forma de comunicação. Primeiro, porque não há pagamentos de contas mensais para utilizá-lo, segundo porque ele é um acessório de segurança aos motoristas, cuja troca de informações pode até salvar vidas, em certos casos.

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Para Mauro Aparecido, o aparelho
já o salvou de se envolver em acidente na estrada Belém-Brasília

Mauro Aparecido de Morais, motorista de Avaré/SP, que dirige uma carreta como empregado tem um rádio PX e acredita que o aparelho já o tirou de um acidente. “Eu estava na Belém-Brasília, na altura de Tocantins, e havia um acidente na minha frente, entre um caminhão e um carro. Um colega me avisou pelo rádio e eu diminui a marcha. Caso não soubesse, poderia ter batido”, conta.

“Utilizo rastreador, mas prefi ro o PX. O rastreador é só para se comunicar com a empresa. Além do mais seu sinal interfere nos nossos canais de PXs. Já o rádio é para usar com os amigos. Quando quero informações sobre qual estrada pegar, acidentes etc, entro na ‘canaleta cinco’, na faixa cinco”, informa Mauro, casado e pai de dois fi lhos.

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Apesar do telefone celular e do sistema de rastreamento no caminhão, Rudi Markus prefere o usar o PX

Um exemplo de total adoção do equipamento é o gaúcho Rudi Markus, de Estrela. Casado, duas fi lhas, que dirige um Volks 23.210, ano 2003, como empregado. “Te- DIA DO MOTORISTA nho celular e rastreamento no meu caminhão, mas prefi ro o PX. Nele pego informações quando estou numa cidade e não sei o caminho da entrega, por exemplo,”, afi rma o carreteiro.

“Para pedir informações entro no canal 5. Para coisas mais sérias, uso o 10”, esclarece Walcir Alves dos Santos, de Camacuã/RS, que também roda com uma carreta. Empregado, casado, três filhos, usa o rádio há nove anos. Confessa que fala mais por necessidade do que para jogar conversa fora. “No canal 5 há muita bagunça, fala-se de tudo”, avisa.

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Os estradeiros Alexandre Kern e Vilson Cabral de Moura estão próximos de comprar um aparelho

O PX continua com força e alguns acham até que jamais vai morrer. José Luiz Dias, de Canoas/RS, motorista empregado, casado, dois fi lhos, modula um aparelho há sete anos e acredita que é difícil o sistema ser absorvido por outra tecnologia. “Acho que todos os carreteiros deveriam ter um. É segurança. É fácil de operar. Qualquer pessoa o opera. Instalou, sai falando, Não precisa de curso. É só ligar”, ensina.

E tem gente na fi la para entrar no ar. Os motoristas Alexandre Kern e Vilson Cabral de Moura, ambos empregados, estão próximos da compra de um rádio. Embora ambos possuam celulares, preferem o PX pelo fato de não haver conta mensal e poderem interagir sem limites com amigos.

A integração ou união é o grande sucesso de quem opera os rádios. Tanto é que existem muitos grupos de PXs, organizações fechadas que congregam entre 50 e 100 usuários. Uma taxa anual paga por cada um serve para manter uma base de comunicação para servir aos associados. Na cidade de Erechin/RS, o PX Clube de Erechin J. Dutra foi formado em 1983 e congrega mais de 50 sócios, que usam o canal 9.

Para se integrar ao J. Dutra se paga uma taxa de 40 reais à Anatel, DIA DO MOTORISTA órgão nacional de fi scalização e quem dá a autorização de uso do sistema, e 60 reais para o Clube. Depois disso há somente taxas anuais abaixo dos 40 reais. “A vantagem de entrar num clube é que através de nós os carreteiros podem obter a licença de operação com maior facilidade e conforto. Ele não precisa ir até a Anatel. Um Clube dá mais credibilidade. Além do mais, criamos uma sociedade de amigos, onde podemos nos confraternizar. O nosso lema é servir sem ganhar”, diz o carreteiro Leonel Rocha Dutra, presidente do Clube de Erechin.

A responsável pela regulamentação
A Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações é a responsável por regulamentar o setor. Ela tem como missão promover o desenvolvimento das telecomunicações no País e sobre o PX. Sua defi nição é que o serviço de Rádio do Cidadão, conhecido como PX, é regido pela Norma 01A/80. É o serviço de radiocomunicação de uso compartilhado para comunicação entre estações fi xas e/ou móveis, realizados por pessoas físicas, utilizando o espectro de freqüência compreendido entre 26,96 MHz e 27,61 MHz. Além disso, o serviço Rádio do Cidadão tem por fi nalidade proporcionar comunicações em radiotelefonia, de interesse geral ou particular, atender a situações de emergência, como catástrofe, incêndios, inundações, epidemias, perturbações da ordem, acidentes e outras situações de perigo para a vida, saúde ou propriedade. O serviço poderá ser autorizado a qualquer pessoa, facultado o seu uso por associações de usuários e órgãos públicos tais como Corpo de Bombeiros, Secretarias de Segurança Pública, Polícia Civil, Militar ou Rodoviária.

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Segundo a Agência, há hoje no Brasil 55.106 usuários autorizados no Serviço de Rádio do Cidadão. É sabido que com os usuários ilegais, o número cresce. E a Anatel não possui esta informação. Mas coloca que de acordo com o Código Penal Brasileiro, operar estações de telecomunicações sem a devida licença é crime, estando o infrator sujeito às penalidades previstas em lei, dentre elas a detenção.

Os carreteiros que usam o PX ilegalmente, afi rmam que o fazem devido a difi culdade de ir até o um órgão da Anatel. Além do mais, quando o rádio é apreendido, não perdem muito. Calculam que o aparelho tem quase o custo da licença. É mais fácil comprar um novo e andar por aí até a próxima apreensão.

Quanto à difi culdade de se deslocar para obter o documento, a Anatel informa que não é necessário. O interessado pode solicitar a autorização Internet no endereço www.anatel.gov. br, permitindo assim que o carreteiro obtenha a autorização de suas estações em sua própria residência ou ambiente de trabalho. Neste caso o usuário deve se cadastrar no sistema por meio do seguinte atalho “Rádio do Cidadão”, “Solicitação de Serviço”.

A segunda opção é por meio de formulário encontrado também no portal, pelo atalho “Rádio do Cidadão”, entrar em “Formulário”. Ele deverá ser preenchido e entregue ou encaminhado pelo correio a qualquer Escritório Regional ou Unidade Operacional da Anatel, junto com uma cópia autenticada da Carteira de Identidade e o número do CPF (ES)