Por João Geraldo
Se 2007 foi corrido para os fabricantes de caminhões, com uma produção superior a 136 mil unidades, das quais 100.788 foram vendidas para o mercado doméstico, as expectativas para 2008 são de mais um período de muito trabalho para os fabricantes de caminhões e seus fornecedores. Diferente do ano passado, as montadoras iniciaram 2008 a todo vapor para atender pedidos em carteira e com a certeza de que há uma demanda reprimida de caminhões, tanto no Brasil quanto em outros países da América Latina e por isso, na pior das hipóteses, os números de produção e vendas serão iguais aos de 2007.
Dentro da Scania – cujas vendas de caminhões no mercado interno no atacado cresceram 28,5% em relação a 2007 – a linha de produção trabalha com um cenário similar ao do ano passado. Roberto Leoncini, gerente executivo de vendas de caminhões Scania no Brasil, cita que os indicadores econômicos mostram um mercado que se manterá nos níveis atuais. “Além disso, os frotistas passaram a se programar mais em relação à compra de caminhões. A maioria deles está distribuindo suas necessidades durante o ano, mostrando um horizonte de médio e longo prazo, o que é muito bom para as montadoras”, disse.
No Brasil há uma demanda reprimida de caminhões de todos os tamanhos e nos mais diversos nichos, acrescenta o diretor comercial da Iveco do Brasil, Alcides Cavalcanti. Ele lembra que além do agronegócio, os aumentos de carga industrializadas, de eletrônicos e das linhas brancas também contribuem para a elevação da produção de caminhões. Diante deste cenário, a Iveco projeta vender 9 mil veículos no mercado nacional em 2008. “Este número é 40% maior do que o do ano passado. Uma das razões deste otimismo é que as vendas dos novos modelos, lançados em 2007, começam a ter maior impacto a partir de agora”, conclui.
Osvaldo Jardim, diretor de operações de caminhões Ford América do Sul, lembra que os fatores que possibilitaram o crescimento em 2007 continuam presentes este ano. “Investimentos na infra-estrutura, o contínuo crescimento do agronegócio, os excelentes preços internacionais das nossas matérias-primas, a disponibilidade de crédito e outros fatores positivos garantirão um crescimento num patamar ainda elevado, algo entre 12 e 18%”, acredita.
Em relação à fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Jardim acrescenta que haverá um crescimento expressivo na produção e nas vendas, tanto no mercado interno quanto nas exportações. Isso graças à parceria com os fornecedores, a capacidade do pessoal da empresa e às soluções na planta como o Centro de Modificações.
Gilson Mansur, diretor de vendas de veículos comerciais da Mercedes-Benz, montadora que comercializou 31.166 unidades em 2007, aposta também que 2008 será um ano melhor ainda para o mercado de caminhões, porque já começou aquecido. “A briga hoje não é vender e sim produzir para atender o mercado”, acrescentou Mansur. Para ele, neste ano o mercado deverá crescer entre 5% e 10% em relação ao ano passado e complementa que o concessionário que se planejou recebe o veículo. “Planejamento hoje é a certeza de que ele receberá o veículo, porque é assim que quase todo mundo trabalha atualmente”, adiantou.
Ricardo Alouche, diretor de vendas e marketing da Volkswagen, destaca que já tinha sinais do aumento da demanda no segundo semestre de 2006, porém, lembra que a maior dificuldade se deu porque a explosão de vendas ocorreu nos mercados de caminhões e de ônibus. “Isso dificultou um aumento ainda maior da produção, em função da falta de capacidade de fornecedores”, disse.
As vendas de caminhões realizadas em janeiro deste ano foram superiores às do mesmo período em 2007 e mesmo com o pessimismo do mercado financeiro os investimentos estrangeiros continuam chegando ao Brasil, o que deixa a economia brasileira mais aquecida ainda. A definição é de Ricardo Alouche, ao referir-se ao desempenho da marca no primeiro mês deste ano, muito superior aos números de janeiro de 2007.
