Por: Denise Pacassa
Até pouco tempo atrás, para colocar um caminhão na estrada e fazer dele uma fonte de renda bastava pouco mais do que possuir Carteira Nacional de Habilitação categoria D ou E. Porém, a evolução tecnológica e a consciência ambiental, mais a preocupação com a segurança, conhecimentos e tipo de comportamento exigido pelo mercado acabaram por exigir um profissional mais preparado e com mais responsabilidades para exercer a profissão.
Atualmente, já existem carreteiros que admitem perceber as diferenças no comportamento dos colegas de trabalho. José Jacir de Quadros, 52 anos, já buscou mais informação e fez alguns cursos voltados para a profissão, como o de Transporte de Cargas Perigosas. Segundo ele, a maioria das empresas não contrata se o motorista não possuir os cursos exigidos. “Eu percebo a diferença. Em 22 anos de estrada vejo que os carreteiros estão dirigindo com mais segurança, educação e respeito aos colegas. Hoje, já se tem mais consciência sobre como agir em caso de acidente”, acrescenta. Tem opinião de que o profissionalismo acabou influenciando até mesmo na amizade entre os motoristas, pois hoje existe maior companheirismo nas estradas,e reconhece que isso é muito bom para todos.
Na visão de João Moraes, que entre dirigir ônibus e caminhão já esta há quase 22 anos na estrada, os motoristas profissionais deveriam buscar mais instrução. Diz que não conhece muitos carreteiros que fazem cursos, essa é uma prática mais comum entre os motoristas de ônibus, isso por necessidade em função de transportarem pessoas. “Eu já fiz cursos, e acho muito importante, porque, sem dúvida, faz toda a diferença na forma de dirigir”, afirma.
A falta de tempo também acaba sendo um empecilho na hora de estudar. José Marim, natural de Parai/ RS, tem 44 anos de idade e 10 de profissão. Sem tempo para estacionar o caminhão e pegar nos livros, diz que já ouviu falar nos cursos e que gostaria de fazê-los, tendo em vista o quanto é importante hoje em dia esse processo de aprendizagem e treinamento. “Assim que der uma folga vou ingressar em um desses cursos que estão no mercado. Hoje, as estradas estão muito movimentadas, então quanto mais pudermos aprender melhor.”
Em muitos casos, mesmo percebendo o constante problema do trânsito, a falta de oportunidade faz com que este processo de educação seja prorrogado e fique cada vez mais longe da realidade do carreteiro. Na correria diária entre um frete e outro, algumas atitudes irresponsáveis são tomadas nas estradas e levam os profissionais a fazerem declarações como a de Jair de Carli. “Eu vejo muito desrespeito na estrada, como agressividade e pressa”, desabafa o motorista acrescentando que o pessoal da estrada está sempre apressado e correndo para chegar a tempo e não perder os horários de carregar ou descarregar. “Importante com certeza os cursos são, mas falta tempo para fazer”, conclui. Igualmente preocupado com o comportamento é o carreteiro Mauricio dos Santos Oliveira, ao afirmar que “na estrada se vê muita falta de paciência, e cada vez mais desrespeito. Às vezes chega a dar medo…”.
Porém, mesmo dentro desse cenário complicado em relação ao tempo e as exigências, existem algumas cargas que inevitavelmente precisam de pessoas qualificadas para serem transportadas. Algumas por terem um valor agregado muito alto, outras por cuidados especiais no transportes como os alimentos, e ainda por periculosidade como é o caso dos combustíveis e produtos químicos.
Essa rotina de lidar com o perigo é a vida que Paulo Sidnei Santana leva com muito bom humor. Aos 54 anos de idade, ele demonstra segurança e orgulho ao falar do seu trabalho. “Já fiz muitos cursos exigidos pela empresa, tais como Direção Defensiva, Carga Perigosa e Meio Ambiente, afinal, nós lidamos com combustível, primeiros socorros e relações humanas. E tem também o curso de informática, sem contar que hoje as empresas estão querendo profissionais com no mínimo o segundo grau escolar completo”. Paulo confirma ainda que a empresa em que trabalha ministra palestras todos os anos para os carreteiros. “É muito importante, faz bastante diferença na formação do motorista. Na minha opinião deveria ser uma exigência desde a primeira Carteira de Habilitação”, sugere.
Mas não são só as empresas que transportam cargas perigosas que estão se aperfeiçoando na contratação dos colaboradores. O Diretor da Rodoviário Serrafrio Ltda, Juvercy Luiz Braido, afirma que o profissional que busca se especializar no seu trabalho é bem visto pelas empresas, e isso não é diferente em relação aos motoristas. “Hoje em dia não basta fazer o básico, pois é preciso ir além das expectativas. O motorista que busca se especializar em alguma área, seja em manutenção, legislação ou qualidade, agrega muito valor para a empresa e desempenha muito melhor o seu papel”, afirma.
Juvercy diz ainda que nesse processo de profissionalização, a empresa conta com a colaboração do SEST/SENAT. Acrescenta que a unidade possui infraestrutura para capacitar e atender seus motoristas e colaboradores, através de cursos, treinamentos e também de uma pista de 500 metros, que será utilizada para a formação e atualização dos profissionais. “O carreteiro que busca conhecimento passa a ter uma visão diferente das coisas. Ele deixa de trabalhar para a empresa para trabalhar para si mesmo”, acrescenta.
Para concluir, Juvercy diz que o motorista começa a entender que não é só subir no caminhão e acelerar, mas que há uma série de outros fatores, que de uma maneira ou outra, vão prejudicá-lo ou favorecê-lo. “O caminhão é o instrumento de trabalho, sabendo usá-lo, seja respeitando as regras da direção defensiva, seja auxiliando em sua manutenção, o profissional só tem a ganhar”, finaliza.