Por Evilazio de Oliveira
O óleo diesel é o item que mais pesa na planilha de custos do transportador e justamente por isso, a necessidade de manter o motor bem regulado e, sobretudo, saber economizar na hora de abastecer, pois eventuais diferenças de alguns centavos podem significar muito ao final da jornada. São essas diferenças que assustam donos de postos e carreteiros no Rio Grande do Sul, cujo combustível é vendido mais caro em razão dos índices tributários superiores aos de Santa Catarina e Paraná e a concorrência do óleo diesel argentino, com um custo quase 50% menor. Uma das conseqüências é que os caminhões que operam no transporte internacional abastecem no outro lado da fronteira e passam “batidos” pelo Estado.
Diante da legislação que autoriza o uso de tanques com capacidade de até 1.200 litros, um importante transportador de Lajeado, no Vale do Taquari/RS, está abastecendo seus caminhões, em São Paulo – com autonomia para viajar ao Rio Grande do Sul e, ao voltar, abastecer em Santa Catarina ou Paraná, onde os preços também são menores. Ao final, uma certa vantagem para o frotista e desespero para os donos de postos gaúchos, que vêem essa tendência aumentar, mesmo entre os motoristas autônomos.
Desde setembro de 2005, quando o Conselho Nacional de Trânsito disciplinou o uso de tanques de combustível com as capacidades de até 1.200 litros, através da Resolução 181, muitas empresas brasileiras se dedicaram à fabricação desse equipamento. Em Caxias do Sul/RS, a Tanksul – Indústria de Acessórios para Veículos Ltda. é uma das mais conhecidas e sua produção chega a 500 tanques por mês, atendendo a Randon, frotistas e autônomos. De acordo com o diretor-comercial da empresa, Cassiano Marchett, 27 anos, são fabricados tanques de até 800 litros, em aço inox ou aço carbono (ferro). A maioria dos conjuntos de tanques é instalada em veículos novos. E parte das encomendas é de dois tanques de 600 litros cada, instalados nas laterais do caminhão.
Também são utilizados tanques transversais atrás da cabine, para atingir a capacidade permitida. Ele esclarece que apesar de haver algumas dúvidas, os tanques podem ser colocados em qualquer parte do veículo, desde que não excedam o volume definido pela Resolução. Há 15 anos no mercado, a empresa é a pioneira no Brasil na fabricação de tanques especiais para caminhões. Depois de um período de dificuldades financeiras, a Tanksul foi comprada em 2000 pela família Marchett, de Caxias do Sul, e com tradição no setor de transportes.
Cassiano lembra que até 2005 não havia legislação específica sobre a capacidade dos tanques de combustível. Porém, em razão das grandes diferenças de preços do óleo diesel entre os Estados, o fator economia forçou os carreteiros a aumentarem a capacidade de seus tanques, rodando mais e com isso abastecendo somente nos postos que oferecessem mais vantagens. Por pressão das autoridades do governo do Mato Grosso e dos proprietários de postos, que viam seus lucros diminuírem, o assunto acabou sendo disciplinado na Resolução 181. Com isso, o assunto ficou esclarecido: o caminhão pode utilizar vários tanques – inclusive o transversal atrás da cabine – sem problemas, já que a Resolução não cita quantidade ou localização. Fala apenas na capacidade máxima, recorda Marchett.
Segundo ele, a diferença de preços de até R$ 0,20 por litro no abastecimento no Rio Grande do Sul e Paraná, por exemplo, pode mexer na estrutura financeira de uma empresa transportadora. Acredita que com maior capacidade nos tanques de combustível o transportador terá mais controle da sua frota, abastecendo em locais certos e com a possibilidade de negociar o preço. Além de evitar que os motoristas viagem com dinheiro no bolso. Cassiano cita também a valorização do caminhão na hora da troca. Ou mesmo no caso de o carreteiro decidir retirar os tanques para colocar em outro veículo. O conjunto de tanques de aço inox da Tanksul custam entre R$ 6 e 7 mil e os de aço carbono galvanizado, entre R$ 3 e 4 mil, “tudo dependendo da negociação”, explica.
