Por Evilazio de Oliveira
Trafegando pelas estradas brasileiras ou dos países do Mercosul, os carreteiros preferem seguir em comboios, ou mesmo em duplas, “situações em que um motorista cuida do outro”, como forma de prevenção a assaltos, um tipo de crime cada vez mais comum e que tem causado grandes prejuízos aos transportadores. Esses mesmos cuidados são observados para a escolha dos lugares de paradas para a obediência à Lei do Descanso, para as refeições ou pernoites, uma vez que são poucos os locais disponíveis, conforme alegam os estradeiros. Principalmente ao entardecer, quando a maioria dos postos com estacionamentos já estão lotados. Ou, à exigência dos postos de só permitir estacionar quem abasteça no local.
Mesmo atuando como supervisor de frota de uma empresa de transportes de cargas, e acostumado a orientar os motoristas sobre cuidados com a segurança no trecho, Luciano Popiu, 38 anos de idade e 20 no setor, natural de Cascavel/PR – atualmente morando em São Paulo/SP – foi vítima de duas tentativas de assalto. Ele conta que há alguns meses, em Londrina/PR, ele seguia pela rodovia, ao volante de um Iveco praticamente zero, às 2h da manhã, com uma carga de alho avaliada em cerca de R$ 200 mil, proveniente de Mendonza/AR, quando três automóveis se posicionaram na frente, atrás e ao lado do caminhão. Sob a mira de armas, recebeu a ordem de encostar. Porém, ao invés de parar Luciano acelerou. Como não havia movimento na pista, desenvolveu velocidade e conseguiu despistar os assaltantes, segundo conta. “Não houve tiros e nada de grave aconteceu, a não ser o grande susto”, relata.
Em outra ocasião, Luciano diz que seguia com o caminhão vazio, às 19h30 pela avenida Jacú-Pêssego, entroncamento do Rodoanel/SP, quando alguém, de um automóvel sinalizava que algo acontecia na traseira do caminhão. Ele, tolamente – conforme admite, hoje – parou em frente a uma borracharia e foi “calçado” sob a mira de uma pistola. Porém, talvez devido ao grande movimento de pessoas no local, o assaltante desistiu e acabou fugindo com o comparsa que o aguardava no carro. “Outro susto”, lembra. A cada viagem, ele aconselha aos motoristas que só estacionem em lugares seguros, de preferencia nos locais previamente estabelecidos. E, sempre que possível, para viajarem em comboio. Em caso de assalto, a recomendação de sempre: não reagir. Lembra que até agora nenhum de seus motoristas foi assaltado ou sofreu qualquer tipo de violência nas estradas por onde costumam trafegam.
Precavido, Fábio Garcia Nunes, o Surfista, 32 anos e 11 de estrada, natural de Quaraí/RS, garante que sempre que possível programa os lugares de parada a cada viagem. Segue um roteiro estabelecido pela empresa e conta também com a indicação de colegas. Ele dirige uma carreta por vários Estados do Brasil e vai com frequência ao Chile, Argentina e Uruguai. Costuma levar a sua prancha de surf, “pois nunca se sabe, vai que numa dessas dá pra pegar uma onda”. Como segue à risca todas as orientações de segurança para dirigir e para escolher os lugares de paradas ou pernoite, viaja tranquilo, “mas sempre atento”, garante. Até agora não teve nenhum tipo de problema, e espera continuar assim com a “ajuda de Deus”. O caminhão com o qual trabalha está equipado com rastreador e coberto por seguro total e de terceiros.
O carreteiro Paulo Roberto Silveira, tem 28 anos e três de boleia, já rodou o Brasil e atualmente faz a rota de Uruguaiana/RS ao Chile, com paradas mais ou menos programadas, dependendo do horário em que é liberado pela aduana. Também procura viajar junto com outros colegas e parar sempre em lugares conhecidos, ou que tenham indicações, observando a movimentação de caminhões que estejam no local, restaurantes ou postos para pernoitar. Sabe muito bem dos perigos da estrada, por isso toma cuidados redobrados, procurando não ficar afastado do caminhão ou isolado dos companheiros. Nunca teve qualquer tipo de problema, mas já ouviu falar de colegas que foram assaltados, perderam a carga e até mesmo o caminhão. De uma coisa ele tem certeza: é muito cuidadoso.
Justamente por não ter um motorista cuidadoso é que Elenice Rocha, de 25 anos e cinco como gerente de frota da VV2R Transportes Ltda., de Uruguaiana/RS, perdeu um caminhão Scania 92 com carreta, com carga de caixas de leite (carga segurada). O veículo foi levado por ladrões em um posto de combustível à margem da rodovia, em Colombo/PR, em 19 de outubro de 2011. O motorista Vitor Hugo da Costa Sell, que trabalhava na empresa há oito meses, deixou o caminhão no posto para participar dos funerais de uma tia, em Uruguaiana, durante o final de semana. Ao retornar, o caminhão havia desparecido.
Elenice conta que foi a mãe do motorista que ligou comunicando o fato. Embora ele não tenha sido incluído como suspeito pela polícia, na opinião dela ele “foi descuidado e negligente”. E por conta disso foi dispensado da empresa, pois ficou sem caminhão para trabalhar. “Agora, as recomendações aos motoristas são redobradas”, diz ela.
Antes de iniciar qualquer viagem, o carreteiro Jorge Antônio Barbosa Quevedo, 33 anos de idade e há pouco mais de oito no trecho, estabelece, junto com o patrão, um roteiro incluindo as paradas obrigatórias para o cumprimento da Lei do Descanso e para o pernoite. Natural de Uruguaiana/RS e trabalhando com um Mercedes Axor 2011 na rota Curitiba/PR – Uruguaiana/RS – Chile – Foz do Iguaçú/PR – Curitiba/PR e novamente Uruguaiana, ele já estabeleceu uma rotina de trabalho, parando em pontos que considera com melhor segurança. Sempre toma todas as precauções, cuidando para trafegar em comboio, ficar próximo de pessoas conhecidas e evitar se afastar muito do caminhão.
Mesmo assim, conta que já aconteceu de abrirem a tampa do baú ao trafegar em baixa velocidade ao chegar na aduana de Uruguaiana. Levaram duas ou três caixas de fermento. O prejuízo não foi grande, apesar do risco. Todavia, o caminhão com o qual trabalha já foi roubado em Santa Fé, na Argentina, tempos atrás. O dono do caminhão, Nunes, 46 anos e 26 no setor, conta que o seu motorista João Setembrino – com mais de oito anos de trabalho na empresa – foi assaltado na ruta 19, província de Santa Fé, e obrigado a entregar aos criminosos o caminhão carregado com tecidos.
O assalto aconteceu às 16h de uma quarta-feira, 28 de novembro de 2012. O motorista foi liberado em Buenos Aires, a cerca de 450 quilômetros de distância. O veículo foi localizado no dia seguinte graças ao rastreador. João Nunes conta que demorou três meses para liberar o caminhão na Argentina, retido como fiel depositário até o pagamento dos impostos da carga roubada. O motorista assaltado não está mais na empresa porque não teria aceitado dirigir outro caminhão. Depois desses transtornos, Nunes afirma que não se cansa de recomendar muito cuidado aos seus motoristas, principalmente na necessidade de viajarem em comboios e sempre que possível “um cuidando do outro”.*