Por Daniela Giopato

Diante do aumento do número de ocorrências de roubo de cargas e também da busca por maior produtividade, os transportadores começaram a sentir necessidade de adotar sistemas com função de planejar, controlar, gerenciar o negócio e atender, de maneira eficiente, a crescente demanda dos clientes. A globalização dos mercados e seus efeitos diretos e indiretos exigiram mudanças na gestão dos negócios em transporte e muitos investimentos, conforme destaca Flávio Benatti, presidente da NTC&Logística. Essa busca por alternativas que garantissem um transporte seguro, econômico e preciso contribuiu para que os mercados de monitoramento e rastreamento crescessem rapidamente no País.

Transportadores incorporaram à frota sistemas com função de planejar, controlar e gerenciar o negócio
Transportadores incorporaram à frota sistemas com função de planejar, controlar e gerenciar o negócio

O uso do rastreador nos caminhões, por exemplo, passou a ser uma das principais medidas adotadas para reduzir os prejuízos causados pelo roubo de cargas, que se transformou em um negócio rentável, movido pela ganância e sem punição severa. “Há 40 anos, pode-se dizer que não havia ocorrências de roubo de cargas, afinal, não existia estrutura de crime organizado. Porém, de 20 anos para cá, esse crime passou a ser articulado com a figura de um receptador para a carga furtada. A prática passou a ser vista pelos criminosos como uma maneira rápida, fácil e sem punições de ganhar dinheiro”, revela o assessor de segurança do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), coronel do exército Paulo Roberto.

O diretor de Planejamento &
Marketing da Atlas Transportes & Logística, Lauro Felipe Megale, explica que no início das operações a empresa contava apenas com recursos considerados hoje muito elementares, tais como a comunicação via rádio. Em 1993, sentiu a necessidade de utilizar o rastreamento, ainda que em pequena escala. “Além da precisão das informações, as tecnologias de monitoramento contribuem de forma significativa para a segurança, tanto dos motoristas quanto das mercadorias transportadas, pois, lamentavelmente, enfrentamos um elevado índice de roubo de cargas no Brasil”, afirma.

O gerente da transportadora Julio Simões (filial de Camaçari/BA), Waldir Alves de Souza, lembra que há 40 anos não havia nenhum tipo de tecnologia que permitisse monitorar veículos de cargas a distância. A própria comunicação com o motorista durante o trajeto era quase nula, pois nem celulares existiam. A carga era embarcada e só era possível ter alguma informação quando ela chegava ao destino. “A necessidade de um melhor controle sobre as operações levou o setor a adotar sistemas de monitoramento e rastreamento, que garantam uma entrega mais rápida e segura”, afirma.

Para Megale, no passado o transporte tinha características completamente diferentes das atuais, num cenário em que os transportadores se limitavam a coletar a mercadoria e entregá-la no destino dentro dos prazos convencionados para a época. Com a concorrência entre os diversos setores, criou-se a necessidade natural das indústrias de terem acesso a informações cada vez mais detalhadas de seu negócio.

“Sem tais evoluções, não seria possível atuar num mercado tão competitivo quanto o de prestadores de serviços de logística”, destaca. Segundo ele, a atividade de monitoramento é essencial, pois vai além da segurança dos motoristas ou da carga. Permite melhorar a produtividade dos veículos, planejando e reduzindo os custos e o tempo de permanência nas coletas ou entregas, além de diminuir o índice de sinistralidade.

Para o gerente da Julio Simões (filial de Guarulhos/SP) , Antônio Bento, os principais benefícios que essas tecnologias trouxeram para as empresas foram a melhoria na qualidade dos serviços prestados aos clientes, melhor desempenho da frota, mais controle e produtividade. “Sobre o tempo e os custos com transportes pode se estimar uma melhoria de 40% em média”, avalia.

Outra vantagem, conforme cita Souza, é o acesso em tempo real sobre a localização e condições do veículo que contribuem para prever eventuais problemas e auxilia, por exemplo, na mudança de rota em caso de imprevisto no trajeto, assim como na estimativa de tempo gasto para a operação e garantia de que a carga será entregue no prazo que o cliente precisa.

Apesar da tecnologia de rastreamento, as ocorrências de roubo de cargas continuam acontecendo. Dados da assessoria de segurança da NTC&Logística mostram que em 2009 foram computados 13.500 roubos de cargas, número 9% maior que em 2008, quando foram registrados 12.400, gerando prejuízo de R$ 900 milhões para toda a cadeia do transporte.

Na opinião do coronel Paulo Roberto, o caminho mais eficaz para reduzir o roubo de cargas é atualizar o Código Penal Brasileiro aplicado nesse tipo de ação. Ele esclarece que crime contra o patrimônio é considerado de natureza leve, e resulta no máximo em uma reclusão de três anos. É por esse motivo que o número de mortes relacionado ao roubo de cargas é baixo. “Em 2009 foram apenas nove, e a explicação é simples: é porque para crimes contra a vida estão previstas punições mais severas. Infelizmente, o crescimento da criminalidade é maior do que a resposta que o Estado fornece”, opina.