Na opinião do motorista Moacir Neobert de Melo, 41 anos e 21 de profissão, os dois tanques de 300 litros que utiliza no seu Mercedes 91, nas viagens entre Medianeira/PR e a Serra Gaúcha, transportando madeira, são suficientes para lhe garantir alguma economia de combustível ao final de cada viagem, de mais ou menos 1.800 quilômetros. Ele conta que sempre abastece no mesmo posto, em Chapecó/SC, onde o preço do litro de diesel é menor, além de a localização ser estratégica no seu roteiro. Com isso, só volta a abastecer no retorno. Só eventualmente abastece em outros postos, quando precisa trocar carta frete ou utilizar o estacionamento no aguardo de cargas ou para pernoites. Reconhece que já andou pensando em trocar os tanques por outros de maior capacidade, todavia, lembra de eventuais problemas com a balança. “Não adianta ganhar num lado e perder de outro”, afirma. Prefere economizar cerca de R$ 50,00 ou 60,00 por viagem abastecendo em Chapecó, e de forma segura.
O carreteiro César Augusto Götz, natural de Marau/RS, tem 42 anos, 15 de profissão e é dono de um cavalo-mecânico VW 97, com carreta. Viaja pelos Estados de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e para onde tiver carga. Nesta última viagem rodou cerca de seis mil quilômetros utilizando um tanque de 275 litros e com uma média de 4 km/l. Ao ver a diferença de preço de R$ 1,95 para R$ 2,40 entre postos de Estados diferentes, já pensou seriamente em aumentar a capacidade do seu tanque. Transporta mais combustível e perde na capacidade de carga, raciocina. Pelo menos, por enquanto, vai deixando assim.
Sérgio Alves Braga, 42 anos e 25 de boléia, natural de Rebouças/PR, dirige um Scania 98, equipado com dois tanques de 300 litros cada um. Ele viaja entre Caxias do Sul e São Paulo e não precisa abastecer no caminho. Eventualmente completa o tanque em Santa Cecília/SC. Confessa que nunca cogitou a possibilidade de utilizar tanques de maior capacidade, porque trabalha como empregado. No entanto, reconhece que diante das grandes diferenças de preços entre os postos, certamente haveria uma economia razoável no fim do mês para o dono do caminhão. Ele admite que muitas vezes o carreteiro se obriga a pagar mais caro pelo litro de diesel só para poder usufruir alguns benefícios, como estacionamento, segurança, banheiros limpos e a garantia de dormir sossegado, sem medo de assaltos ou o assédio de prostitutas.
Para o estradeiro Leandro Francisco Dziedzec, 28 anos e oito de boléia, talvez este seja o momento certo de avaliar a possibilidade de instalar um conjunto de tanques com maior capacidade no seu Mercedes 89. Ele está utilizando apenas um dos dois tanques de 300 litros do seu caminhão, porque o outro enferrujou e foi isolado. Agora Leandro já pensa na compra de outro, ou de um conjunto, dependendo dos preços. Também se preocupa com a questão dos preços dos combustíveis e a necessidade de procurar locais mais econômicos para abastecer. Leandro é natural de Kiev/PR e viaja entre Bento Gonçalves/RS e São Paulo.
Motorista de um Volvo FH ano 2002, o caxiense Luiz Volmir Terres, 39 anos e 19 de profissão, viaja por todo o País, equipado com dois tanques de 300 litros cada um. Ele trabalha como empregado e o patrão nunca comentou nada sobre as vantagens de tanques maiores. Lembra que o assunto sempre é comentado entre os colegas estradeiros, sobretudo nas vantagens proporcionadas para os caminhões grandes, do tipo bitrens ou rodotrens, que percorrem longos percursos. “Podendo escolher o lugar mais barato para abastecer, é claro que dá uma bela economia no fim da viagem, e os tanques acabam se pagando”, acredita.