Por Nilza Vaz Guimarães
Todo motorista sonha em trabalhar com um caminhão moderno, cheio de tecnologia, que tenha uma cama boa, geladeira, ar-condicionado, espaço na cabine e tudo mais que possa lhe proporcionar conforto, segurança e bem-estar. Quem trabalha hoje com um desses modelos atuais, e que já dirigiu um cargueiro mais simples – com menos recursos – sabe o quanto estes itens são importantes, no entanto, preza também pela durabilidade, eficiência e a baixa economia de combustível. Outro ponto destacado é a desproporção entre o avanço dos veículos de carga e a falta de infraestrutura das rodovias brasileiras e de bom senso por parte de outros motoristas que não seguem as leis de trânsito.
A velocidade com que são introduzidas as novas tecnologias nos caminhões também é um fator que ainda não é bem absorvido por todos os estradeiros. O autônomo Luís Cesar Lopes Nascimento, por exemplo, diz que já teve vários caminhões e se diz muito feliz com o modelo que possui atualmente, com ar condicionado, cama, direção hidráulica e vidro elétrico. Lembra que dirigia um caminhão velho, “batia alavanca de marcha o tempo todo” e no final do dia se sentia cansado e com o corpo todo dolorido. “Eu vivia acabado, hoje não me canso quase nada, e o espaço da cabine também aumentou”, comemora.
Em sua opinião, não basta apenas o caminhão ser avançado e bonito. É preciso ser durável também. Por um lado eles têm muita tecnologia, mas por outro as rodovias precisam ser melhoradas. Nascimento se refere também ao tratamento recebido nas estradas pelos motoristas. “Chegamos a ser maltratados e humilhados, principalmente nos postos de abastecimento. Isso precisar mudar urgente”, destaca. O carreteiro conclui dizendo que só a tecnologia dos veículos não adianta nada se o motorista não tiver amor à profissão, independente do caminhão que ele dirige.
O baiano Domingos José dos Santos, 47 anos de estrada, baiano da cidade de Elísio Medrado/BA, afirma que dirige caminhão desde os 14 anos de idade. Diz que permanece cerca de 20 dias nas estradas transportando fralda, papel higiênico, sabonete e absorvente, entre outros produtos de higiene, da cidade de Camaçari, na Bahia, para todo o Nordeste. Para ele que já teve oportunidade de dirigir vários caminhões, a tecnologia melhorou muito, mas acha que o ideal mesmo seria se melhorassem a média de consumo, pois tem opinião de que os caminhões consomem muito óleo diesel.
Santos comenta que fez vários cursos no Sest Senat, inclusive o de MOPP. Lembra que os instrutores explicaram bem as novas tecnologias e a gestão de direção econômica. “Aprendi muita coisa e venho praticando até hoje, mas mesmo assim não é o suficiente para redução do consumo de combustível”, relata. Ele diz que está satisfeito com seu caminhão – o qual tem mais de 30 anos de uso -, mas reclama dos valores dos fretes e do óleo diesel.
“Desde que meu caminhão foi fabricado, até os dias de hoje, as tecnologias foram avançando, mas o governo não está dando esta oportunidade para a categoria ter um caminhão novo”, desabafa. Acrescenta que todo caminhão novo possui tecnologia avançada e oferece mais conforto, permitindo que o carreteiro viva mais feliz. Santos fala do melhor acabamento, do maior espaço na cabine e do desempenho que possibilita fazer as entregas mais rapidamente, porém, não deixa de citar que custam muito caro e consomem muito combustível.
Em sua visão, tanta tecnologia também não é o ideal cita como exemplo o seu caso, que não está satisfeito com o rastreador do seu caminhão. “Só incomoda a vida da gente. Bloqueia sempre. Quando estamos saindo do posto de abastecimento e entrando na rodovia, o sistema bloqueia e aí o caminhão fica parado até que ele desbloqueie. Podemos até causar um acidente. Além disso, não tem 100% de cobertura”, reclama.
Para o mineiro de Teófilo Otoni, Luiz Carlos Teixeira, 49 anos de idade e há 30 na profissão, o dia a dia na estrada está cada vez mais difícil. Ele – que carrega todo tipo de carga em seu caminhão, na rota de São Paulo para toda a região Nordeste – reclama que não tem pontos de paradas nas rodovias e além disso, a Polícia Rodoviária Federal está parando os motoristas para fiscalizar para-choque, pneus, se tem caixa de cozinha com gás, enfim, várias coisas, para complicar ainda mais a vida do motorista de caminhão.
Mesmo reclamando das dificuldades da profissão, Teixeira acredita que a tecnologia tem constantemente melhorado os veículos. Entretanto, admite que seu caminhão – fabricado em 1999 – atende no que ele precisa. “Oferece conforto e é econômico na medida do possível”, diz. Diz que o ar-condicionado é um item fundamental e na sua cabine conta ainda com uma cama grande, televisão e DVD. “Com o ar-condicionado a gente não sente tanto a viagem, porque o que quebra mesmo a gente é o calor”.
Teixeira diz que as autoridades não têm ideia do consumo destes veículos, que chegam a fazer apenas 2,5 quilômetro por litros de diesel, item que consome 70% do valor frete. “Nem pneu, bateria ou manutenção do caminhão é vilão no transporte como o óleo”, aponta. Em relação à segurança nas rodovias, tem opinião de que a frota de caminhões cresceu muito e não adianta melhorar a tecnologia em prol da redução de acidentes. Para ele, o que tem de ser feito é melhorar as condições das estradas e instalar locais para descanso do motorista. “Isso sim iria contribuir muito para a redução de acidentes”, finaliza.
Aos 39 anos de idade e 20 de estrada, Sadraque Misael – que transporta contêineres para o interior da Bahia e faz, praticamente, uma viagem por dia – a tecnologia avançou demais, mas o que falta é política para a categoria. Diz que as montadoras avançaram nas tecnologias de seus produtos, mas as estradas ficaram esquecidas. Acrescenta que não adianta ter radar e controle eletrônico de velocidade ao longo das rodovias se elas não oferecem condições de segurança. “Precisamos de ter condições para trabalhar. É a mesma coisa que ter uma casa bonita numa rua sem asfalto, de difícil acesso, no meio do matagal”, compara.
Apesar de ter um bom caminhão, com cama, som e ar-condicionado, o câmbio ainda é manual. Em sua visão, apesar de seu cargueiro não estar munido de tanta tecnologia avançada, ainda dá para rodar muito bem com ele. Comenta que se tivesse condições compraria um modelo com piloto automático, com caixa automatizada e sem embreagem, pois estes itens ajudam muito no dia a dia. “Imagine uma cabine com cama bem grande, banco a ar e frigobar ou geladeira embaixo da cama? Infelizmente ainda é um sonho, mas quem sabe um dia nosso Pai Celestial nos atenda”.
Sadraque diz que está sempre conectado à internet, por isso julga ser fácil de ficar bem informado sobre os lançamentos, e quando tem oportunidade faz test- drive. “Sou muito curioso em conhecer novidades, mas isso também aumenta mais o desejo, pois com um caminhão desses novos, repletos de tecnologia, ganhamos mais tempo e mais dinheiro, além de crescimento profissional”, reconhece.
No entanto, ele adverte que não irá adiantar tanta beleza e tecnologia, se dentro de 10 ou 20 anos o governo não der condições para o carreteiro de comprar um caminhão novo. “O caminhão poderá andar sozinho, mas não por depender apenas de tecnologia e sim pela falta de profissionais do mercado. “É a mesma coisa você tomar banho, se perfumar e vestir uma roupa rasgada”, compara.