Todos os anos, na época da safra do arroz, no Rio Grande do Sul, grande parte dos carreteiros gaúchos sabem que têm frete garantido, até mesmo aqueles com caminhões mais antigos e que não suportam grandes cargas e nem longas distâncias. Tem serviço para todos, dizem. Quem tem caminhão grande transporta para os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro ou Norte e Nordeste. Já aqueles que não querem se arriscar no “tiro longo”, transportam para os silos dos engenhos ou para as cooperativas.

É o caso de André Godinho dos Santos, 33 anos, 10 de profissão, que dirige uma carreta do pai, Claudionor, também carreteiro – que no início do ano transportou soja, milho e algodão em Barreiras/BA, que carregou, este ano, grãos da região de Passo Fundo para o porto de Rio Grande/RS, com um frete garantido e bem remunerado.

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Ele gosta de carregar arroz, porque tem carga o ano inteiro e dá pra ganhar mais do outros tipos de carga seca. Nesse percurso de Passo Fundo a Rio Grande dá para garantir R$ 2 mil por mês, livre de despesas e da manutenção do bruto.

Afinal, como confirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários, de Cachoeira do Sul/RS, Luís Aníbal Vieira Machado, cerca de três mil caminhões da região trabalham exclusivamente no transporte do arroz, em todas as etapas. Segundo ele, o trabalho envolve o carregamento na lavoura para as cooperativas, engenhos, o porto de Rio Grande e para outros Estados.

Ele lembra que a safra do ano passado foi muito boa e as cooperativas precisaram desocupar espaço para estocar a colheita de 2004. Com isso, houve a necessidade de muitos caminhões para viagens para Rio, São Paulo, Minas e para o Nordeste. “Com as safras sempre há um novo alento para os carreteiros da região”, explica Luiz Aníbal.

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O carreteiro Varlei Matos, 46 anos e 28 de boléia, transporta arroz beneficiado de Camaquã/RS para o Rio de Janeiro num Scania 89. Faz três viagens por mês e na volta leva minério de Cataguazes/MG para uma empresa do município de Guaíba, na Grande Porto Alegre. Não tem problemas com fretes porque trabalha com uma empresa de logística, que sempre lhe garante carga, conforme explica. Ele conta que ganha cerca de R$ 3.300,00 por viagem, mas no final sobram apenas “uns R$ 2mil”. Reclama dos gastos com pedágios, pagamento de “chapas” para a descarga do arroz ensacado.

Varlei Matos gosta de transportar arroz para o Rio de Janeiro. Mas lembra que no final do ano sempre é preciso pagar o dinheiro que o caminhão lhe empresta, a juros muito altos. Porque, segundo ele, não se ganha dinheiro dirigindo. “O caminhão apenas empresta, mas toma de volta no fim do ano”, brinca.

Outro carreteiro que trabalha no transporte de arroz é Mauro Sérgio de Jesus, 29 anos e 10 de estrada. Ele é catarinense, de Maracajá, e dirige um bitrem carregado de grãos para o município de Forquilhinha/SC onde o produto é beneficiado para depois ser transferido para outros Estados. Ele só lamenta quando precisa viajar para o Norte e Nordeste por causa das más condições das estradas e das dificuldades para a entrega de carga parcelada, transportada em sacos de 30 quilos. Sempre precisa recorrer aos “chapas” e com muito cuidado, “afinal, é assalto e violência por todos os cantos”, afirma. Por isso, sempre procura seguir a orientação de colegas da estrada e manter um grupo de ajudantes conhecidos nos lugares onde costuma descarregar. Quando transporta o arroz a granel, “daí é moleza, é só botar na rampa ou abrir a válvula no piso da carreta e pronto, a descarga é feita num instante e sem esforço”.

Mauro Sérgio faz parte de uma família de carreteiros, pai e irmãos, todos na estrada. Conta que trabalhou com caçamba e como motorista de ônibus, mas não deu certo. Agora está feliz dirigindo o bitrem com arroz. “Uma beleza”, garante.

Já Luís César Heinz, 37 anos, sete de profissão, ainda não chegou a pegar gosto pelo transporte de arroz. Ele começou este ano neste tipo de transporte e na ocasião tinha feito apenas um carregamento, de Uruguaiana para um engenho, em Camaquã.

Gostou, pois o frete foi bom e a viagem rápida. Depois disso acertou com uma empresa de Rio do Sul/SC – sua terra natal – para transportar a safra de fumo para as indústrias beneficiadoras de Santa Cruz do Sul/RS, num trabalho praticamente garantido até o final da safra. No retorno ela conta que leva ferro – sem trocadilho – para a construção civil, para os municípios do Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Confessa que está curioso com a propaganda que os amigos fazem do arroz e quer experimentar, mesmo que seja em viagens curtas.

O carreteiro Sérgio Garcia Pagini, 46 anos e 18 como motorista de caminhão, admite que não quer ficar longe de casa, na Linha Dona Francisca, interior do município de Barão do Triunfo/RS, e trabalha por perto. Como é uma região agrícola, sempre tem bastante frete. Enquanto aguarda o chamado de um amigo granjeiro para o transporte do arroz para a cooperativa, Pagini carrega melancia para a Ceasa, em Porto Alegre. “Mas de olho no arroz, porque sabe dá uns trocados a mais.