por João Geraldo

Depois de anunciar em novembro de 2010 a tecnologia SCR para atender a legislação brasileira de meio ambiente – que entra em vigor a partir de janeiro de 2012 -, a Volvo acaba de lançar a nova linha F (modelos FM e FMX) com motores de 13 litros preparados para a nova fase do programa brasileiro de controle de emissões de veículos automotores, o Proconve P7, norma equivalente ao Euro 5 que reduz o CO2 (monóxido de carbono) em 29%, Hidrocarbonetos (HC) em 23%, Óxidos de Nitrogênio (NOx) em 60% e Materiais Particulados (MP) em 80%, este último produzido pela queima incompleta do combustível.

Os modelos da linha F com motor de 13 litros ganharam mais 20cv de potência e mudanças na caixa de transmissão e eixo traseiro
Os modelos da linha F com motor de 13 litros ganharam mais 20cv de potência e mudanças na caixa de transmissão e eixo traseiro

O local escolhido pela montadora para apresentar os novos produtos foi em meio à natureza da floresta amazônica, uma forma de assinalar que os veículos da marca estão mais verdes e passaram a agredir o mínimo possível o meio ambiente. “A maior floresta tropical do mundo é o cenário ideal para este lançamento”, disse Roger Alm, presidente da Volvo do Brasil, acrescentando que a empresa está afinada com o meio ambiente e investiu 20 milhões de dólares na nova linha F, que trazem novidades na motorização, caixa de câmbio e eixo traseiro.

Além da motorização pronta para atender a legislação de emissões em janeiro de 2012, os novos caminhões da linha FH e FMX trazem outras novidades no trem de força, como o aumento de 20cv em todas as versões. O modelo de menor potência saltou de 400 para 420cv, o de 440 para 460, 480 para 500 e o de maior potência passou de 520 para 540cv. “Temos, mais uma vez, o caminhão mais potente do Brasil”, observa Sérgio Gomes, gerente de planejamento estratégico da montadora no Brasil, referindo-se ao FH 540.

O aditivo ARLA32 passa a ser necessário para os novos caminhões com sistema SCR atenderem as normas de emissões
O aditivo ARLA32 passa a ser necessário para os novos caminhões com sistema SCR atenderem as normas de emissões

Gomes destaca que atualmente o aumento de potência não significa maior consumo de combustível, porque a indústria tem incorporado novas tecnologias que permitem maior desempenho e redução das emissões sem penalizar o consumo de diesel. “Os motores têm ganhado potência na média de 5cv ao ano e as composições também ficaram maiores e passaram a carregar a mais”, acrescenta. Ele detalha essas mudanças a partir dos anos 80, quando as composições tinham 18 metros, carregavam 25 toneladas e consumiam 2,2 litros de diesel a cada quilômetro rodado. Já na década de 2000 passaram a ter 20 metros de comprimento, a carregar 40 toneladas com consumo de 2,4 quilômetros por litro. Finalmente, em 2011, as composições têm 25 metros, carregam 50 toneladas e consomem 1,8 litro de diesel a cada quilômetro rodado, graças à tecnologia. Ainda de acordo com Sérgio Gomes, a frota de caminhões pesados que em 1980 era de 80 mil unidades passou para 170 em 1996 e 380 mil em 2008. “O Proconve P7 é um grande passo, mas para o meio ambiente é importante haver a renovação da frota, pois quanto mais rápido ela acontecer mais rápido será a redução de emissões”, acrescenta. Pelos seus números, em 2008 havia cerca de 380 mil veículos pesados Euro 3 rodando no Brasil.

Devido a importância do aditivo para o funcionamento do caminhão, o volume do tanque é controlado pelo painel de instrumentos
Devido a importância do aditivo para o funcionamento do caminhão, o volume do tanque é controlado pelo painel de instrumentos

O aumento da potência dos motores trouxe de carona outras mudanças técnicas nos caminhões da nova linha F. Álvaro Menoncin, gerente de engenharia de vendas da Volvo do Brasil, destaca que a transmissão automatizada I-Shift passou a ser uma unidade mais moderna, de linha uma nova geração e pesa 70 quilos a menos em relação à caixa mecânica. Operando em conjunto com a nova motorização, a unidade proporciona 5% menos trocas de marchas e incorpora novos softwares que “conversam” de uma forma melhor com a parte eletrônica do caminhão, incluindo aplicações especiais.

