Considerado um dos principais problemas quando abandonados no meio ambiente, parte dos pneus inservíveis, antes descartados sem responsabilidade ambiental alguma, já tem como destino a transformação em matéria-prima para asfalto de rodovias, tapetes de borracha, pisos e diversos objetos de uso, além de várias outras aplicações na indústria
Caro leitor, você sabe para onde vão os pneus do seu caminhão depois de feitas todas as reformas possíveis para aumentar sua vida útil? Ao contrário do que muitos podem pensar, quando o pneu não serve mais para ser utilizado em veículos, sua matéria-prima é fonte para inúmeros itens, inclusive para se transformar em pavimento de rodovias. A reciclagem de pneus se tornou uma boa alternativa ambiental e econômica para eliminar os pneus velhos empilhados em terrenos e abandonados em beiras de estrada ou atirados dentro de rios e outros lugares.
Desde 1999, quando os fabricantes iniciaram a coleta dos produtos, 1,86 milhão de toneladas de pneus inservíveis – o equivalente a 373 milhões de pneus de passeio – tiveram coleta e destinação correta. Desde então, já foram investidos US$ 159,8 milhões no programa. Em 2011, a indústria de pneumáticos – por meio da Reciclanip (instituição criada pelas empresas para cuidar exclusivamente das ações de coleta e reciclagem) -, destinou corretamente mais de 320 mil toneladas do produto. Este ano, nos três primeiros meses foram coletadas 89 mil toneladas de pneus inservíveis, volume suficiente para aplicar em cerca de 18 mil quilômetros de rodovias caso toda a matéria-prima fosse transformada em fonte para o asfalto ecológico.
“A previsão de investimento para este ano é de US$ 41 milhões, o mesmo valor de 2011”, destacou Eugênio Deliberato, presidente da Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) e da Reciclanip. Ainda de acordo com ele, esses recursos são utilizados para gastos logísticos, que hoje representam mais de 60% dos custos, e também para todos os investimentos de destinações. “Temos hoje 726 pontos de coleta e uma média de 60 caminhões transitando diariamente”, acrescenta.
Criados em parceria com as prefeituras, que cedem os terrenos para receber os pneus inservíveis, os postos de coleta estão distribuídos em todos os Estados, inclusive no Distrito Federal. “Quando o ponto atinge dois mil pneus de passeio ou 300 pneus de caminhão, o responsável pelo espaço comunica a Reciclanip, e este programa a retirada do material com os transportadores conveniados”, explica Deliberato.
Após coletado, o pneu vai para trituração e pode ser reaproveitado de diversas formas como, por exemplo, ser usado como combustível alternativo para as indústrias de cimento ou para combustível de caldeiras, na fabricação de asfalto ecológico, solados de sapatos, em borrachas de vedação, pisos para quadras poliesportivas, pisos industriais e tapetes para automóveis. Todas as destinações são aprovadas pelo IBAMA como ambientalmente adequadas. Hoje, grande parte dos pneus coletados se torna combustível para cimenteiras, as quais, segundo Deliberato, recebem pagamento da Reciclanip para usar o material.
Em contrapartida, uma pesquisa contradiz os dados da indústria. Segundo um levantamento realizado pelo engenheiro Carlos Lagarinhos, em sua tese de doutorado “Reciclagem de pneus: análise do impacto da legislação ambiental através logística reversa” defendida no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Poli/USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), entre 2002 e o primeiro quadrimestre de 2011, as empresas brasileiras deixaram de dar destinação adequada a cerca de 425 milhões de pneus, o correspondente a 2,1 milhões de toneladas do produto. Nesse período, os importadores de pneus novos cumpriram 97,03% das metas, os fabricantes 47,3% e os importadores de pneus usados, apenas 12,92%.
No entanto, César Faccio, gerente-geral da Reciclanip, destaca que o método utilizado na pesquisa de somar os valores não é correto. Segundo ele, houve mudanças para correção na meta existente antes de 2009, sendo que a mesma era irreal e foi suspensa até a finalização do estudo realizado pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), que culminou na alteração da resolução. De acordo Faccio, hoje a meta é real e justa e tem sido cumprida pela indústria. Tanto é que para cada pneu produzido para o mercado de reposição, a Reciclanip coleta e destina corretamente uma unidade.
Ainda segundo a análise de Carlos Lagarinhos, os consumidores também não fazem a sua parte para diminuir o problema, pois ao trocarem de pneus, mais de 35% os levam para casa, pensando haver ainda algum valor neles. Neste aspecto, o representante da Reciclanip está de acordo. “É muito importante o consumidor ter consciência de não levar pneus velhos pra casa. Sempre que comprar um pneu novo ele deve deixar o velho na loja, que tomará as providências necessárias para o pneu chegar ao ponto de coleta. “Se descartados de forma errada contribuem para entupimentos de redes de esgoto e a ocorrência de enchentes, poluição de rios. Além disso, podem ser foco para o mosquito da dengue em aterros sanitários e se queimados de forma errada geram poluição atmosférica”, conclui Deliberato.
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