Por Evilazio de Oliveira
Na busca da redução de custos operacionais e aumento da lucratividade, o carreteiro autônomo encontra nas cooperativas de transportes uma alternativa viável para a sobrevivência num mercado cada vez mais exigente e competitivo. A reunião de autônomos em cooperativas é uma fórmula que tem dado certo, desde que bem administrada, com todos os participantes cumprindo rigorosamente as suas obrigações. Através desse sistema é possível o agenciamento de cargas mediante o pagamento de uma tarifa reduzida, em comparação com os agenciadores profissionais, e de uma série de serviços e produtos conseguidos pela compra em escala e pelo fato das cooperativas não visarem lucros e serem administradas pelos próprios donos.
A Coopercarga (Cooperativa de Transporte de Cargas do Estado de Santa Catarina), com sede em Concórdia/SC, se constitui, hoje, numa referência nacional neste setor. Fundada em nove de fevereiro de 1990, sob a presidência de Pedro Rogério Garcia, a cooperativa reúne 143 pequenos transportadores de 15 municípios da região. A intenção é propor o estímulo e o desenvolvimento progressivo e a defesa em geral de suas atividades e os interesses econômicos de seus associados. E, também centralizar as compras de insumos e reduzir os custos operacionais, conforme lembra o atual presidente da Coopercarga, Dagnor Roberto Schneider.
São mais de 30 filiais no Brasil e Argentina, oferece mais de 2.600 postos de trabalho e conta com uma frota acima de 1.600 caminhões que transportam cerca de 1,8 milhões de toneladas por ano. O desenvolvimento da Coopercarga possibilitou a participação na formação de um conglomerado de entidades representativas do setor de Transporte Rodoviário de Cargas. Deu apoio e contribuiu para a criação do Pate (Posto de Atendimento ao Trabalhador na Estada); Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte); CETT (Centro de Educação e Tecnologia no Transporte); FATTEP (Faculdade de Tecnologia no Transporte Pedro Rogério Garcia); Transcredi (Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Trabalhadores Rodoviários de Concórdia e Região) e é associada do Setcom (Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Oeste e Meio Oeste Catarinense).
No município de Uruguaiana/RS, fronteira do Brasil com a Argentina, operam pelo menos cinco cooperativas de transportadores de cargas, que abriga centenas de autônomos, a maioria atua no transporte internacional. O presidente da Cootranscau (Cooperativa dos Transportadores de Cargas de Uruguaiana), José Aldo Regazzon, acredita que na região trabalhem cerca de 2.500 carreteiros autônomos, para os quais o cooperativismo seria a melhor maneira de permanecerem no mercado. Muitos, no entanto, não conseguem entrar no sistema pela falta de conhecimento, oportunidades ou mesmo pelos custos. Ele reconhece a necessidade de manter o atual quadro de 217 sócios com uma frota de 300 caminhões permissionados para transporte na Argentina e Chile, como forma de garantir um bom atendimento a todos. Afinal, a Cootranscau é hoje a mais importante cooperativa de transportes da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, lembra o vice-presidente, Orlando Moreira Neto. “E, se fôssemos associar todos os candidatos, teríamos mais de cinco sócios por mês”, afirma.
Inaugurada em 18 de julho de 1999, reunindo 70 autônomos, 70 caminhões e a contribuição de R$ 100,00 por sócio, a Cooperativa cresceu muito e hoje dispõe de sede própria na BR-290, entrada da cidade e próximo ao Porto Seco, um pátio de estacionamento para 300 caminhões e um posto de abastecimento. E muitos planos para o futuro, garante o presidente Regazzon, ao enumerar a série de vantagens que oferece aos associados.
O carreteiro Eldro Assunção, 49 anos e 30 de profissão, que dirige um Scania 113, ano 97, na rota Porto Alegre/RS a Buenos Aires/AR, lembra que até agora só trabalhou em duas empresas, por isso nunca precisou se preocupar com aspectos relacionados a documentação do veículo, compra de pneus, peças ou mesmo na busca de cargas. Tudo fica por conta da empresa. Admite que se fosse o dono do caminhão a situação seria diferente. Mas, com a tranqüilidade de trabalhar em empresas boas não teve interesse em saber como funciona o sistema de cooperativas no transporte de cargas. “Não sei nada sobre o assunto”, confessa.
