Por Nilza Vaz Guimarães

O governo federal liberou R$ 440 milhões que deverão ser aplicados nas estradas federais de todo o País nos primeiros seis meses deste ano. A ação faz parte do Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas, intitulada de Operação Tapa-Buracos, desencadeada pelo governo federal no início de janeiro deste ano. Na Bahia, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, assinou no dia 10 de janeiro, uma ordem de serviço para liberação dos R$ 18,77 milhões destinados aos serviços no Estado, a serem aplicados nos 1.450 quilômetros de rodovias federais.

Na opinião do secretário estadual da Infra-Estrutura e vice-governador do Estado, Eraldo Tinoco, esta operação não significa que haverá uma melhoria da situação da malha rodoviária federal do Estado. “Trata-se de uma operação emergencial que deverá ter validade de um ano. Isso sem levar em conta o período das chuvas”, acrescenta. Ele afi rma que o valor proposto pelo governo federal para as obras de manutenção é muito baixo para que seja feito um trabalho de qualidade. “Pelo anunciado, a União gastará R$ 13 mil por cada quilômetro a ser restaurado, enquanto essa média nas estradas estaduais é de R$ 400 mil por quilômetro”.

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Em um mês, Roqueval José já teve dois pneus cortados, precisou trocar as molas e o parafuso do centro. Já para Valmir Almada, a Operação Tapa Buracos é um desperdício, porque com esse dinheiro poderia se fazer algo melhor

O secretário ressalta que o governo do Estado está investindo R$ 280 milhões – 15 vezes mais que o governo federal – para recuperar mais de 2.000 quilômetros de rodovias estaduais, sendo R$ 220 milhões do próprio orçamento estadual e os R$ 60 milhões restantes, oriundos da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico).

Na Bahia serão contempladas oito rodovias com a Operação Tapa- Buracos: as BRs 324, 101, 407, 367, 122, 330, 110 e 418. Na BR 110, de Salvador a Paulo Afonso (trecho de 209 quilômetros – R$ 6,525 milhões), na BR-330, de Jequié à BR-101 (111,7 quilômetros – R$ 2,47 milhões) e BR-101, de Feira de Santana à entrada para o Vale do Jequiriçá (123,2 quilômetros – R$ 1 milhão).

Enquanto o Governo Federal se mostra otimista com as obras de recuperação das rodovias, por outro lado os carreteiros afi rmam que esse trabalho não vai resolver o problema. Conforme Roqueval José dos Santos, que transporta máquinas e já passou em alguns trechos onde teve início a Operação Tapa- Buracos, o serviço que o governo está fazendo é um absurdo. “É uma escora de pedra e ferro. Daqui a um mês já estará uma porcaria, tudo esburacado e se cair chuva, fi cará pior ainda, porque aí que a buraqueira vai aumentar”, disse. Apenas neste mês, seu caminhão já teve dois pneus cortados, precisou trocar a mola e o parafuso de centro. “Além do prejuízo, corremos o perigo de tombar com a carga”, conclui.

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João Carlos acredita que na rota Curitiba – Bahia existem trechos muito ruins e o ideal seria arrancar tudo e colocar asfalto novo

Para Valmir Almada, que também transporta máquinas, existem estradas que precisam ser consertadas com urgência, como o trecho de Riachão do Jacuípe, na BR-324 e a BR-110, entre Alagoinhas e Paulo Afonso. Já Loir de Siqueira, de 49 anos de idade e 23 de estrada, o que o governo está fazendo é um desperdício. “Com este dinheiro poderia fazer uma coisa boa”, disse. Na BR-116, no trecho de Feira de Santana / Paraguaçu, a estrada está lastimável, com muitos buracos e sem sinalização. “No trecho em frente a Polícia Rodoviária Federal os buracos foram tapados, mas dali para frente…”, lamenta. Há poucos dias, tinha quebrado a panela de freio de seu caminhão. “Tive que isolar a roda e seguir meu caminho. É toda hora isso, pneus estourados e molas quebradas”, esbraveja.

De acordo com ele, na BR 116, entre Jequié e Manoel Vitorino o governo está jogando asfalto e passando o rodo. “Não adianta fazer isso, não dá certo. É melhor deixar na terra pura. Não estão passando o soquete na pista. As pedrinhas fi cam pulando e quando a gente passa, corremos o risco de fi car com o farol do caminhão quebrado”, conta. Com a péssima condição das estradas, Siqueira chega a fazer um percurso de 90 km em 4 horas e meia de viagem. “Passar numa estrada dessa à noite, nem pensar, é assalto na certa”, conclui.

