No final de 2019, os brasileiros acreditavam que 2020 seria um ano promissor, de retomada da  economia após de longo período de recessão havia sinais de melhoras e as perspectivas de um ciclo de muitas oportunidades. Porém, com a chegada ao Brasil do coronavírus, anunciada oficialmente em março, a esperança foi dando lugar a insegurança e o medo. Como medida inicial para enfrentar o novo vírus, escolas, indústrias, empresas e comércios foram obrigados a fechar as portas. Permaneceram ativos apenas serviços essenciais. A população ficou em casa sem saber ao certo por quanto tempo permaneceria aquela situação de  incertezas.

Mas os caminhoneiros não ficaram em casa. Por serem considerados essenciais continuaram trabalhando. Entretanto, muitas coisas estavam diferentes também nas estradas. A realidade enfrentada pela categoria se mostrou bem diferente da habitual, principalmente no início da pandemia. Até mesmo as reclamações mudaram. A lista de insatisfação  antes liderada pelo preço alto do diesel, frete baixo e estradas sem conservação era outra. Com a nova realidade imposta pelo vírus, a principal queixa dos caminhoneiros era a falta de restaurantes, borracharia e a insegurança para enfrentar a doença.

Diante das incertezas e e medo,  o trabalho na estrada se tornou ainda mais difícil. Mas, o susto inicial passou e apesar de todos os desafios impostos há motoristas que avaliam 2020 como um ano satisfatório. Por conta da alta demanda de produtos, alimentos e insumos o trabalho foi intenso na estrada. E, para 2021, apesar do cenário duvidoso provocado principalmente pela alta taxa de desemprego, a maior desde 2012, a expectativa ainda é de muito trabalho e de menos incertezas.

romildo
Para Romildo apesar dos motoristas serem essenciais para o País a falta de apoio é grande, mesmo em tempos de pandemia

O carreteiro Romildo José de Lima, 61 anos de idade e mais de 30 na profissão,  disse que 2020 foi ano de grandes dificuldades. Comentou que apesar de o caminhoneiro ser essencial para manter o Brasil funcionando a falta de apoio foi muito grande, mesmo durante um período complicado como da pandemia. “Nós fizemos o sacrifício arriscando nossas vidas, porém não há o apoio que a mídia relata. Nenhuma praça de pedágio parou de cobrar, nenhum trecho de rodovia foi recapeado e os postos não facilitam nada para nós. Os preços das refeições dobraram e muitos banheiros estão sem condição de higiene de uso. Gastamos muito e o frete é baixo”, reclamou.

Outro ponto levantado por ele é sobre a testagem da covid-19. Em sua opinião deveriam ter realizado mais testes nos nos motoristas que ficaram expostos o tempo todo. “Teste da Covid? Eu fiz somente um em Feira de Santana/BA em uma ação da Polícia Federal”, lembrou. Romildo conta que nas barreiras sanitárias instaladas nas rodovias os motoristas são tratados com indiferença. “Os agentes apenas medem a temperatura. Não existe um especialista para nos orientar, medir a pressão. Na verdade, mesmo a pandemia mostrando o nosso valor ninguém reconhece”, lamentou

eder
O autônomo Eder Barbosa disse que não faltou trabalho para ele durante 2020. Está otimista que 2021 será um ano de bastante trabalho para a categoria

O mineiro de Igarapé, Eder Barbosa de Oliveira, 32 anos de idade e 12 de estrada, lembra do começo da pandemia quando a categoria enfrentou muitos desafios como falta de restaurantes para fazer as refeições na estrada. Mas de acordo com ele, o lado bom foi ver a população se mobilizando e abraçando a ideia de ajudar a categoria. “Recebemos muito apoio, com doação de marmita no Brasil inteiro. Achei bem bonita essa atitude. Naquele  primeiro momento, ninguém achava que a pandemia iria durar tanto tempo”, lembrou.

Apesar de muitos colegas reclamarem, Eder acredita que para os caminhoneiros, de um modo geral, 2020 foi bom. “Como pai de família e autônomo, não posso reclamar, pois graças a Deus não  parei de trabalhar.  Quantas pessoas dariam tudo para estar  ativo no seu próprio negócio. Para mim foi um ano para agradecer e não para ficar reclamando” afirmou.

Movimento de caminhoes
Mesmo com a população isolada dentro de casa, os caminhoneiros continuaram trabalhando e não houve desabastecimento

Para 2021 Eder continua otimista e acreditando que terá muito trabalho. Disse ter começado o ano trocando de caminhão e conseguiu pagar em dia todas as percelas. “Não esperava essa pandemia, também não passei apertos. Acredito quie 2021 tem tudo para ser positivo. Minhas expectativas são as melhores e peço apenas que Deus proteja a todos nós”, concluiu.

paulo
Apesar de ter ficado isolado por oito dias por causa da covid-19, sem paladar e olfato, Paulo Sérgio Viana afirma que 2020 foi um ano para ele

Paulo Sergio Jesus Viana, 43 anos de idade e 11 de profissão, de Conceição da Barra/ES, tem a opinião que a maior dificuldade em 2020 foi como se alimentar  no começo da pandemia. Lembra que o fechamento dos restaurantes complicou o trabalho. Ele também gostou do movimento de solidariedade da população, entidades e empresas nas estradas com a distribuição de marmitas. “A empresa para qual trabalho também ajudou na distribuição de alimentos. Mas eu tenho a caixa cozinha então fui menos impactado, pois levava os mantimentos e preparava na estrada”, explicou.

Outro problema percebido no início da pandemia foi a redução da oferta de frete por falta de conhecimento dos novos procedimentos. “As empresas tinham de analisar a questão do protocolo e o modo mais seguro de receber a mercadoria. Com o passar do tempo, as coisas foram se encaixando”, lembrou.

A empresa que presta serviço atua na distribuição de alimento para o Brasil inteiro. Portanto, segundo ele, não sofreu com a pandemia. Pelo contrário, o trabalho foi intenso e resultou em crescimento e novas contratações. “Mas sei de colegas tiveram dificuldades, além do medo da contaminação. Eu peguei a Covid provavelmente numa viagem para São Paulo. Percebi que havia algo errado e quando cheguei em casa me isolei. Perdi o paladar e o olfato por oito dias, mas afirmo que foi um ano abençoado”, relatou.

Caixa Cozinha 1
Caixa cozinha abastecida evitou problema de falta de alimentação de muitos motoristas no início da pandemia

Sua expectativa para 2021 é que a população e a mídia continuem reconhecendo e dando valor ao motorista de caminhão, assim como aconteceu no início da pandemia, quando  muitas pessoas acreditaram que haveria falta de abastecimento. “Mesmo com todas as dificuldades não paramos e nada faltou. Estou com esperança que tenha logo uma vacina, essa pandemia passe e o Brasil volte a crescer e as empresas ofereçam oportunidade para motoristas que precisam trabalhar e para aqueles que estão iniciando na profissão”, finalizou.