Por Elizabete Vasconcelos

Equipamentos que ultrapassam 100 metros de altura e que podem colaborar com a diversificação das matrizes energéticas do País. É nesta atividade que muitas empresas de transporte de supercargas estão atuando, com a movimentação de pás e outros equipamentos necessários para a construção de campos eólicos. No Brasil, onde já existem 44 empreendimentos destinados a esta atividade, estão sendo investidos R$ 25 bilhões para se ter mais 144 novos campos de fonte de energia limpa até 2013.

Neste cenário, transportadoras como a Irga, Saraiva Equipamentos e Irmãos Shinozaki – tradicionais empresas na movimentação de cargas de projeto – estão de olho na demanda e preparando seus profissionais para suprir as necessidades do mercado. A Saraiva, por exemplo, realiza desde janeiro deste ano o transporte e montagem de 171 pás eólicas, 57 torres e 57 nacelles (parte do equipamento onde são afixadas as pás) na região Nordeste. Segundo informações da empresa, os equipamentos têm dois pontos de saída: um deles é uma unidade industrial especializada neste tipo de atividade, em Cabo de Santo Agostinho/PE; o outro é o Porto de Salvador/BA. Todas as cargas seguem, então, para a cidade de Brotas de Macaúbas/BA, onde está sendo erguido um parque eólico.

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Alessandro Vivian, gerente de relacionamento da empresa, explica que estão sendo utilizadas 29 carretas extensivas, além de cinco pranchas de quatro eixos cada para o transporte destes equipamentos. Além disso, uma equipe está dedicada ao planejamento da atividade, estudando a viabilidade de cada trecho percorrido, definindo os colaboradores que participarão do serviço, além de equipamentos e operacionalização.

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Já a Irga está realizando a movimentação de diversos equipamentos entre as cidades de Sorocaba/SP e Guamaré/RN, totalizando três mil quilômetros rodados com cada item. Segundo Renato Cortez, gerente técnico de transportes da empresa, uma viagem dessas pode durar até 30 dias, pois depende de diversos procedimentos como emissão de licenças ou fechamento de estradas.

Cortez explica ainda que devido às dimensões da carga, a operação é planejada com muita antecedência e envolve um amplo estudo logístico. “Meses antes do início dos transportes, são feitos desenhos em escalas dos conjuntos transportadores com as cargas, após estes desenhos técnicos inicia-se o trabalho de campo, com estudos de viabilidade geométrica e estrutural de todo o trajeto que os veículos percorrerão, desde suas origens até o local da obra. Neste estudo são analisadas todas as passagens sobre e sob pontes e viadutos, além de uma avaliação criteriosa das curvas e entroncamentos. Também são relatadas todas as adequações necessárias para a passagem dos conjuntos, tais como podas de árvores, elevação de cabeamento elétrico e telefônico, e reposicionamento de postes”, detalha.

Dependendo das dimensões da carga, empresas precisam de carretas diferenciadas para o transporte dos equipamentos
Dependendo das dimensões da carga, empresas precisam de carretas diferenciadas para o transporte dos equipamentos

José Bento dos Santos Junior, encarregado operacional da Transportadora Irmãos Shinozaki, empresa que faz movimentações entre Sorocaba e Santos, cidades do Interior e Litoral paulista, respectivamente, ressalta ainda ser necessária uma programação com todas as concessionárias de rodovias ao longo do percurso e todos os comandos da Polícia Rodoviária.

Outro ponto importante é o tamanho do equipamento a ser transportado. Altamir Belantoni, supervisor de transportes da Wobben Windpower – empresa que atua na produção de aerogeradores para campos eólicos – destaca que a principal característica deste tipo de operação é a dimensão da carga, que em geral possui muitos excessos laterais e longitudinais. Cortez concorda e destaca que, dependendo do fabricante, apenas a pá eólica pode chegar até 50 metros de comprimento, sem contar o tamanho do cavalo-mecânico e da carreta. Com isso, muitas vezes os veículos também são específicos e desenvolvidos para cada tipo de carga. “É normal encomendarmos a fabricação de um determinado tipo de carreta (fora do padrão de mercado) somente para atender uma carga específica”, explica.

Movimentação dos equipamentos pode levar até 30 dias, pois necessita de emissão de licenças e fechamento de estradas
Movimentação dos equipamentos pode levar até 30 dias, pois necessita de emissão de licenças e fechamento de estradas

Ramiro Garcia, diretor da divisão de Wind da Saraiva, destaca também que os equipamentos são peças de alto valor agregado e diante da infraestrutura bastante precária do Brasil, o transporte representa um aspecto crítico, por isso é preciso atenção em cada procedimento.

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Quando o assunto é o motorista, as transportadoras são criteriosas e priorizam os procedimentos de segurança e a seleção de profissionais experientes neste tipo de operação. Por isso exigem diversos cursos, entre eles os de Direção Defensiva, MOPP (Movimentação e Operação de Produtos Perigosos), Prevenção de Acidentes e Amarração de Cargas. Além disso, boa parte das empresas, após a contratação destes profissionais, destina um período para uma capacitação específica neste tipo de transporte.

Veículos trafegam em velocidade média entre 40 e 60 quilômetros por hora
Veículos trafegam em velocidade média entre 40 e 60 quilômetros por hora

Para o carreteiro Wilson de Aquino, motorista com sete anos de profissão e três no transporte de cargas de projeto, destaca que a maior dificuldade do trabalho é na estrada. “Temos de rodar com muito cuidado. Os outros motoristas não têm consciência de que estamos com uma carga extremamente grande e que qualquer descuido pode ser muito perigoso. Dirigimos para nós e para os outros”, comenta.

POTENCIAL BRASILEIRO

Somando todos os campos eólicos existentes no Brasil, são gerados 900 megawatts, o que representa 0,5% de toda a energia produzida no País. Dados da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) indicam que com a construção dos 144 novos empreendimentos, a capacidade instalada dos aerogeradores deverá saltar para 5,5 gigawatts, equivalente a 4,3% da demanda nacional.

Entretanto, se quiser – e se houver todos os investimentos necessários – o País tem condições de gerar 144 gigawatts, segundo números do Atlas de Energia Eólica da Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica). Para se ter uma ideia, a hidrelétrica de Itaipu tem 14 gigawatts de capacidade instalada.

Os mais otimistas, no entanto, acreditam que o potencial brasileiro é ainda maior. Como o levantamento foi realizado em 2001 – e na época as torres tinham no máximo 50 metros de altura – alguns afirmam que o Brasil tem capacidade para gerar 400 gigawatts, três vezes todo o volume de energia que o País já possui implantado. Isso porque, hoje, as torres têm aproximadamente 100 metros de altura e, quanto maior a torre, maior sua capacidade de geração de energia. Com isso, se os investimentos neste tipo de energia se mantiverem, as empresas de transporte têm o que comemorar, pois não faltará equipamentos para serem transportados.