Por Evilázio de Oliveira
Para o carreteiro autônomo ou para o pequeno frotista, a possibilidade de “encostar” como agregado numa empresa grande, como alternativa de sobrevivência na atividade, está ficando mais difícil, pois os embarcadores exigem caminhões novos potentes e atualizados, conforme explica o dono da empresa de Transportes Scapini Ltda., de Lajeado/RS, Valmor Scapini. Ele acredita que na atual situação de mercado, esse tipo de parceria é a mais viável, economicamente.
Todavia, a grande maioria dos autônomos opera com uma frota antiga, o que – aos poucos – dificulta essa operação conjunta, em que todos saem ganhando.
Valmor Scapini dispõe de uma frota de 100 caminhões Scania e Volvo, com idades de três a oito anos. A metade dos veículos pertence a terceiros, mas a empresa não usa o termo agregados e prefere dizer que são profissionais que trabalham em regime de dedicação com fidelidade. Os caminhões da Scapini atendem as regiões Sul e Sudeste com o transporte de produtos de higiene e limpeza, arroz, tabaco e madeira aglomerada.
Apesar das vantagens que esse tipo de negócio oferece, a oferta está diminuindo porque o mercado está exigindo pessoal e equipamento cada vez mais qualificado, explica o empresário. E lamenta, pois todos saem ganhando nessa parceria, já que as vantagens obtidas para a transportadora, evidentemente, são repassadas para o terceirizado, garante. Para se candidatar a uma vaga de dedicação com fidelidade é preciso passar por um rigoroso check-list da empresa, um cadastro minucioso e ser aprovado por dois gerenciadores de risco, tudo isso em nome da qualidade e segurança, enfatiza.
O paulista de Pindamonhangaba, José Luís Ramos Batistela, 35 anos, 13 de volante, trabalha como empregado do micro-empresário José Ueno, o Japonês, de Taubaté/SP, que por sua vez é agregado da Binotto, de Lages/SC. Ele está muito satisfeito com o trabalho, afinal nunca falta frete – transporta para a Alcan Alumínio do Brasil, que carrega durante as 24h – e sempre tem o salário e a comissão garantidos no final do mês. Ele conta que o Japonês entrou com o cavalinho e a Binotto com a carreta e o rastreador, responsável por uma economia de cerca de R$ 6 mil na hora da renovação do seguro.
Mesmo trabalhando como empregado, José Luís acredita que a saída para os autônomos ou pequenos empresários é trabalhar como agregado das grandes empresas. A única dificuldade – e talvez a principal – é a exigência de caminhões novos, segundo ele. E como ninguém tem dinheiro ou está disposto a investir numa atividade de retorno duvidoso, “a situação fica difícil”.
Para o baiano Adailton Francisco de Araújo, 28 anos, oito de volante, colega de empresa e companheiro de viagem de José Luís Batistela, a principal vantagem de trabalhar como agregado é a garantia do frete certo. E, mesmo trabalhando para um agregado, eles estão satisfeitos, ganhando uma média de R$ 1.200,00 por mês, “fazendo economia”.
Adailton e Batistela também pensam na possibilidade de comprar um caminhão, talvez nas próprias empresas que ao fazerem a renovação das frotas facilitam a venda para os funcionários. Mas ainda é um negócio para pensar, dizem. Afinal, os investimentos e as exigências como avalista e garantia são muito grandes e os custos de manutenção e o frete, “tudo pela hora da morte”.
Aos 63 anos, 43 dos quais dirigindo caminhões, Air de Jesus Lisboa Borges é hoje proprietário de um Scania ano 94, e diz estar feliz. Ele conta que mora em Caxias do Sul/RS há 40 anos e sempre trabalhou como empregado. Depois decidiu arriscar tudo na compra de um caminhão e ficou alguns meses como agregado, mas não gostou. Desiludido, mas sem pensar em desistir, comprou uma carreta, fez algumas melhorias e trabalha sozinho no transporte de móveis de Bento Gonçalves/RS para Belém do Pará. Eventualmente faz alguma viagem para Teresina/PI.
Air conta que trabalha devagar, cuida bem do caminhão – rastreado por satélite – e está sempre investindo na manutenção do “seu investimento”. Ao fim de cada viagem é preciso fazer as contas direito e ver o que sobrou e onde pode ser aplicado da maneira mais correta, sem exageros.
Ao final, sempre sobra uns R$ 2.400,00 limpos por viagem.
Para o carreteiro Antônio Guerino Comin, 55 anos, 18 de volante – o termo agregado soa quase como uma ofensa pessoal. Revoltado, ele protesta contra a política de transportes do governo e das dificuldades para se conseguir uma remuneração justa para os fretes. Conta que já teve seis caminhões vendeu três e está pensando em vender mais dois.
Mas trabalhar como agregado, nunca. “Não sou escravo, eles sugam até a última gota do seu sangue e depois, quando não serve mais te mandam embora sem direito nenhum”. Definitivamente, Antônio Comin é contra a possibilidade de trabalhar como agregado já que trabalhar sozinho está difícil, pensa em largar a profissão. E fazer o quê? “Não interessa, é problema meu”, diz, enfático.