Por Elizabete Vasconcelos

O ano de 2012 acabou e tem bastante carreteiro achando que ele “foi tarde”. Queixas não faltam: frete baixo, pedágio e diesel mais caros, aumento do controle do tráfego de caminhões, além da tão falada “lei do motorista” têm tirado a tranquilidade e a expectativa de crescimento dos transportadores autônomos.

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Para João Avelino, 2012 poderia ter sido melhor se não tivesse havido aumento das restrições a caminhões em muitas cidades do Brasil

 

João Avelino dos Santos, 41 anos e 14 na profissão, baiano que vive em São Paulo, por exemplo, acha que o ano foi relativamente tranquilo, mas poderia ter sido melhor. Em sua opinião, o maior problema foi o aumento da restrição aos caminhões em várias cidades do País. “Bem que o novo prefeito de São Paulo (Fernando Haddad – eleito em outubro) podia flexibilizar a lei e melhorar a segurança para nós carreteiros”, sugere Santos, que transporta carga de papel entre São Paulo e o interior paulista. Ele destaca também que circular à noite em São Paulo não dá, porque é muito perigoso

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Com 26 anos de experiência como motorista, José Rodrigues diz que não se recorda de ter vivido um período tão ruim na profissão

Já o capixaba José Rodrigues, de 46 anos, diz que desde que começou na atividade – há 26 anos – nunca tinha vivido um período tão ruim. “Nos últimos anos as coisas só têm piorado. O frete está defasado, as restrições aos caminhões só aumentam e agora a questão da lei do motorista que não oferece nenhuma infraestrutura ou benefício para nós”, relata. Rodrigues, que transporta principalmente cargas de remédio, cobre e bobinas de alumínio, conta que desde 2010 só tem se decepcionado com a atividade e já pensa em sair da profissão. “O motorista não tem valor algum e, para piorar, os inexperientes aceitam qualquer coisa e desvalorizam ainda mais a categoria”, reclama.

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Os preços do diesel e pedágio estão cada vez mais altos, mas o valor do frete está cada vez menor, lamenta o autônomo Cassio Vinicius

O mineiro da cidade de Dom Cavati, Cassio Vinicius Lemos, de 30 anos, aprendeu o ofício com o pai, que era carreteiro, e é da mesma opinião dos colegas de que o ano de 2012 foi difícil para os motoristas de caminhão. “O preço do óleo diesel e do pedágio estão cada dia mais altos e o frete cada vez menor”, reforça. Na sua lista de reclamações conta também as restrições à circulação de caminhões em várias cidades do País. Mesmo assim, Cassio Lemos, que transporta ferro de Minas Gerais para São Paulo, e aceita diversos tipos de produtos no frete de retorno, não perde a esperança de a situação poder mudar. “Tem de melhorar, porque se piorar, a profissão vai acabar”, sentencia.

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Há dois anos trabalhando como motorista autônomo, Paulo José Bezerra diz que o que ganha na atividade dá somente para pagar as contas

Com 36 anos de idade e há 10 no setor de transporte, Paulo José Bezerra Fonseca – que há dois anos virou autônomo – relata que se manter ativo na profissão não é uma tarefa fácil. “O valor do frete só cai e pra ajudar a piorar, por conta das restrições, a gente perde muito tempo para transportar qualquer coisa que tenha que entrar numa cidade grande”. Alagoano de Palmeira dos Índios, Bezerra destaca que o valor que se recebe hoje pelo frete dá somente para pagar as contas e nada mais.

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Antônio Marcos Campelo, diz que devido o valor baixo do frete teve que atrasar o pagamento de uma parcela do financiamento de seu caminhão

 

Outro carreteiro que se queixou do valor do frete e dos preços pagos pelo litro do óleo diesel e das taxas de pedágio é Antônio Marcos Campelo, de Tabuleiro do Norte/CE. Para ele, a tendência é de a situação só piorar. Ele diz que tem sempre um desesperado ou iniciante na atividade que aceita o frete mesmo que o valor pago esteja muito abaixo do mercado. “Essa prática derruba os preços do mercado. Os “caras” estão pegando qualquer coisa por qualquer preço”, reclama. Ainda de acordo com seu ponto de vista, a coisa está tão difícil que – pela primeira vez na vida – atrasou uma parcela do pagamento de seu caminhão. “Estão faltando apenas quatro para eu quitar e atrasei o pagamento. Isso é muito triste, e aconteceu porque o valor do frete não está dando para pagar as contas”, lamenta.

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Satisfeito com seu trabalho, Edneldo Costa Lima diverge dos colegas e diz que 2012 foi um ano muito bom para ele e torce para que 2013 seja igual

Em meio às opiniões de que a situação do motorista autônomo é ruim, o carreteiro cearense Edneldo Costa Lima estampa no rosto um sorriso de satisfação. Aos 37 anos de idade, ele trabalha há 19 para a mesma empresa de transporte e afirma que nunca teve um ano tão bom quanto 2012. “Não faltou carga, o fluxo de trabalho foi intenso. Se 2013 for assim também vou soltar rojão. 2012 foi uma maravilha”, comemora.