Por Nilza Vaz Guimarães

Um dos grandes obstáculos para o desenvolvimento da Bahia tem sido o setor de infra-estrutura de transportes. Esta afirmação foi feita pelo secretário de Infra-estrutura do Estado baiano e vice-governador, Eraldo Tinoco, durante audiência realizada recentemente em Brasília, com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Desde 1991, a Bahia atravessa uma expressiva fase de desenvolvimento, resultado de uma agressiva política de recuperação fiscal, o que lhe garantiu a atração de investimentos industriais, agropecuários e de serviços.

No entanto, um dos grandes obstáculos para o incremento desse desenvolvimento tem sido o setor de infra-estrutura de transportes, daí as nossas reivindicações que vão desde a recuperação de rodovias, passando pela conclusão de obras em construção até chegar aos modais ferroviário e hidroviário”, afirma Tinoco. As reivindicações do Governo da Bahia ao Ministério dos Transportes são para obras que não contam com recursos específicos na OGU 2004 ou que não estão contempladas com o investimento necessário.

Começam pela BR-242 (Argoim/Luis Eduardo Magalhães), por ser esta a principal ligação de Salvador e os portos da Baía de Todos os Santos com a Região Oeste do Estado, para escoamento da produção de soja, milho, café, etc. Esta rodovia – que também liga Salvador a Brasília e atravessa o Pólo Turístico da Chapada Diamantina – necessita de recursos estimados em R$ 38 milhões para oferecer boas condições ao tráfego.

Passam pela recuperação da BR-110 – Acesso a Sátiro Dias / BR-101 (entroncamento de Alagoinhas) e pelo trecho Jeremoabo/Olindina, que já tem projeto pronto e necessita de contratação imediata por ser uma rodovia de tráfego intenso. Tem ainda a BR-116 (Feira de Santana/Santo Estevão), com 36 km de extensão, que exige duplicação e uma restauração, em caráter emergencial; além do trecho Serrinha/Tucano, com 80 km de extensão.

Já a BR-407 (Juazeiro/Capim Grosso), com 233 km de extensão, exige recuperação imediata por receber em alguns trechos até oito mil veículos/dia e também por ser a principal ligação da região produtiva de Juazeiro/Petrolina com Salvador. A BR-135 (Riachão das Neves/Barreira), com 135 km de extensão, também necessita de restauração, assim como a BR-101 (Gandu/Ubaitaba), que dá continuidade ao trecho já restaurado. Buararema/Acesso ao Monte Pascoal, na BR-101 também faz parte do pacote por ser a única alternativa de quem pretende atingir a BR-116, e pela interligação que faz para o tráfego Norte-Sul do País.

A Bahia reivindica, ainda, a conclusão de algumas obras em construção, como a Rodovia BR-116, trecho Bendengó/Ibó, com a ponte sobre o Rio São Francisco, que vem sendo executada em convênio com o governo estadual, que, por sinal, arca com 30% dos custos da BR-135, no trecho Riachão das Neves/Divisa Bahia – Piauí, ainda sem pavimentação. Esta obra foi contratada, através de convênio com o 4º Batalhão de Engenharia e Construção e apesar da sua importância como principal ligação do Piauí e do Oeste da Bahia com o Planalto Central está paralisada.

O Estado anunciou um pacote de obras de restauração, pavimentação e manutenção de estradas no valor de R$ 38 milhões, que contemplará 32 estradas e pontes estaduais, totalizando aproximadamente, 700 km de extensão. Os recursos serão financiados numa contrapartida entre o Tesouro Estadual e a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – Cide, cobrada sobre os combustíveis. Eraldo Tinoco explica que essas obras correm o risco de vir a ser destruídas, caso o governo federal não recupere a malha rodoviária que corta o Estado. “As rodovias estaduais não foram planejadas para suportar esse tráfego pesado e intenso, que se desvia das rodovias federais que
estão, em sua maior parte, danificadas”, diz.

O PELT – Programa Estadual de Logística de Transportes da Bahia – está orçado em aproximadamente R$ 10 bilhões, sendo que quase R$ 2 bilhões serão aplicados no Plano Emergencial a ser executado entre 2004 e 2007, que prioriza as intervenções de curto prazo, relacionadas a pontos críticos, dentre eles, construção, reconstrução e restauração de 5.064 km de estradas. Segundo Tinoco, o Pelt diagnosticou que 99,5% da movimentação de cargas no Estado é pelo modal rodoviário.

