Por Katia Siqueira

Um motorista treinado rende mais, principalmente nos itens economia de combustível, pneus, manutenção etc. A constatação tem levado as transportadoras e embarcadoras a investirem em treinamento dos profissionais que dirigem seus caminhões e só a contratarem pessoas treinadas para a função.

Considerando dois motoristas, no mesmo percurso e rodando 10 mil km/mês, aquele que recebeu treinamento e roda a 80 km/hora faz 2.5km/litro de diesel e o outro 2.2km/litro, consumindo 4 mil litros, contra 4.545 litros, respectivamente. “O primeiro nos dará um retorno de R$ 733,00 só em diesel, sem contar o menor desgaste dos pneus e a mecânica do caminhão, porque ele vai andar no torque do veículo”, conta André Sôster, responsável pelo treinamento prático de motoristas da Itá Brasil, empresa com sede em Concórdia/SC.

Agregada Coopercarga (Cooperativa de Transporte de Cargas de Santa Catarina), cuja frota é de 1.500 caminhões, sendo 70% de propriedade dos 143 sócios fundadores e 30% dos 357 cooperados, a Itá utiliza o serviço da Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação para o Trânsito), para desenvolver e formar os motoristas.

Segundo Sôster, a Itá só contrata motorista treinado pela Fabet, porque lá ele recebe orientação sobre postura, a manter distância do veículo da frente e a andar sempre no torque do caminhão. Sôster, passa quase 30 dias rodando dentro do Brasil e na região do Mercosul com os motoristas que estão em treinamento. Sua função é passar instruções que serão úteis quando estiverem viajando sozinhos.

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A Coopercarga, por sua vez, gastou em 2003 cerca de R$ 6 mil/mês em treinamento de motoristas e estima que o valor será muito maior em 2004. “A tendência é aumentar esse investimento, porque se trata de um processo contínuo de aprimoramento, pois o resultado é imensurável”, diz Rodrigo Clausen, coordenador operacional da empresa.

Segundo Clausen, o motorista é o segredo do sucesso ou fracasso de qualquer transportadora. Isso porque é ele quem administra parte das despesas e receitas da empresa e o verdadeiro representante comercial/operacional presente no cliente, em cada embarque.

Velocidade controlada dentro do torque do veículo, peso, transit time, manutenção e motorista bem treinado são fatores importantíssimos para se ter bons resultados. A grande mudança, no entanto não está em preparar o motorista, mas na conscientização da direção das transportadoras em acreditar e validar todo o processo”, acrescenta o executivo, segundo quem apenas 10% das transportadoras investem em treinamento de motorista e do seu pessoal do administrativo e operacional.”

Idanir Uberti, tem 23 anos e está iniciando sua carreira de motorista tendo passado pelo treinamento prático da Fabet e agora está sob a supervisão de Jardinei Nespolo, de 26 anos, que trabalhou como agregado da Sadia e há quatro anos exerce a função de instrutor da Coopercarga. “A minha função é escolhida a dedo porque não basta saber dirigir, a pessoa precisa ser calma e saber transmitir o seu conhecimento”, diz Nespolo.

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Carlos Ademir Sorgetzt, tem 41 anos é casado e há 18 trabalha como motorista. “Sempre fui um bom profissional mas não dispenso o treinamento da Fabet, porque lá, entre outras coisas, a gente aprende a se comunicar, a se portar e até falar espanhol. Resumindo, passamos a nos valorizar”, comenta.

Conheço o bruto pelo barulho do motor, mas hoje precisamos saber muito mais que isso. Estava em Manaus fazendo carretos para meus parentes, quando vi pela TV uma matéria sobre a Fabet, arrumei minha mochila e rumei para o Sul a fim de me aperfeiçoar na área e poder ser um bom profissional do volante”, conta o autônomo Décio Link Narzetti, que presta serviço à cooperativa há 8 meses.

Narzetti tem 23 anos e dirige uma carreta sider da Ambev, na linha Norte e Nordeste. “Aprendi muito, principalmente sobre a parte mecânica e de comportamento. Aprendemos a nos valorizar, andar com a documentação em ordem e sempre dentro do nosso limite. Nas rotas de Recife e Fortaleza, por exemplo, a Polícia Rodoviária não pára mais os caminhões da Coopercarga porque sabem que está tudo em ordem.”

Os motoristas têm a Fabet como a faculdade do transporte, porque lá os alunos participam de cursos (em três turnos) de direção defensiva, econômica, custo no transporte, matemática, português, relações humanas, aprendem a ler mapas, guias, etc. e no final recebem diploma reconhecido pelo MEC – Ministério da Educação. Quem opta pela rota internacional aprende a falar espanhol e outros procedimentos necessários nas aduanas.

