Por Daniela Giopato

Ficou para trás o tempo em que o carreteiro aprendia a dirigir caminhão com outro motorista e já estava pronto para viajar. Hoje, a opinião é unânime entre o pessoal da estrada de que as exigências para o profissional aumentaram muito e para acompanhar essa tendência, e se manter neste mercado cada vez mais competitivo, os motoristas já perceberam que o perfil é outro: “tem de fazer cursos, se atualizar, cuidar do veículo e estar bem vestido”, afirmam.

Quando Carlos Assis Santana, de Piatão/BA, um veterano com mais de 30 anos na estrada, compara a época em que começou na profissão com os dias de hoje, não hesita em dizer que as cobranças dos transportadores aumentaram 100%. Na sua opinião, um dos motivos foi o crescimento do número de caminhões e a falta de carga para todos. “Uma das principais exigências é que o motorista esteja cadastrado nas seguradoras e o caminhão em bom estado de conservação. Olham tudo, do pneu à lona”. Assis acredita que os carreteiros devem sempre se atualizar. “Tenho curso MOPP e participo de palestras que algumas transportadoras oferecem. Além disso faço manutenção preventiva a cada 30 dias, revisão, fico atento às trocas de óleo e além disso uso produto de boa qualidade”, alerta.

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Na sua opinião, apesar das melhorias gerarem progresso também trazem dificuldades. “Antes os caminhões eram maçaricos e tinham direção mecânica. Hoje são mais confortáveis, com motor eletrônico, direção hidráulica. Até ai tudo bem. Mas todo esse progresso gerou mais custo para os carreteiros e tempo para adaptação. Eu mesmo confesso que ainda não estou tão preparado para encarar um caminhão eletrônico. Mas, para não ficar para trás pretendo iniciar alguns cursos”, admite.
“Sou motorista há 10 anos, e vejo que hoje exigem o máximo e dão o mínimo”. O desabafo é do carreteiro Celso Baruffi, de Chapecó/SC, indignado com as coisas que são pedidas para o carreteiro comparado ao que lhes pagam. “O que temos em troca são estradas precárias, fretes baixos, diesel com preço alto e falta de estrutura nos postos ( banheiros e telefone)”, reclama.

Ele acrescenta que disso as exigências por parte das transportadoras dão segurança apenas para elas. “E nós, por falta de uma garantia que nos assegure que vamos receber, ficamos limitados a trabalhar apenas com as empresas que confiamos”, explica.

Apesar das críticas, Celso garante que procura estar dentro das novas exigências do setor além de se atualizar e está sempre atento à manutenção do caminhão. “Mesmo fazendo a manutenção preventiva fico atento aos possíveis problemas que podem surgir. Hoje, isso é importante porque um caminhão em bom estado é quesito importante na hora de contratar um frete”. Mas Celso ressalta que mudar radicalmente uma realidade que acompanha o carreteiro há um bom tempo é difícil.

Outro fator que deixa mais distante o sonho de uma possível mudança são os transportadores. Eles conhecem as necessidades dos motoristas e acreditam que não precisam oferecer muito para que o carreteiro aceite carregar. Muitos não valorizam o motorista e por isso não se importam com o que querem, com suas necessidades”.

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O gaúcho Jandir Buera, de Passo Fundo/RS e 30 anos de estrada, acredita que estar atualizado, com cadastro limpo em seguradoras, bem vestido e com o caminhão em perfeito estado de conservação nunca foi tão importante para se conseguir frete. “Hoje, quando chegamos em uma transportadora, o caminhão passa por um check-list completo e caso seja detectado algum tipo de problema, como lona rasgada ou pneu gasto, o motorista não é autorizado a carregar. Por isso, eu não deixo os problemas se acumularem. Cuido do caminhão como se ele fosse meu filho. Afinal, ele é meu ganha pão”, acentua.

Além do caminhão, é bom o carreteiro também acompanhar todas as mudanças que acontecem no segmento de transporte rodoviário de cargas. “Sei que ainda preciso me atualizar em algumas coisas, como dirigir um caminhão eletrônico, por exemplo. Já trabalhei com um, mas, ainda é complicado para mim”, diz. Buera já fez cursos como direção defensiva e econômica para se atualizar e acredita que quando aprende ou se interessa pelas novidades fica mais fácil de se adaptar a elas.