A tecnologia do Sistema SCR provoca reação química nos gases de escape e transforma o nitrogênio em vapor de água
A tecnologia do Sistema SCR provoca reação química nos gases de escape e transforma o nitrogênio em vapor de água

A transmissão automatizada vem ganhando espaço na preferência dos transportadores brasileiros. De acordo com Bernardo Fedalto Jr., gerente de caminhões da linha F, atualmente 72% dos modelos FH saem de fábrica com transmissão automatizada I-Shift. “É possível que até o final deste ano vamos empatar com os europeus. A tendência é o desaparecimento da caixa mecânica, restando apenas para algumas aplicações específicas”, explica. No primeiro semestre de 2011, 81% dos caminhões produzidos na Suécia saíram da fábrica com transmissão automatizada. As caixas automatizadas que equipam os modelos Volvo ainda são importadas e a previsão de Fedalto é que sejam nacionalizadas em 2012.

Tanques de diesel, de ARLA32 e catalisador formam um conjunto único na nova linha F de caminhões da marca Volvo preparada para 2012
Tanques de diesel, de ARLA32 e catalisador formam um conjunto único na nova linha F de caminhões da marca Volvo preparada para 2012

Bernardo Fedalto tem opinião de que a preferência pela caixa I-Shift por parte dos transportadores está no retorno obtido na operação de transporte, pois, conforme diz, são 5% de redução no consumo de combustível, além da economia do trem de força e do pneu de tração em cerca de 50%. “Num período de seis a oito meses a economia paga o investimento na transmissão”, diz. O preço da caixa automatizada é de aproximadamente R$ 16 mil.

Já a transmissão mecânica da nova linha ficou mais robusta para suportar maiores potências, ganhou mais capacidade de torque e manteve o acionamento por cabo. Nas duas caixas de marchas a troca de óleo acontece somente aos 400 mil quilômetros rodados. Para completar as mudanças no trem de força da nova linha, o eixo traseiro também apresenta novidades, com carcaça fundida e sem redução nos cubos e 11 quilos mais leve. “As mudanças proporcionaram outras melhorias, como níveis de ruídos mais baixos e maior torque, características que garantem maior velocidade média e maior produtividade dos caminhões. Tudo isso representa produtividade para o transportador”, conclui Menoncin. O novo eixo permite à montadora prestar melhor atendimento a transportadores que operam em aplicações diferenciadas, com a oferta de relações para diferentes topografias. As opções são oferecidas pela rede de concessionários em parceria com o departamento de engenharia da Volvo. Assim como as caixas de transmissão da linha F, a troca de óleo sintético ocorre aos 400 mil quilômetros rodados.

Para os novos caminhões darem o resultado esperado e atenderem à legislação Proconve P7, o recomendado é usar o diesel S-50 (com 50 partículas de enxofre por milhão), disponível, a princípio, em uma rede com mais de 20 mil postos de serviço. Atualmente este número não chega a 10 mil, mas diante do volume de caminhões com a nova tecnologia acredita-se que não haverá problemas de abastecimento. Sérgio Gomes, da Volvo, lembra que o novo diesel é para atender, no máximo, 8% da frota.

Além do diesel S-50 os caminhões com sistema SCR (em inglês Selective Catalytic Reduction ou Redução Catalítica Seletiva) necessitam do uso do ARLA32, um agente a base de água desmineralizada e 32,5% de ureia, necessário para o tratamento dos gases de escape. Com consumo estimado em cerca de 4 a 5% do diesel, o produto tem tanque próprio no caminhão e é injetado no sistema de escape por onde passam os gases vindos do motor. A ureia, quando submetida à alta temperatura do escape se transforma em amônia e se mistura aos gases do escape. Essa mistura é transportada até o catalisador, onde a ureia reage com óxidos de nitrogênio (NOx) transformando-os em vapor de água.

“Os tanques de ARLA32 estarão disponíveis em tamanhos apropriados para proporcionar boa autonomia de viagem, e quando há necessidade de enchê-lo novamente o motorista é avisado”, diz Ricardo Tomasi, engenheiro de vendas da Volvo. O produto será comercializado também nas concessionárias Volvo.

Todo o sistema é monitorado pelo OBD (On Board Diagnosis), dispositivo eletrônico que controla os sistemas de injeção, admissão de ar e de tratamento durante toda a vida do veículo, para assegurar que os níveis de emissões sejam mantidos dentro dos limites legais. Caso as emissões estejam fora dos limites legais, qualquer irregularidade á apontada através de luz amarela no painel de instrumentos do veículo. Se não for corrigida, haverá uma redução de torque em 40%, mas por questão de segurança, isso ocorrerá 48 horas após ele ser desligado e ligado novamente.