Com 42 anos de experiência nas estradas, o carreteiro Aristides Patrício Doblins, 62 anos, diz que o cartão postal de Salvador está acabado. O carreteiro se refere a BR-324, no trecho Salvador-Feira de Santana, principal rodovia do Estado e porta de entrada para a capital baiana, onde circulam mais de 30 mil veículos por dia. “Se estes homens tivessem vergonha na cara, esta estrada não estaria assim. O caminhão vem trepidando, é um transtorno, desmorona tudo”, reclama. De acordo com ele, nos 2.000 km de distância entre São Paulo e Salvador, cerca de 160 km estão ruins. Atrasa pelo menos, um dia de viagem. “Não existe prioridade, o governo tem que consertar todas as estradas. Há cerca de 6 meses que não se faz nada que poderia ser resolvido em apenas um dia de trabalho”, diz. Conforme Doblins, seu caminhão não quebrou ainda por que é novo, mas está gastando muito óleo diesel. “Na BR-407 de Juazeiro para Salvador, num trecho de mais ou menos 30km, temos de trafegar a 20 km/hora. Isso é um absurdo. O acostamento foi feito pelos próprios carreteiros. É uma poeira só, um transtorno. Além disso, você pode quebrar um pára-choque por conta dos buracos e quando chega no posto da PRF, ainda recebe uma multa”, acrescenta.

Há três anos, no trajeto Curitiba- Bahia, João Carlos Denis acha que o governo está desperdiçando dinheiro. “Existem trechos muito ruins e acho que deveriam arrancar tudo e colocar asfalto novo. Não vai adiantar tapar buraco desta forma, porque tapa um aqui e abre outro ali”. O carreteiro diz que uma mola custa em torno de R$ 250,00 e este valor não está embutido no frete. “O prejuízo é muito grande por conta destas estradas mal cuidadas. Posso dar um exemplo: na região de Poções, o caminhão pode tombar a qualquer momento. Na lateral da pista são formadas valas e com as chuvas, estas se transformam em erosões. É preciso muito cuidado”, acrescenta.

Quando se trata da BR-242, a pior estrada federal que corta o Estado da Bahia, o carreteiro cearense Cícero Raimundo Alves da Costa, 45 anos, conhece na palma da mão. “O recapeamento está sendo feito da seguinte forma: o governo recapeia 1 km, deixa dois na terra, recapeia mais 1 quilômetro, deixa dois na terra e assim por diante. “Temos que dirigir na primeira e segunda marchas, a mercê dos assaltantes e arriscando a cortar os pneus”, reclama Costa, que quase foi assaltado na altura do km 84 da BR-242, no início da buraqueira.

De acordo com ele, de Ibotirama para Salvador é o pior trecho, não tem acostamento e nem sinalização. “Sempre dou um trocadinho para os meninos que fi cam jogando terra nos buracos. Não dá para dar muito, senão no fi nal da viagem fi co devendo”, fala sorrindo. Ele acredita que o governo vai dar um grande adiantamento nas obras das estradas por ser um ano político. “Até as eleições acho que estará tudo pronto. Todos os deputados irão fazer o melhor possível para mostrar serviço. Mas tudo isso não vai adiantar nada. Do jeito que estão fazendo, conserta de dia, a chuva vem a noite e tira”. Segundo ele, tem muita gente culpando o bitrem por danifi car as estradas, mas os trechos que não rodam bitrens, também estão ruins. “O bitrem tem o peso distribuído e não danifi ca o asfalto, a culpa é da má qualidade do material e ainda por cima, a péssima aplicação. Eles deveriam fazer um tapete de asfalto de 5 cm e não de 1 cm como estão fazendo. Assim quebra até quando passa uma bicicleta”, ironiza.

Por outro lado, Costa reclama do tempo que perde, além do aumento da quantidade de diesel que ele gasta com as estradas ruins. “De Belém a São Paulo, por exemplo, gastava 900 litros para percorrer em 3 dias e meio, e por conta das péssimas estradas, gasto hoje 1.175 litros de óleo e 4 dias e meio para fazer o mesmo percurso. Perco tempo e dinheiro”.

Sinalização nas estradas também é outro fator muito importante para o carreteiro, que alega não ter como pedir socorro numa estrada que não tem sinalização. “Na hora de pedir socorro você nem sabe onde está, nem imagina em que quilômetro da rodovia se encontra. Na BR 116 falta sinalização e na Rio Bahia, em todo o Nordeste também não existem”, fi naliza.