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Com pouco mais de dois anos de estrada, Edivilson Fagundes Lima, Uruguaiana/RS, já sentiu o peso das exigências feitas pelas transportadoras. “Passamos quase uma manhã inteira preenchendo um cadastro para entrarmos na concorrência para carregar. Caminhão velho é difícil carregar, exceto quando a transportadora já conhece o motorista”. Acredita que os fretes estão desvalorizados por culpa dos próprios carreteiros. “O número de motoristas é grande e a às vezes nos sujeitamos a receber qualquer valor pelo frete. A classe prejudica a própria classe”, opina.

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Com pouco mais de dois anos de estrada, Edivilson Fagundes Lima, Uruguaiana/RS, já sentiu o peso das exigências feitas pelas transportadoras. “Passamos quase uma manhã inteira preenchendo um cadastro para entrarmos na concorrência para carregar. Caminhão velho é difícil carregar, exceto quando a transportadora já conhece o motorista”. Acredita que os fretes estão desvalorizados por culpa dos próprios carreteiros. “O número de motoristas é grande e a às vezes nos sujeitamos a receber qualquer valor pelo frete. A classe prejudica a própria classe”, opina.

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Francisco Lima, de Uruguaiana/RS, e 21 anos na estrada, considera o aumento das exigência um fator positivo tanto para o motorista quanto para a empresa. “Acredito que vale a pena se adequar a essa realidade pois apesar do frete ser o mesmo a possibilidade de carregar é maior. Hoje existem muitos carreteiros que não se preocupam em se integrar das novas tecnologias e tendência e isso o prejudica na hora de contratar um frete. Por isso, todas as vezes que me sobra um tempo eu vou atrás de algum curso”. Para manter o caminhão sempre em ordem, o carreteiro costuma realizar manutenção preventiva na própria concessionária de três em três meses.

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Concordo quando dizem que as exigências aumentaram, mas discordo quando afirmam que isso é ruim. Na minha opinião isso tudo é uma tendência na qual ano a ano se aplicam em melhorias no transporte e na estrutura dos motoristas”, afirma Luciano Flores Lucas, de Nova Santa Rita/RS, nove anos na estrada. Lembra que antes o conhecimento era transmitido de “pai para filho” e bastava para exercer a profissão. “Eu mesmo aprendi a dirigir caminhão com o meu tio. Mas, hoje, não existe mais isso”, afirma. Ele acrescenta a necessidade do motorista se preparar para não ficar fora do mercado. “Trabalho no transporte de produtos perigosos e se tivesse parado no tempo com certeza não estaria mais na profissão. Tenho diversos cursos, um para cada tipo de produto perigoso transportado”, diz orgulhoso.

Luciano Flores defende que as empresas de transporte deveriam investir em cursos, valorizar seus motoristas, porque isso ajudaria na redução de acidentes nas estradas, isso somado à melhoria das rodovias brasileiras. “Na empresa que trabalho, além dos cursos oferecem acompanhamento psicológico. Afinal, transporte de produto perigoso é coisa séria e se o carreteiro estiver com algum problema que possa afetar o seu desempenho não é autorizado a carregar”, explica.

Legendas:

Para Carlos Assis, um dos motivos do aumento das exigências é o crescimento do volume de caminhões e a falta de carga para todos

Celso Baruffi ressalta que é muito difícil mudar radicalmente uma realidade que acompanha o carreteiro há um tempo

Júlio César reclama que os custos para se manter dentro dos padrões exigidos pelas empresas aumentaram, mas o valor do frete é o mesmo

Estar atualizado, com cadastro limpo, bem vestido e com o caminhão bem conservado é importante para conseguir frete, ensina Jandir Buera

Caminhão velho é difícil de carregar, exceto quando a transportadora conhece o motorista, desabafa Edivilson Fagundes

Francisco Lima considera positivo o aumento das exigências tanto para o motorista quanto para a empresa

Na opinião de Luciano Flores, a idéia de que o conhecimento transmitido de pai para filho bastava para exercer a profissão de motorista não existe mais