Era uma manhã do mês de janeiro de 1995 e meu pai Izael, conhecido por essas estradas como “careca”, se preparava para viajar do Estado do Espírito Santo para São Paulo. Como estávamos em férias escolares ele resolveu levar eu e minha irmã Josiane. Ficamos muito entusiasmadas e felizes, afinal, iríamos passar as férias em São Paulo.
Nossa mãe, Maria José, preocupada como sempre, teve a idéia de fazer uma deliciosa carne de costela com batata para levarmos na viagem, pois a carga que meu pai carregava tinha horário e não poderíamos fazer muitas paradas durante o percurso.

Tudo ia muito bem: o dia estava lindo, sol e poucos veículos na estrada. Minha irmã estava eufórica, pois era a sua primeira viagem para São Paulo. Papai dirigia tranquilo e muito feliz com suas duas filhas ao lado. Ao entardecer a fome foi chegando e todos estávamos ansiosos para saborear aquela deliciosa carne com batata. Imediatamente paramos em um posto à beira da estrada e fomos jantar. Fizemos um arroz e comemos com a carne. Estava uma delícia. Logo que terminamos a refeição guardamos o que sobrou na gaveta da cozinha (que era de aço) para almoçarmos no dia seguinte. Porém, meu pai foi logo avisando: “Meninas, essa carne pode estragar até amanhã”. Como nunca ouvimos o que dizem nossos pais, guardamos a sobra e continuamos a viagem.

No dia seguinte nós descarregamos a mercadoria em São Paulo e novamente a fome bateu: era a hora do almoço. Eu e minha irmã lembramos da carne e fomos pegá-la. O cheiro estava estranho, porém, como o dinheiro estava curto nós- inclusive meu pai – resolvemos comê-la mesmo assim. Logo depois iniciamos a viagem de volta. Chegamos ao Rio de Janeiro e quando atravessávamos a ponte Rio- Niterói meu pai brecou e mandou, apressadamente, que eu e a Josiane saíssemos do caminhão. Sem entender nada, minha irmã perguntou:
-Papai, estamos no meio da ponte e se nós descermos podemos cair e eu tenho medo de altura.

– Minha filha, estou com dor de barriga danada e se vocês não descerem do caminhão eu irei “fazer nas calças”.

Percebendo que a situação era grave, Josi desceu correndo e eu logo atrás. Ficamos esperando debruçadas na lateral da ponte. Devido as câmeras instaladas no local a equipe de socorro logo apareceu para saber o que acontecia com o caminhão.

– Senhor, está tudo bem?
– Sim, está tudo ótimo é que minhas filhas tinham um grande sonho de pisar nessa ponte.

A equipe acreditou na conversa do meu pai e nem imaginava que o motivo real seria o de nos socorrer do sufoco que estávamos passando com o cheiro dentro da cabine. O assoalho inteiro ficou respingado. Paramos no primeiro posto e meu pai saiu correndo para terminar o “serviço”. Enquanto isso sobrou para mim e para minha irmã limparmos toda aquela sujeira da cabine. Mas o cheiro ainda ficou por vários dias. Tudo isso por causa de uma carne com batata!