Com apenas dois meses no trecho, o ex-comerciante Neri Rusch, 38 anos, ainda está se acostumando com o Mercedes 81, com terceiro eixo, que acabou de comprar. Ele era dono de um mercado em Estância Velha/RS e decidiu mudar de profissão, optando pela estrada. Conta que não sabe nada e pretende aprender com os mais experientes, embora já tenha “entrado em algumas frias” ao seguir conselhos de pessoas que “só querem ver o mal dos outros”. Pouco sabe sobre a estrada, os macetes para se obter bons fretes e menos ainda sobre cooperativismo. “Ah, mas vou aprender tudo muito depressa”, garante. O que ele não quer é ficar parado esperando cargas, como está acontecendo agora, no início da atividade.
Na opinião do carreteiro Roberto Passos, 48 anos e 26 de boléia, “as cooperativas são a única alternativa de sobrevivência para o autônomo”. Natural de Lages/SC e dono de um Scania 89, ele transporta arroz da fronteira Oeste do Rio Grande do Sul para os mercados do centro do País, quando o preço do frete compensa. De um modo geral transporta o que der e para qualquer parte, afirma. Ele conta que nunca quis trabalhar como agregado porque é bom apenas no começo e depois fica ruim, com as transportadoras liberando apenas os “pepinos” para os agregados. Acredita que a saída está na formação de cooperativas sérias e bem administradas. Lembra que em Lages já foram feitas algumas tentativas nesse sentido, mas faltou liderança. “Existe uma, mas é só dos ricos, os pequenos não têm vez”, afirma. E lembra que não quer se associar a uma cooperativa de fora de seu município, afinal, pretende ter voz ativa nas reuniões, participar das decisões e fazer um trabalho sério e produtivo para todos os carreteiros autônomos. Roberto Passos destaca os benefícios do cooperativismo na obtenção de melhores preços para os combustíveis, pneus, seguros e peças – tudo comprado em quantidade e oferecido direto ao autônomo, sem a presença do intermediário, já que a cooperativa não visa lucros, além das facilidades na obtenção de cargas e com preços mais justos. “Uma beleza”, diz.
João Pereira Soares, 55 anos e 21 de profissão, é outro estradeiro entusiasmado com o sistema cooperativista. Dono de um Scania 94, agregado da Mercúrio e atuando no transporte internacional, ele é sócio há três anos da Cootransul – Transportes e Serviços, de Uruguaiana/RS. Como não tem problemas para conseguir cargas, usufrui das vantagens oferecidas nos serviços de oficina, com custos de peças e mão-de-obra reduzidos; tarifas especiais para o seguro do caminhão, que sozinho não teria condições de bancar, além de todos os serviços burocráticos, que sempre acabam dando dor de cabeça para o autônomo. João Soares paga mensalidade de R$ 129,00. “Valor muito em conta, comparando-se com os benefícios oferecidos” ressalta.
Dono de uma borracharia na BR-290, no acesso a Uruguaiana/RS, e de três caminhões que transportam arroz do Uruguai para indústrias do Rio Grande do Sul, Roque Rubenson Vilanova Laurer, 39 anos e 20 de volante, está à espera de uma vaga para se associar a uma cooperativa local. É que – além de todos os benefícios oferecidos -, essa cooperativa dispõe de alguns permisos para o Uruguai, que ele poderia utilizar, uma vez que o principal fluxo do transporte internacional de cargas na região está direcionado para Argentina e Chile. Atualmente ele tem permisos arrendados, pagando cerca de R$ 250,00 mensais por caminhão. “Apesar do valor da Jóia estimado em R$ 6 mil nessa cooperativa, e de uma mensalidade também alta, valeria a pena, reunindo todas as outras vantagens, inclusive com combustível com um preço bem abaixo do praticado pelo mercado”. Por enquanto não estão admitindo novos sócios, então vamos esperar. Ou tentar conseguir os permisos aumentando a tonelagem da frota, exigida pelas autoridades de trânsito do Uruguai, raciocina Roque Laurer.
Com dois caminhões no trecho, o carreteiro Paulo Jackisch, 36 anos e 18 de profissão, conta que, embora nunca tenha se interessado pelo cooperativismo, acredita na sua validade. Natural de Vera Cruz/RS, ele tem frete garantido na lavoura de fumo, que lhe proporciona a principal fonte de renda, embora ocasionalmente faça outros tipos de fretes. Todavia, muitos colegas da mesma região, que se dedicavam ao transporte de leite das propriedades para as usinas precisaram se unir e formar uma cooperativa, como alternativa de prosseguirem na atividade. A cooperativa, embora pequena, está dando certo e os autônomos conseguiram diminuir custos e atender todas as exigências de modernização da frota exigida pelas indústrias. Mesmo sem conhecer muito o assunto, Paulo Jackisch acha que esse tipo de fortalecimento e união através do cooperativismo possa ser a única saída viável para o carreteiro autônomo, cuja sobrevivência está cada dia mais difícil, acentua.