Por Evilazio de Oliveira

O trecho a ser percorrido quase nunca é muito longo, mas o motorista precisa madrugar sempre, às vezes à 1h da manhã, depois de ter dormido um pouco na boléia, afinal é proibido parar, porque o transporte de frango das granjas para o matadouro precisa ser feito sempre muito cedo e com rapidez, evitando ao máximo as perdas de peso com o suor ou as inevitáveis mortes no transporte.

Mais uma vez Gilberto Lorenzon, 29 anos, oito de direção e há cinco meses no transporte de frangos do interior do Rio Grande do Sul para o matadouro da Avipal S.A., em Porto Alegre, carregou pouco depois da meia-noite, em Dois Lajeados/RS. A distância a ser percorrida entre ida e volta para Porto Alegre fica ao redor dos 400 quilômetros, mas ele não tem folga: dorme dentro do caminhão, faz as refeições e toma banho, faz a barba e troca de roupas nos postos de abastecimento. Sempre precisa estar muito cedo na granja, carregar e chegar cedo no abatedouro onde não pode ficar parado por mais de duas horas. É que as cerca de 10 toneladas de frangos perdem aproximadamente 70 quilos por hora durante essa espera, através da transpiração. É possível ver o vapor subindo da carga.

Lorenzon mora em Nova Bréscia, a 100 quilômetros de Porto Alegre, mas só vai para casa nos finais de semana. O resto do tempo ele fica na boléia do Ford 99, que dirige. Acha que é um bom trabalho. Apenas se preocupa com as estradas dentro das granjas, perigosas e “se não cuidar é capaz de virar o caminhão”, diz.

O encarregado do setor de transportes do abatedouro da Avipal S.A., em Porto Alegre, Heitor Clarimundo Hugo, 30 anos, conta que pelo menos 50% de participação na qualidade final do produto depende do carreteiro, considerado como um parceiro nesse tipo de operação, desde a saída da granja. Ele explica que nessa unidade trabalham 15 autônomos com um total de 18 caminhões rodando dia e noite no abastecimento do matadouro que produz para o mercado interno e para a exportação. Cada caminhão carrega em média 468 caixas com cerca de 15 frangos cada uma, ou o equivalente a 10 mil quilos. O índice de mortalidade é pequeno, segundo Heitor: aproximadamente 0,15% por viagem.

De uma maneira geral não são necessários cuidados especiais no transporte, explica. Os trajetos são feitos numa média de até 3h30 e apenas em dias muito chuvosos ou frios é preciso enlonar o caminhão. Nos dias de muito calor a carga de frango é molhada – uma espécie de chuveirada – antes de ser descarregada para o abate, quando são novamente molhados. Mas aí já é o outro assunto que não interessa ao motorista, cuja tarefa termina na plataforma de descarga.

Para Luís Renato Flores, 23 anos e dois de estrada e oito meses como frangueiro, o serviço é muito bom. Ele teve uma experiência com câmara fria, mas não gostou. Viajava para São Paulo e Rio de Janeiro e ficava muito tempo longe da família. Agora, apesar de precisar madrugar sempre, pode passar os finais de semana em casa, o trabalho é fácil e a remuneração razoável: R$ 1.200,00 por mês, dirigindo um Volvo 93. Acredita que o transporte de frangos é fácil e acostumou até com o cheiro da carga, brinca. Luís Renato lembra que é preciso ter muito cuidado nas saídas das granjas, onde as estradas são muito ruins. Mesmo assim os produtores, com a ajuda das prefeituras, estão cuidando melhor desses trechos.

Depois de ter sido assaltado duas vezes quando trabalhava no transporte de uma empresa atacadista, Deonísio Staubt, 30 anos, 12 de profissão, e há nove “no frango”, confessa que agora só tem medo de ser saqueado pelos “sem–terra”. “Eles são um terror, e se bloqueiam uma estrada e eu estou lá, com o caminhão cheio de frangos, já viu, né?” Nesse período já aprendeu muito sobre o assunto, inclusive com uma capotagem em que foi parar no hospital e com a morte de 2.800 frangos. Mesmo assim garante que tem as suas vantagens, e uma dela é passar os finais de semana em casa, com a mulher e a filha, e quando pode assar um churrasco e tomar uma cerveja sossegado. Staubt trabalha como empregado, dirige um Mercedes-Benz ano 92 e ganha R$ 1.200,00 por mês, “sem fazer corpo mole”.

Enio da Silva Esmério, 40 anos, oito de estrada e há um meio e meio no transporte de frangos, também concorda que não dá pra fazer corpo mole nesse serviço. Conta que o motorista só dirige o caminhão. A carga e a descarga são feitas pelo pessoal da granja ou da empresa, quando chega. Só precisa cuidar das caixas para ver se todas estão certas e bem amarradas. Mas, em compensação, é necessário madrugar e não perder tempo. “Após a descarga, feita pela ordem de chegada, é só pegar a autorização e tocar pra carregar em outra granja”. Antes do frango, Esmério trabalhava no transporte de combustível. “Mas, por enquanto tá bom”, garante.

O estradeiro Paulo Dalla Vecchia, 30 anos, oito de boléia, tem dois caminhões Ford no transporte de frangos. Há sete anos nessa atividade, ele não reclama. Segundo ele, a desvantagem de dormir pouco e não ter horário é compensada com as folgas nos finais de semana ao lado da família. Além disso, garante que o frete fixo é bem remunerado. E sem os riscos de assaltos, tão freqüentes em outros tipos de cargas. Afinal, segundo ele, nunca se ouviu falar em assalto ou roubo de cargas de frangos vivos, diz, sorrindo.