“As perspectivas de aquecimento são para o ano inteiro, mas com certeza o primeiro semestre será mais aquecido que o segundo. Temos boas perspectivas para a safra, assim como os principais setores da economia. Somente uma grande turbulência econômica poderá estragar nosso ano”, analisa. O prazo de entrega dos caminhões da marca, segundo Alouche, é superior a 90 dias, apesar do aumento da produção na fábrica em Resende/RJ.
A opinião de Sérgio Gomes, gerente de planejamento estratégico da Volvo do Brasil, é igual a de seus colegas das outras montadoras. A expectativa da empresa é repetir, em produção e vendas, o desempenho de 2007. A carteira de pedidos de caminhões da marca ainda é superior à capacidade de produção da empresa. “Dependendo do modelo, a linha “F”, por exemplo, formada pelo “FH e FM” tem entre três e seis meses de espera, e a linha VM até três meses”, explica o executivo.
Gomes acrescenta que a intensidade do crescimento das vendas no Brasil foi uma surpresa – embora já tivesse sido detectada no início do segundo semestre de 2006 -, mas lembra que a expansão das vendas de caminhões foi um evento mundial, e conjugada com a demanda de outros mercados mundiais da Volvo, que se utilizam dos mesmos componentes, fez com que a montadora não tivesse produtos em quantidade suficiente para atender os clientes do Brasil.
Leoncini, da Scania, concorda que na intensidade que aconteceu, a explosão das vendas foi uma surpresa para a empresa. O caminho, disse ele, foi procurar responder da melhor maneira à demanda dos clientes e com esforço da área industrial conseguiu crescer as entregas em 28,8%, em relação a 2006. “É lógico que isso não foi suficiente, como sempre fomos transparentes, os clientes estiveram informados em todo momento de nossos prazos de entrega e pudemos, em conjunto, encontrar soluções para minimizar o impacto e estender as entregas para atender as necessidades”, concluiu.
Ainda faltam caminhões no mercado e as filas de espera se estendem a todas as montadoras. “Não é um problema só da Iveco, mas por conta disso criamos no ano passado o segundo turno de trabalho para dar conta das encomendas. A produção passou de 10 para 23 unidades diárias e esse ano ainda teremos mais novidades com relação à arrancada produtiva da fábrica”, diz Alcides Cavalcanti.
A montadora, que promete várias novidades para 2008, foi a primeira a apresentar este ano uma nova versão de veículo, o Daily 45S14 para faixa de 4,5 toneladas de PBT. A busca da capacidade produtiva para atender ao aumento da demanda levou a empresa a investir em suas fábricas no Brasil, Argentina e Venezuela. De acordo com Cavalcanti o processo de aceleração para crescer cada vez mais no Brasil continua em 2008. “Entre as medidas tomadas estão o aumento da capacidade produtiva da fábrica de Sete Lagoas/MG, a criação da área de desenvolvimento de Produto América Latina – com base no Brasil -, a adoção de um programa de expansão da rede de concessionários, criação da área de comunicação e publicidade e o lançamento conjunto das novas famílias Iveco Daily, e Iveco Stralis”, concluiu.
Gilson Mansur, da Mercedes-Benz, acrescenta que a empresa está trabalhando num sistema de programa para a rede de concessionários, a qual pede cada vez mais caminhões. “Mesmo assim estamos conseguindo planejar. Temos clientes dizendo que precisam do veículo no segundo semestre e isso ajuda no nosso planejamento, pois já sabemos, com quatro meses de antecedência de quantos modelos ele precisa, por exemplo, de Actros, Axor, Atego ou Accelo’, explicou.
Pedidos antecipados são comuns também na Ford, montadora que – como as demais – também tem entregas previstas para os próximos meses, porque muitos frotistas já programaram suas compras com antecedência. “É difícil avaliar o quanto das vendas é programado e o quanto é pressão do varejo, mas estamos vendendo tudo o que produzimos”, comemora. A Ford adequou rapidamente o mix de produção para atender os segmentos que mais cresceram, no caso da marca, o de caminhões trucados e traçados.