Por Alessandra Sales
Local de grande concentração de motoristas, o Terminal de Cargas Fernão Dias – localizado entre a Vila Maria e o Parque Novo Mundo, na zona Leste da cidade de São Paulo – conta com um estacionamento de caminhão nas proximidades que funciona em terreno da Prefeitura Municipal. Porém, nos últimos meses um boato sobre o futuro da área tem preocupado os carreteiros e tornou-se assunto recorrente no local, pois a falta de um lugar para os motoristas estacionarem os caminhões invibializaria o funcionamento do próprio Terminal, onde se entrega a carga e também se consegue frete para várias Regiões do País.
A falta de informações tem gerado dúvidas aos profissionais do volante. Um deles é o paulista Paulo Rogério Leme, 40 anos, de Bragança Paulista/SP, que disse ter escutado que setembro será o mês limite de funcionamento do local. “A gente fica no meio de tantas informações que não tem como saber se são verdadeiras ou não”, disse. Para ele, os boatos são muitos e confundem muita gente.
Seu colega e xará, Paulo Rodrigues de Moura, 41, de Sapiranga/RS, também comentou especulações sobre o estacionamento e a possível transferência para o Rodoanel. “Nós ficamos aqui e escutamos muitas histórias de companheiros da estrada. Vamos torcer para não acabar com este espaço, porque é melhor parar no estacionamento do que na rua”, compara. O gaúcho reiterou que as condições atuais do local não são as melhores, mas afirma sentir segurança, uma vez que ninguém nunca mexeu em seu caminhão.
Num mesmo cenário de discussões, o agenciador Edson Lopes Bonfim, mais conhecido como Buiú, 42 anos, de Arapoema/TO, disse conhecer a área há anos e, inclusive, chegou a ver um projeto da Prefeitura de São Paulo para a melhoria do local. “Não acredito que tudo isso termine. Pelo contrário, as coisas devem melhorar para todo mundo”, confia. Para esclarecer e desempenhar o papel de informar seus leitores, a Reportagem da Revista O Carreteiro esteve presente no local e se inteirou do assunto e, baseada em fontes ligadas à Prefeitura da Cidade de São Paulo, constatou que a área do estacionamento passará por uma reitegração de posse, o que não significa acabar com ele, como se tem dito por aí. Com a reintegração, por intermédio de uma ação na Justiça, o espaço que hoje já é utilizado voltará para o controle do poder público municipal.
Ainda de acordo com as informações apuradas, a Prefeitura está tomando medidas para que os carreteiros sejam avisados sobre o que se pretende fazer no local do estacionamento. Atualmente, os motoristas pagam R$ 20,00 por caminhão e R$ 30,00 por carreta para estacionar, lembrando que o pagamento é realizado na entrada e o veículo pode permanecer por tempo indeterminado. Porém, quando se fala em uma nova estrutura, o receio é que se pague mais por isso.
De um modo geral, a ação da Prefeitura pretende legalizar o funcionamento da área, que passará a ser administrada por um órgão legal, ainda não definido pela Prefeitura. A legalização será equacionada pela EMURB – Empresa Municipal de Urbanização -, em conjunto com a Subprefeitura de Vila Maria/Vila Guilherme e a SMDET – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho.
Satisfeito ao saber da notícia, o paranaense Marcelo Gardino, 40, Curitiba/PR, transportador de produto químico, acredita que a regularização poderá melhorar muita coisa, a começar pela infraestrutura do local. Para o autônomo, a classe já sofre muito com a ausência da família e com as dificuldades do dia a dia da profissão. “A mudança pode ser boa para todos, é preciso confiar”, explica.
Acrescentou que todos profissionais da estrada dependem de um local para estacionar com tranquilidade, mas descarta postos de serviços como opção. “Parar em posto só se for para abastecer, caso contrário, não é permitido. As pessoas de lá só faltam correr com a gente”, contesta. Resultado disso faz Gardino apostar nas possíveis mudanças com a legalização do estacionamento, mesmo sabendo que isso poderá demorar muito. “Acredito que será melhor, e se tiver que cobrar por isso, fazer o quê, né?”, indaga.
Entre vários pontos de vista, algumas questões abordadas por carreteiros chegam a ser redundantes, quando o assunto é a estrutura. Asfaltar o piso do estacionamento, melhorar a higiene do local, recolhendo o lixo que fica aos olhos de todas as pessoas que passam por lá, e a inserção de novos banheiros são algumas das principais recomendações lembradas pelos motoristas. Em contrapartida, há também a minoria que se diz satisfeita com a situação atual da área, temendo, talvez, o aumento do preço para estacionar.
“Se a área legalizada melhorar e o preço continuar o mesmo, nós não teremos do que reclamar, a menos que o valor passe a ser uma diária, aí complica”, explicou o autônomo Cláudio Santos Oliveira, 35, de São Paulo/SP. Com opinião semelhante, o paulista José dos Santos, 53, Santo André/SP, também espera medidas que favoreçam o carreteiro. “Bom, se para legalizar for também colocar um tijolo e cobrar a mais por isso, não adianta muito”, expressa.
Já o autônomo Gilmar Donizete Gonçalves, 38, Bauru/SP, há 17 anos na profissão, também mostrou satisfação quando perguntado sobre a segurança em parar seu caminhão no local. “Nunca tive problema com segurança, mas não posso esconder meu descontentamento com a falta de higiene do lugar. Tem gente que faz as necessidades no próprio chão do estacionamento, aí junta com o lixo para alagar tudo nos dias de chuva”, finalizou.