Por Alessandra Sales
Mesmo com toda a euforia após a conquista do tricampeonato mundial de futebol da Fifa, em junho de 1970, realizado no México, o Brasil enfrentou muitos problemas financeiros em razão da instabilidade política que atingia o País no início dessa década. O milagre econômico e a crise do petróleo ganharam notoriedade na época, dando margem para a sociedade e as autoridades se preocuparem exclusivamente com a situação econômica brasileira, enquanto, por outro lado, o trânsito brasileiro ficou esquecido e, como resultado, os índices de acidentes e mortalidade cresceram.
Foi um período marcado pela falta de investimentos, de estrutura precária, pouca preocupação em organizar o setor de transporte rodoviário de cargas e muito menos com a capacitação de motoristas de caminhão. Não havia interesse por parte dos governantes nem dos meios de comunicação em noticiar os problemas de trânsito existentes na ocasião. Apesar da seriedade do assunto, a repercussão dos acidentes praticamente inexistia, e a sociedade acreditava no acaso para justificar as ocorrências de trânsito. No entanto, tal atitude contribuiu para agravar ainda mais a situação e as estatísticas daquela época.
O ano de 1986 foi considerado um dos piores períodos da história do trânsito do País, e a imprudência de motoristas esteve entre as principais causas de acidentes. Apesar das leis em vigência do Código Nacional de Trânsito, instituído pela Lei nº 5.108, de 21 de setembro de 1966, muitas pessoas morriam no trânsito brasileiro, pois não havia uma forte fiscalização para coibir as infrações.
Outro fator de peso para o descontrole e o aumento no índice de acidentes foi o crescimento da frota de veículos. Com o agravamento da situação, empresas se anteciparam e pesquisaram medidas para minimizar os estragos causados pelo trânsito. A Volvo foi uma delas, e após um período de estudos sobre o assunto criou o Programa Volvo de Segurança no Trânsito &chaves1;PVST&chaves2;, em 1987. Para concretizar o projeto, a montadora contou com o apoio do consultor em Programas de Segurança no Trânsito do PVST, J. Pedro Corrêa, e autor do livro 20 Anos de Lições de Trânsito, lançado em 2009. Corrêa tratou o tema com muita pesquisa e comparou o trânsito brasileiro de antes com o “Vietnã do Brasil”. “Naquela época, as multinacionais também investiram em iniciativas de segurança no País, porque se preocupavam com a repercussão que poderia gerar nos países desenvolvidos”, declara.
Dez anos mais tarde, em 23 de setembro de 1997, foi promulgada pelo Congresso Nacional a Lei nº 9.503 instituindo o Código de Trânsito Brasileiro, sancionada pela Presidência da República, em vigor em 22 de janeiro de 1998, trazendo ajustes e estabelecendo no primeiro artigo aquela que seria a maior de suas diretrizes: “Trânsito seguro é um direito de todos e um dever dos órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito”. Apesar do novo Código em vigor, há quem afirme que o problema do País não são as leis, e sim a obediência a elas. Porém, de certa forma, serviu para enquadrar a sociedade com medidas mais enérgicas para coibir imprudências e levou as montadoras de caminhão a priorizarem a fabricação de veículos mais seguros e confiáveis, resultando impacto para a sociedade com a redução do número de mortos.
Atualmente, morrem de acidentes de trânsito em média 100 pessoas por dia, e 200 ficam feridas. Estatística realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada &chaves1;Ipea&chaves2; indica que os custos diretos e indiretos de acidentes chegam em torno de R$ 28 bilhões.