CARRETEIROS TAMBÉM SÃO OS PREJUDICADOS

O carreteiro baiano Emivaldo Andrade da Silva, mais conhecido como “Parafina” diz que na Bahia só a BR 101 ainda dá para andar. Nas outras é só complicação”, diz. Para o carreteiro que faz rota em Barreiras/Salvador pela BR-242, e Juazeiro/Salvador pela BR-324, transportando milho, arroz e cereais diversos, está cada vez mais difícil de trabalhar. “Na BR-242, principalmente, os buracos são tão grandes que cabem os pneus. Não tem sinalização horizontal e o mato esconde as placas, além de assaltos freqüentes”, reclama. O pre-juízo é total, garante o carreteiro, que sempre enfrenta quebras no caminhão, pneus estourados, molas quebradas e o consumo de combustível alto, enquanto que o valor do frete está cada vez mais baixo. “Chego em casa com o bolso limpo, a roupa suja e devendo as peças do caminhão que foram trocadas durante a viagem. Na BR-242, o carreteiro costuma doar dinheiro, biscoito e merendas aos meninos que ficam tapando buracos ao longo da rodovia. “Fico com pena deles e dou o que tenho, mas isso não pode ficar assim, não vejo ninguém consertando nada, vejo acidentes a todo momento”, reclama.

Rodar dia e noite, com prazo para chegar, está cada dia mais difícil, diz o carreteiro Silvio Menezes, natural de Valença e que está há 34 anos nas estradas, no transporte de produtos químicos, bujões de gás vazios por todo o Nordeste. Na sua opinião, a BR-135, tem grande importância para o Estado, mas está muito perigosa. “Por estar toda esburacada, não tem acostamento e se encontra cheia de mato. A facilidade para se assaltar um caminhão é grande. Somos alvos fáceis para os bandidos”, esbraveja o carreteiro.

Com um prejuízo de R$ 380 com a quebra do feixe de molas de seu Mercedes-Benz 1113 na última viagem, Menezes diz que quem contrata não paga esses custos de manutenção, e às vezes, o valor do frete recebido nem compensa o que foi gasto durante a viagem com o conserto do caminhão.

O trecho da BA-093, que liga a cidade de Entre Rios até Simões Filho, não dá para trafegar e aí somos obrigados a desviar e rodar cerca de 90 km a mais para chegar no destino. Ninguém tem coragem de passar por lá”, reclama. Por outro lado, Menezes diz que não adianta o governo tapar os buracos do jeito como está sendo feito. O remendo fica geralmente dois palmos de altura a mais do que o restante da pista e “é aí que o caso fica feio e o caminhão vira”. Para ele, o governo tem que tomar uma providência urgente, porque as estradas estão uma vergonha”.

Na BR-242 o trecho que vai do Pai Inácio até o Seabra já está em recuperação, mas de Ibotirama até a subida da Mangabeira continua sendo o pior trecho. “Estavam tapando só com barro e com as chuvas as estradas ficaram piores, se transformaram em perfeitos lamaçais”. Já no sudeste da Bahia, na BR-101, entre Teolândia e Ubaitaba tem muito assalto. E entre Itapebi e a divisa da Bahia com Espírito Santo existem muitos trechos perigosos. Na BR-324 num trecho de aproximadamente 120 km, que liga Tanquinho a Capim Grosso também está abandonada e as obras de recuperação vêm sendo aguardadas há muito tempo. “Assim fica impraticável continuar trabalhando nas estradas”, conclui.

INVESTIMENTO DE 120,8 MIL NAS ESTRADAS FEDERAIS BAIANAS

O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, anunciou durante visita a Salvador, (no final de maio) a liberação imediata de R$ 120,8 milhões (de um total de R$ 200 milhões para o Estado) para recuperar, até o início do ano que vem, 2.824 km de estradas federais na Bahia. Nascimento ressaltou que a Bahia tem tudo para se tornar uma potência ainda maior no agronegócio, com a realização dos investimentos em infra-estrutura rodoviária, ferroviária e portuária, e na interligação entre as três modalidades de transporte. “O objetivo é que até meados de março e abril do ano que vem 80% das rodovias federais tenham melhores condições de tráfego para possibilitar o escoamento da produção estadual com mais segurança e menores custos”, concluiu.