Ford Caminhões anuncia saída do segmento de caminhões no Brasil e na América do Sul. Decisão encerra um longo ciclo de produção no Brasil de modelos das linhas F e Cargo. Montadora fechou 2018 com 8.269 unidades emplacadas e garantiu 11% participação para a marca
Por: João Geraldo
Fotos: Divulgação
O que há mais de um ano se ouvia de um e de outro jornalista do setor de transporte – e às vezes até de profissionais de dentro da própria indústria de veículos pesados – sobre a saída da Ford do segmento de caminhões, no Brasil e América do Sul, finalmente se confirmou no último dia 19 de fevereiro. Além dos veículos de carga, o anúncio oficial incluiu também que a empresa deixaria de comercializar os carros de passeio Focus e Fiesta.
A confirmação do encerramento da produção de caminhões provocou grande repercussão no setor de transporte rodoviário de cargas. Com três versões da linha F- (F-350 e F-4000 4×2 e 4×4), mais 34 da linha Cargo (sendo 13 delas automatizadas), a montadora havia encerrado o ano de 2018 com 8.269 caminhões emplacamento.
Esse total garantiu 11% do mercado total de caminhões a partir de 3,5 toneladas de PBT para a marca. Em 2018, todas as marcas juntas tiveram 75.987 unidades licenciadas. Os números, divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos automotores (Anfavea) tem como fonte o Renavam/Denatran. Conforme foi anunciado, a decisão de deixar o mercado de caminhões foi tomada após vários meses de busca por alternativas e que incluíram até a possibilidade de parcerias e venda da operação. Ainda segundo explicação da montadora, a manutenção do negócio exigiria um volume expressivo de investimentos para atender às necessidades do mercado.
O presidente da companhia disse estar ciente de que essa decisão teve um impacto significativo sobre os mais de 2.500 funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo e afirmou na ocasião que nos próximos haveria um trabalho com os parceiros da montadora. Ainda segundo o executivo, a Ford vai atuar com concessionários e fornecedores, além de manter apoio aos clientes no que se refere a garantias, peças e assistência técnica.
LEGADO DE MAIS DE 60 ANOS
O primeiro caminhão da marca produzido no Brasil, o Ford F-600, tinha motor importado V8 de 4,5 litros, movido a gasolina e 167cv. O modelo era montado na fábrica de São Bernardo do Campo com 40% de nacionalização e chegou ao mercado em 1957. No mesmo ano, a montadora lançou a picape F-100; No ano seguinte ( 1958) produziu o primeiro caminhão com motor nacional a gasolina. Era o V8 Power King, que equipou a Série F até 1977. Em 1959 foi lançado o caminhão F-350, e em 1961 o F-600 equipado com motor diesel fabricado pela Perkins.
O primeiro caminhão Ford 6X4, o F-22000, chegou ao mercado no início dos anos 80. Na ocasião, os modelos médios passaram a contar com câmbio de 5 marchas. Em 1985 aconteceu o lançamento da Linha Cargo, cujo projeto havia começado a nascer em 1981. A proposta da Ford era produzir caminhões médios e pesados com tecnologia e durabilidade capazes de competir internacionalmente. Em 1987, a Ford uniu-se à Volkswagen formando a Autolatina.
A linha Cargo com a nova cabine (a atual, exceto dos modelos leves) foi lançada em 2013, cujo projeto global foi desenvolvido em estúdios de design e centros de engenharia de Camaçari/BA, São Bernardo do Campo e Tatuí/SP, tudo com suporte de unidades dos Estados Unidos e Europa. Com a nova cabine vieram também os modelos que marcaram o ingresso da montadora no segmento de pesados, com versões Cargo 2042 (4×2) e Cargo 2842 (6×2), com capacidade para até 56 toneladas de PBTC.
Os últimos lançamentos da Ford Caminhões foram os modelos semipesados Torqshift, nome que faz referência à transmissão automatizada, com destaque para o Cargo 3031 8×2 apresentada em agosto de 2018. Equipado com motor Cummins de 6.7 litros e 306cv de potência, o veículo – para 29 toneladas de PBT – chegou para complementar a linha de caminhões Cargo Power.
HISTÓRIA
A Ford começou a montar caminhões no Brasil em fábrica instalada no Bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo, em 1957. Além dos veículos pesados, da unidade saiam também automóveis de passeio e tratores. A planta de São Bernardo do Campo entrou em operação em 1967, após aquisição da Willys Overland do Brasil, onde se produzia o Jeep Willys e a Rural, passando depois pelo Corcel, Maverick, Del Rey, Pampa e outros, até o Fiesta, que também não será mais produzido.
Já a operação com caminhões foi transferida para fábrica do ABC Paulista somente em 2001. Funcionando em área de 72 mil metros quadrados, o conjunto industrial abastecia outros mercados como o da Argentina, Chile e Venezuela, além do Brasil. Em 2011, a unidade atingiu a produção de 280 mil veículos. As área produtiva da planta abriga fases de estamparia, submontagem e pintura até a montagem final dos veículos, com equipamentos modernos e robôs automatizados.