Segundo Sôster, os motoristas antigos também passam por reciclagem porque os caminhões atuais têm nova motorização, embora a grande maioria não aceite ser treinado por se considerar experiente o suficiente.

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A cooperativa também disponibiliza o serviço de profissionais formados em psicologia para dar atendimento aos motoristas do volante. “Por permanecer muito tempo longe da família, ele se sente só e precisa conversar com alguém que esteja disposto a lhe dar atenção, ouvi-lo e, se for o caso, até orientá-lo em algumas questões”, diz Fernanda Siqueira de Barros, psicóloga da filial São Paulo.

A Expresso Araçatuba – tem 212 veículos próprios e mais 400 caminhões agregados -, leva muito a sério a parte de treinamento dos motoristas. “São profissionais que ficam muito tempo na estrada e precisam se reciclar e receber informações, principalmente quando surgem novas leis de trânsito etc.”, comenta Ivo Fecchio, gerente do departamento de manutenção e tráfego da empresa.

Segundo ele, todos que trabalham para a empresa precisam ter vários cursos entre os quais os de carga perigosas, direção defensiva, econômica, manutenção, legislação de trânsito, saúde e outros tipos de procedimentos como acesso ao sistema de rastreamento e, também, a forma de comportamento em caso de assalto ou furto.

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a Araçatuba os motoristas passam por reciclagem a cada dois meses, para que possam receber informações novas e, também, fixar aquelas consideradas de extrema importância, como a forma de conduzir o veículo, não dirigir período longo, não dar carona, evitar contato nas paradas, não ingerir bebida alcóolica, etc.

Na hora da seleção, o motorista passa por uma bateria de testes: entrevista com psicóloga; curso de MOPP (Movimentação e Operação de Produtos Perigosos) ou outro que a empresa julgar necessário; psicotécnico; teste prático em percurso curto (com subida, lombada; conhecimento do veículo e exame médico. “Os cursos são pagos, normalmente, pelo profissional, mas se ele nos interessar de fato bancamos as despesas”, diz Fecchio.

Marisa Vignoli Tamoyo, responsável pelo departamento de treinamento da transportadora diz que em 2004 a Expresso Araçatuba pretende dar início a um projeto que visa promover os ajudantes, arrumadores de carga e profissionais de outras funções para o cargo de motorista. Com isso, a empresa pretende reduzir a rotatividade e o nível de espera. “A prática tem demonstrado que dessa forma o funcionário fica mais comprometido com a empresa”, explica.

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Segundo ela, o recrutamento de bons motoristas está difícil. Os que existem ou são autônomos ou estão agregados a outras transportadoras. “Os profissionais formados dentro da companhia certamente corresponderão melhor às nossas expectativas.”
A TDB Transporte e Distribuição de Bens, há 15 anos no mercado de entregas e coletas de cargas na capital e Grande São Paulo, possui uma frota de 95 veículos, dos quais 10 são unidades próprias e 85 de motoristas autônomos agregados. Nova na empresa, Juliana Hydes Marco Antônio, responsável pela área de RH, diz que há três meses o seu departamento trabalha a todo vapor para implantar o sistema de qualidade Transqualit, um certificado exigido pelo mercado e, também, para otimização, presteza e qualidade dos serviços oferecidos pelos motoristas.

Na Transportadora Transfinal, de Cariacica/ES – com 120 caminhões que rodam 900 mil quilômetros/mês, todos dirigidos por motoristas treinados -, de acordo com o diretor comercial, Mário Orlandi Júnior, os candidatos a motoristas passam por avaliação psicológica, testes de direção, capacitação e precisam ter, no mínimo, dois anos de experiência. “Se ele não tiver os cursos mas for declarado apto, a empresa paga para ele fazer o MOPP”, garante Júnior.

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companhia mantém uma política de incentivo para o motorista que atinge ou ultrapassa a meta estabelecida como ideal de consumo nos padrões do fabricante e da empresa. “A economia obtida cobre o investimento em treinamento dos motoristas e da equipe de manutenção e sobra para a compra de caminhões novos. Este ano, por exemplo, dará para comprar uma carreta”, finaliza Júnior.

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osé Vicente Lima, gerente da Expresso Mira, que tem 450 veículos próprios e mais 100 de agregados, diz que a empresa mantém uma política constante de treinamento. “Anualmente fazemos uma programação de reciclagem e cursos para os nossos motoristas”, conta.
Segundo ele, a empresa é muito rigorosa no recrutamento dos motoristas, tanto que de 200 entrevistados, apenas 10% são contratados. “Analisamos tudo desde o MOPP, Serasa, seguradora, comportamento no teste prático, teórico e o resultado da avaliação psicológica.” A Mira tem uma biblioteca exclusiva para motoristas com livros específicos de segurança no transporte e duas salas com TV com transmissão de cursos ligados direto no Sest/Senat.